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'Retrospectiva' 2025: o que 'aconteceu' no ano que está começando

do UOL

Colunista do UOL

02/01/2025 15h37

Era tão generalizado o pessimismo com a economia no começo do ano que o resultado concreto dos principais indicadores econômicos, apesar de piores em relação ao período anterior, terminaram 2025 melhores do que os economistas projetavam.

Repetindo, mais uma vez, períodos recentes, os analistas foram surpreendidos por números melhores do que os previstos. Depois de tantas surpresas, já não foi surpresa que não tenham acertado as estimativas.

É verdade que agora foram pequenas as diferenças entre o que ocorreu de concreto e o que foi projetado.

O PIB (Produto Interno Bruto), por exemplo, avançou 2,8% ante previsões de expansão de 2%, no início do ano;

Medida pela variação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), a inflação fechou em 4,7%, contra projeções de 5%, 12 meses antes;

A cotação do dólar encerrou o ano com a moeda americana valendo R$ 5,50, pouco abaixo de R$ 5,96, previstos há um ano.

Atividade se manteve positiva

A atividade econômica continuou relativamente aquecida ao longo da primeiro metade do ano, só passando a esfriar com maior nitidez a partir do segundo semestre.

Novamente impulsionada pela atividade agropecuária e extrativa mineral — petróleo e minério de ferro, também favorecidos pelo real mais desvalorizado —, a economia ainda se beneficiou, nos primeiros meses, pelo impulso que transbordou do crescimento no ano anterior.

Além disso, obedecendo ao que costuma ocorrer, os efeitos restritivos da política de juros altos, só se fizeram sentir de forma mais generalizada a partir do segundo trimestre.

Nesse ambiente, o mercado de trabalho registrou ligeira retração, com a taxa de desemprego avançando para 6,7% da força de trabalho, ao final do ano, contra 6,2%, em 2024. É uma taxa ainda baixa, que permitirá manutenção da massa salarial em níveis estimulantes do consumo, e atraente para determinados tipos de investimento, apesar da piora nas condições de financiamento.


Inflação alta, mas sem descontrole

A marcha da inflação no ano teve momentos de mais estresse no começo do segundo semestre, quando registrou picos de 5,5%, mas acabou recuando depois, para fechar o ano em 4,7%.

Terminou sendo mínimo, portanto, o desvio em relação ao teto do intervalo do sistema de metas, de 4,5%. O detalhe é que, exceto em fevereiro, com o índice mensal variando acima de 1%, reflexo dos aumentos sazonais de virada de ano — tarifas de transporte público, matrículas escolares, tributos etc —, a inflação mensal não passou de 0,5% em nenhum outro mês.

Os analistas erraram, novamente, ao projetarem, no começo do ano inflação próxima a 6%. É possível que não tenham considerado devidamente a acomodação da demanda pela alta dos juros, assim como a ausência de choques de oferta, principalmente em alimentos, por inexistência de fenômenos climáticos desfavoráveis, diferentemente do que ocorreu em 2024, quando uma seca prolongada e disseminada prejudicou as lavouras.

Dólar mais alto, obviamente, pressionou a alta de preços, mas o efeito não foi homogêneo, atingindo mais bens industriais e, apenas em parte, alimentos, cuidados pessoais e transporte.

Do outro lado da moeda nacional mais desvalorizada ante o dólar, o setor externo continuou a mostrar dinamismo. A balança comercial, que registra o saldo entre exportações e importações de bens e serviços, foi novamente superavitária em quase US$ 80 bilhões.

Também não se pode esquecer, embora alguns esqueçam, que inflação é fenômeno que reflete variações de preços entre dois momentos — não apenas preços altos. O dólar pode ter pressionados preços, fazendo-os ficar mais altos, mas a variação, depois de um pico, tende a pode não ser da mesma magnitude.

Trump fica no meio do caminho

Falar em dólar, a economia americana reagiu relativamente bem às ações concretas do presidente Donald Trump. A verdade é que as promessas meio apocalípticas de campanha foram moderadas depois que o novo presidente ocupou o salão oval da Casa Branca.

A imposição de tarifas de importação, por exemplo, restringiram-se basicamente a produtos chineses, e nem de longe se tornaram universais, como prometido. Também as reduções de impostos foram menos amplas do que alardeado e o fato é que a arrecadação federal não caiu.

Isso refletiu um comportamento melhor da atividade econômica, cujo crescimento chegou, no fim do ano, a 2,5%, contra previsões de expansão de 2%, com taxa de desemprego em 4%, baixo para os padrões americanos, entre outras razões para redução do contingente de mão de obra imigrante.

No fim das contas, entre fazer o que prometia, o que levaria a uma valorização do dólar, e manter a moeda menos valorizada, para ajudar nas exportações e na contenção de importações, como desejava, Trump ficou no meio do caminho.

Assim, os núcleos da inflação americana se contiveram perto da meta, ligeiramente acima de 2%, permitindo ao Fed (Federal Reserve, banco central americano), que leva a sério o mandato para manter a economia em bom nível de atividade, fazer três cortes nos juros de referência ao longo do ano.

Juros caem e fiscal na mesma

Um dólar menos valorizado mundo afora abriu espaço para o Banco Central brasileiro moderar as altas de juros básicos, a partir do segundo semestre. Em linha com um desaquecimento da economia, também causado pelo efeito defasado dos juros altos meses antes, foi possível iniciar um ciclo cauteloso de cortes na taxa Selic, depois de um pico de 14,75% até o meio do ano.

No campo das contas públicas, as incertezas continuaram alimentando o mais acirrado debate sobre a condução da economia. O governo, sob pressão contínua no campo fiscal, fez mais cortes de gastos, ampliou a "limpeza" de despesas, depois do pacote considerado tímido de 2024, e conseguiu obter novo recorde de arrecadação.

Mas o ano ainda terminou sem o equilíbrio prometido pelo governo, com déficit primário um pouco inferior ao 0,5% do PIB do ano anterior e aumento da dívida pública, embora em marcha menos intensa do que a prevista na virada do ano anterior.

Diferentemente do que alguns imaginavam, o ano de 2025, na economia brasileira, foi um período de uma certa acomodação, em relação às políticas e medidas tomadas nos dois primeiros anos deste terceiro mandato de Lula.

Não ocorreu em 2025, em resumo, o desastre que muitos previram na virada de 2024, nem teve lugar o início de um ciclo sustentado e equilibrado de crescimento. A economia, enfim, se aguentou. A ver o que virá no ano eleitoral de 2026.

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Entre os riscos e os desafios que nos esperam em 2025, a coluna, de volta do futuro imaginado no texto acima — baseado num necessário, mas moderado otimismo —, deseja o melhor Novo Ano a seus leitores!

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