Onipresença e facilidade: veículos são cada vez mais usados como armas
O atropelamento em massa em Nova Orleans (EUA) que matou 15 pessoas e feriu outras 35 é o mais recente de uma série de ataques envolvendo veículos pelo mundo.
O que aconteceu
Tática de utilizar veículos em práticas terroristas tem sido comum. Segundo o FBI, organizações e indivíduos extremistas têm frequentemente usado veículos para atos terroristas, especialmente quando há acesso limitado a explosivos ou armas.
Objeto cotidiano vira arma letal. Segundo estudo publicado no British Journal of Criminology e divulgado no jornal The New York Times, esses ataques transformam "um objeto cotidiano e sem graça em uma arma letal, semi-estratégica". Assim, "atores marginais" podem "atacar o coração dos centros urbanos e semear medo na sociedade mais ampla".
Historicamente, o uso de veículos não estava relacionado ao terrorismo. Um dos casos mais antigos citado pelo The New York Times é o de Olga Hepnarová, uma mulher tchecoslovaca de 22 anos que matou oito pessoas em Praga no ano de 1973. O ataque, segundo ela, foi uma resposta à destruição que outras pessoas haviam lhe causado.
O uso de carros para praticar o terror começou em meados de 1990. Isso é o que aponta um estudo do Mineta Transportation Institute, da San Jose State University (EUA). Entre 1963 e meados de 2019, foram cerca de 184 ataques, com a maioria ocorrendo em Israel e na Cisjordânia.
Com espaços fechados mais protegidos, as ruas se tornaram alvos fáceis. Uma explicação para o aumento desse tipo de ataque é que alvos potenciais, como aeroportos ou prédios públicos, começaram a ganhar mais proteção após os ataques de 11 de setembro. Desse modo, os agressores optaram por ocupar as vias públicas, que estão mais vulneráveis, para executar as ações.
Al Qaeda encorajou o uso dos veículos. O grupo extremista publicou um artigo em 2010 defendendo o uso de automóveis "para atropelar os inimigos de Allah". No entanto, a prática só se popularizou anos depois, com o Estado Islâmico.
Casos não estão restritos a um único país. Há registros de ataques terroristas utilizando veículos em diversas localidades como Nova York (EUA), Nice (França), Charlottesville (EUA), Berlim (Alemanha) e Zhuhai (China).
Barreiras ajudam, mas não resolvem problema
Autoridades podem investir em barreiras nos espaços públicos. Segundo o The New York Times, postes curtos e robustos podem ser uma alternativa para barrar um automóvel antes que ele atinja uma multidão ou um prédio. A prefeitura de Nova York anunciou que instalaria essa estrutura — chamada de bollard, em inglês — em locais de alta visitação. Antes do ataque, as autoridades de Nova Orleans estavam implementando os bollards em um trecho da cidade.
Caso na Alemanha mostra vulnerabilidade das barreiras. Apesar do governo ter reforçado a segurança em mercados após ataque em Berlim durante o Natal em 2016, um agressor conseguiu evitar as medidas de segurança e atingir centenas de pessoas neste ano. Um atropelamento em uma feira de Natal deixou cinco mortos e 41 feridos graves no dia 20 de dezembro. Segundo o superintendente da polícia de Nova Orleans, o agressor da noite do Ano-Novo também conseguiu "contornar as barreiras".