Ucrânia encerra trânsito de gás russo que passa por seu território: qual o impacto para a Europa?
O contrato que autoriza as exportações de gás russo pela Ucrânia termina na noite desta terça-feira (31), e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, não quer renovar este acordo com a Rússia. Quais são as consequências para a Europa?
Stéphane Geneste, da RFI em Paris
Após quase três anos de guerra na Ucrânia, o gás russo continuou a transitar pelo país para chegar ao continente europeu. Apesar de vários pacotes de sanções contra Moscou, nenhuma medida foi tomada contra o produto, que continua sendo consumido em muitos países europeus.
Antes do início da invasão da Ucrânia, a Europa dependia do gás russo para garantir cerca de 40% do seu abastecimento e grande parte do produto transitava pela Ucrânia. Hoje, essa oferta gira em torno de 15%.
"O fim do trânsito de gás russo através da Ucrânia terá pouco impacto no abastecimento europeu porque o volume que passa pelo país é muito baixo", analisa Anna Créti, professora de Economia na Universidade Paris-Dauphine.
Segundo ela, a União Europeia também se organizou para garantir o abastecimento e ter gás em quantidade suficiente para não depender do gasoduto russo.
"O comércio do gás russo foi substituído pelo comércio do gás liquefeito, vendido pelos Estados Unidos e outros países, como a Noruega ou nações da África do Norte, que já eram fornecedores", explicou à RFI.
Na Ucrânia, 22.000 quilômetros de gasodutos foram construídos para conectar a Rússia à Europa. A rota ucraniana é essencial porque abastece diretamente os países europeus. Em média, 15 bilhões de metros cúbicos de gás russo usam essa rota por ano para chegar ao seu destino.
Riscos para Eslováquia e Moldávia
A Eslováquia é o país que poderia ser mais afetado por esta medida, já que o gás russo representa cerca de 90% de suas importações. A situação é equivalente para a Moldávia, que depende de 70% do trânsito ucraniano de gás russo.
É provável que haja aumento nos preços do produto nesses dois países, mas por pouco tempo, já que existem outras soluções. O gás pode chegar por navio ou através do gasoduto Turkstream, que começa na Rússia, atravessa o Mar Negro e termina na Turquia.
Em quase três anos de guerra entre a Ucrânia e a Rússia, os europeus tiveram tempo para diversificar suas formas de abastecimento, mas é difícil abrir mão do produto russo, que tem um menor custo. Apesar disso, Bruxelas espera que, até 2027, ele não seja mais importado pelo bloco.
O gás do norte da África ou do Azerbaijão são duas das alternativas, além da Noruega e dos Estados Unidos. Os dois países foram os principais fornecedores de gás para a Europa no ano passado.
Em 2023, os americanos chegaram a se tornar os principais exportadores mundiais de GNL, gás natural liquefeito. Essa mudança preocupa os russos até agora ocupavam uma posição dominante nesse mercado.