A inflação, medida pelo IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), terminou 2024 com alta acumulada de 4,7%, pouco acima do teto do intervalo de tolerância do sistema de metas, que é de 4,5%. No mês de dezembro, a alta de preços entre 16 de novembro e 15 de dezembro foi de 0,34%, abaixo da mediana das previsões do mercado.
Conhecido como a "prévia" da inflação mensal, o IPCA-15, em dezembro, não deverá retratar bem a variação do índice cheio neste último mês do ano — a "prévia" desta vez não será tão prévia assim. As projeções para o IPCA cheio de dezembro, cujo resultado só será conhecido na segunda semana de janeiro, estão apontado elevação entre 0,5% e 0,6% sobre novembro.
Mais um estouro do teto
A inflação oficial de 2024, se confirmadas as previsões, fechará em torno de 5%. Como em 2021 e 2022, a variação do IPCA, em 2024, superará o teto do intervalo de tolerância.
Fatores pontuais e normalmente voláteis, como, por exemplo, passagens aéreas, com alta menor do que a prevista, contribuíram para moderar o IPCA-15 de dezembro. Mas a qualidade dos movimentos de preços, dentro da cesta do índice, não foi boa, fazendo com que o resultado não refletisse bem as pressões sobre a marcha dos preços.
O índice de difusão, que mede o número de itens entre os quase 400 da cesta do IPCA que sofreram aumentos no mês, saltou para 61,85%, no IPCA-15 de dezembro, acima dos 57,5% de novembro e bem mais alto do que os 51,72% de dezembro de 2023.
Também a média dos núcleos — indicadores da inflação mais estrutural, pois não são computadas variações sazonais ou inesperadas de preços —, com alta de 0,41% em dezembro, embora estável em relação a novembro, ficou bem acima do 0,18% de dezembro de 2023. Calculada pela média móvel de três meses, anualizada, a média dos núcleos subiu para 5,4% (4,6% em novembro), denotando pressões inflacionárias à frente.
Serviços em alta
Refletindo a economia aquecida, em que o mercado de trabalho se mostra favorável, com baixa taxa de desemprego e resistência à redução de salários, a demanda mais forte pressionou para cima os preços no setor de serviços. A evolução de preços no setor de serviços é observada mais de perto pelo Copom (Comitê de Política Monetária), do Banco Central, porque revela pressões inflacionárias mais diretamente produzidas pelo ritmo da atividade econômica, sem tantas influências externas.
A previsão do economista Fábio Romão, experiente especialista em acompanhamento de preços da LCA Consultores, é de que a alta de preços dos serviços subjacentes — uma espécie de núcleo do setor de serviços — bata em 8,2% em 2024. Nas primeira estimativas de Romão para 2025, a pressão dos serviços sobre a inflação não deve arrefecer, mesmo com taxas básicas de juros nas alturas de 15% ao ano, devendo chegar ao fim do ano que vem com elevação acima de 9%.
Pressão do dólar
Já no caso da alimentação, a expectativa é de algum alívio, não intenso, na alta de preços em 2025. Para 2024, a estimativa de Romão é de alta 8% (mais 8,7% no subgrupo "alimentação no domicílio), com elevação de 1,6% em dezembro. Em 2025, dentro da previsão de inexistência de eventos climáticos desfavoráveis e inesperados, o índice pode avançar em torno de 5%.
Preocupa ainda a marcha dos preços de bens industriais, que, no IPCA, afetam artigos de residência. Isso porque, pelo menos até início de 2025, seus preços serão empurrados para cima pela elevação das cotações do dólar neste final de ano. O mesmo fator deve impulsionar preços de vestuário e itens de cuidados pessoais.