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Dividendos de até 12%: veja melhor bancão para ganhar renda em 2025

Bancos podem pagar bons dividendos em 2025, mas inadimplência é um risco - Shutterstock
Bancos podem pagar bons dividendos em 2025, mas inadimplência é um risco Imagem: Shutterstock
do UOL

Colunista do UOL

27/12/2024 09h21

Juros elevados são uma faca de dois gumes para os bancos brasileiros. Se por um lado existe a possibilidade de aumentar os ganhos com spreads (diferença entre o dinheiro captado e emprestado) no crédito e nos investimentos, há também o risco latente de a inadimplência aumentar, deteriorando não apenas as carteiras de crédito, como prejudicando os lucros das instituições financeiras e, em consequência, os dividendos.

Para o ano de 2025, as perspectivas para a economia brasileira são desafiadoras, com a taxa de juros chegando a 14,75% ao ano, segundo o último Boletim Focus do Banco Central, e inflação em 4,84%. O real também deve desvalorizar bastante frente ao dólar, sendo cotado em R$ 5,90 ao final de 2025, segundo projeções. Diante desse cenário, apenas bancos com inadimplência controlada e carteiras de crédito robustas conseguirão a proeza de continuar remunerando bem os seus acionistas.

Embora nem todo banco seja sinônimo de bom pagador de dividendos, o segmento surge como um "porto seguro" na Bolsa de valores para o próximo ano. Mas existem nítidos favoritos, entre estes o Banco do Brasil (BBAS3) e Itaú (ITUB4), segundo levantamento desta coluna com 8 casas de análise e corretoras.

Um deles deve entregar os maiores dividendos do setor, enquanto o outro é reconhecido pela sua qualidade no crédito e a sua expertise em lidar com períodos macroeconômicos complexos.

Juros e bancos, uma relação complexa

Quando os juros sobem, existe a crença de que os bancos podem rentabilizar mais, dado que vão cobrar taxas maiores para emprestar dinheiro aos clientes. Além disso, os investidores tendem a deixar o dinheiro parado em ativos mais conservadores como a renda fixa, entre estes os CDBs (Certificado de Depósito Interbancário), emitidos pelos bancos, proporcionando maior fluxo de recursos nas instituições financeiras.

Contudo, nem tudo são flores para os bancos. O custo para eles captarem dinheiro no mercado também aumenta, porque provavelmente terão que oferecer aos investidores taxas acima da Selic, em torno a 15% e 16%, reduzindo assim, em alguns casos, ganhos com spreads (diferença entre recurso captado e emprestado), explica Bruno Oliveira, analista CNPI do Projeto Vida de Acionista. Também há a possibilidade de ganhar com os spreads, mas não se aplica necessariamente a todas as instituições.

Outro vilão é o aumento da inadimplência. Com uma inflação ainda elevada e juros altos, os clientes dos bancos podem apresentar dificuldade de honrar com seus empréstimos e financiamentos. O risco é maior em segmentos mais vulneráveis como famílias e pequenas empresas.

Na inadimplência, inclusive, conta muito o histórico do banco em anos passados. Segundo Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research, instituições que historicamente têm boas carteiras de crédito, com inadimplência baixa, devem ter um bom desempenho operacionalmente durante a alta dos juros em 2025. "Para os bancos que já carregam um problema de inadimplência alta, a alta dos juros pode piorar o problema", comenta.

Outro impacto perceptível da alta dos juros é a desaceleração do crescimento das carteiras de crédito que, segundo Quaresma, deve ser comum entre os bancões - como Banco do Brasil, Itaú, Bradesco e Santander- por conta do custo de capital maior e piora da inadimplência.

Oliveira lembra que a redução das carteiras de crédito ocorre pelo desaquecimento da economia. Como os juros estão tão altos, a população opta por fazer menos empréstimos e financiamentos, reduzindo assim a procura por crédito.

Quaresma cita ainda os resultados da tesouraria dos bancos - área responsável pela entrada e saída de recursos e a organização dos gastos. Segundo a analista, diante da volatilidade do câmbio, bolsa de valores e curva de juros fica mais difícil gerir resultados de tesouraria.

Para Felipe Oller, analista da Genial Investimentos, alguns bancos podem sofrer com os resultados de tesouraria diante dos juros elevados. "O Itaú, que costuma fazer proteção (hedge) dos recursos em tesouraria, tende a apresentar perspectivas mais estáveis de crescimento", avalia.

O melhor bancão para dividendos em 2025

Entre os analistas consultados pela reportagem, é consenso de que Banco do Brasil (BBAS3) e Itaú (ITUB4) serão os bancos mais resilientes aos juros elevados. Estes também são os mais indicados para quem busca dividendos em 2025.

A liderança fica com o Banco do Brasil (BBAS3), que reúne seis indicações de oito casas de análise e corretoras consultadas. O dividend yield (retorno em dividendos) projetado para o banco vai de 10% até 12% em 2025. Vale lembrar que se trata de uma instituição estatal, com 50% das ações na mão do governo, o que faz com que a ação carregue sempre um certo risco político, embora amenizado nos últimos anos.

Os analistas enumeram alguns fatores que fazem do Banco do Brasil uma ação vencedora. O primeiro é a diversificação da carteira de crédito. Rafael Ratto, analista do AGF, lembra que até o 3° trimestre de 2024, a carteira de crédito do Banco do Brasil alcançou a marca expressiva de R$ 1,2 trilhão, com um bom equilíbrio entre agronegócio, pessoas físicas e empresas.

Em pessoas físicas, houve destaque para o crédito consignado (aquele descontado automaticamente em folha de pagamento) que cresceu 11,2%. Teve também avanços no consignado INSS, o que demonstrou o foco da carteira em linhas de crédito de baixo risco.

O fato de trabalhar com crédito consignado, maioritariamente para funcionários públicos, já é de por si uma vantagem diante dos juros elevados, avalia Gabriel Duarte, analista da Ticker Research. "Como o desconto já ocorre automaticamente em folha de pagamento, o banco sofre menos impactos com inadimplência dos clientes", explica.

O agronegócio, por outro lado, acaba representando um risco maior. Em 2024, o setor foi impactado por inadimplência de empresas e várias companhias entraram em recuperação judicial.

Segundo Ratto, o Banco do Brasil é referência no agronegócio, mas no 3° trimestre de 2024 sofreu os impactos da crise do segmento que acabaram penalizando seus resultados. "Os executivos do banco reforçaram que o pior em relação a inadimplência já passou, reafirmando que quase a totalidade da carteira de crédito agro possui garantias reais ou mitigadoras de risco", comenta.

A prova de fogo, segundo o analista, será em 2025, onde se comprovará se realmente "o pior ficou para trás". Mesmo com um cenário desafiador, Ratto espera ver crescimento na carteira de crédito do Banco do Brasil, impulsionado pelo segmento de pessoas físicas, que trabalha com produtos mais conservadores como o consignado.

Vale lembrar que o agronegócio também pode acabar sofrendo diante de mudanças climáticas ou quebras de safra. Contudo, se o cenário for favorável para o setor, este pode impulsionar os resultados do Banco do Brasil.

Há outros diferenciais que dão destaque para o banco estatal frente a concorrentes. Um, que é muito elogiado pelo mercado, é a transparência do Banco do Brasil em relação à remuneração dos acionistas. No começo de cada ano, o banco costuma divulgar um calendário de pagamentos, com oito proventos, quatro antecipados e quatro complementares. Nesse cronograma, é possível conferir datas de anúncio, data de corte e data de pagamento dos dividendos ou juros sobre capital próprio, desta forma o investidor consegue se organizar para garantir as remunerações. Além disso, o Banco do Brasil apresenta o payout (parcela do lucro líquido destinado a proventos) com o que trabalhará naquele ano.

Com esses dados fica mais simples para o investidor entender o que esperar do banco no quesito renda passiva. "O investidor pessoa física gosta dessa previsibilidade, desse cronograma muito claro. Isso traz para ele um custo psicológico muito baixo", opina Oliveira, do Projeto Vida de Acionista.

Segundo Oliveira, a previsibilidade não se restringe apenas ao calendário divulgado. Observando o perfil de remuneração do Banco do Brasil nos últimos anos, fica nítido como a instituição cumpriu as suas projeções, tanto para lucro líquido quanto para dividendos.

O analista destaca ainda que o Banco do Brasil tem mais de 200 anos de história, ou seja, se provou diante do tempo. Nesses dois séculos, a instituição enfrentou momentos bons, ruins, crises econômicas e conseguiu sobreviver. Nesse período também, segundo Oliveira, o banco conquistou a maior base de dados financeiros da população brasileira, o que é uma vantagem competitiva frente a concorrentes, porque o Banco do Brasil conhece bem seus clientes.

Apesar de todos os seus diferenciais, Ratto destaca que as ações do Banco do Brasil seguem extremamente descontadas, não apenas comparado aos principais concorrentes como a sua média histórica. Observando o indicador preço sobre lucro (P/L) da ação BBAS3, este é de 4,82. Enquanto outros grandes bancos apresentam um P/L superior de até 7,81.

Ter as ações baratas sempre foi uma caraterística do Banco do Brasil, por conta de ser um banco estatal. Embora por muitas vezes o desconto do papel foi exagerado. Em contrapartida, é uma boa oportunidade para o investidor garantir um dividend yield (retorno em dividendos) maior.

Ratto, por exemplo, espera que o Banco do Brasil distribua 45% do seu lucro líquido (payout) em dividendos em 2025, com um dividend yield que pode chegar aos 12%.

Já Oliveira espera o mesmo payout de 45%. Para os dividendos, a projeção é de R$ 2,50 líquidos por ação, equivalente a um dividend yield de 10%.

O segundo lugar ficou com o Itaú

Com cinco indicações entre as oito instituições consultadas, o segundo lugar ficou com o Itaú (ITUB4). Mas o banco privado não perde em quase nada para o Banco do Brasil (BBAS3). Observando o dividend yield projetado em ITUB4 para 2025, há quem acredite que este possa alcançar também os 12%, da mesma forma que o banco estatal, impulsionado por um dividendo extraordinário.

A diferença entre Banco do Brasil e Itaú está no desconto das ações, geralmente os papéis do Itaú costumam negociar mais caros por conta dos bons fundamentos e resultados consistentes.

O Itaú é considerando também o grande vencedor em períodos de crise econômica e juros elevados, porque possui uma inadimplência controlada e uma carteira de crédito exposta a setores mais conservadores.

Ratto, do AGF, lembra que até o 3° trimestre deste ano, a carteira de crédito do Itaú atingiu os R$ 1.278 trilhão, sendo que mais de 80% desta estava concentrada em clientes com rating A+, com destaque para grandes empresas, que possuem menor inadimplência.

Em 2024, o Itaú apresentou forte crescimento da sua carteira de crédito, com projeções que esperavam uma alta entre 9,5% e 12,5%. Para 2025, o crescimento deve continuar, mas em menor proporção, avalia Victor Bueno, analista da Nord Research. Apesar disso, ele enxerga a carteira crescendo mais do que em 2023, quando avançou 3,1% ante 2022.

Para Bueno, o Itaú possui uma carteira de crédito bem estabelecida, estabilizada e consolidada. Além disso, destaca a inadimplência do banco em níveis muito baixos e resultados acima das expectativas do mercado. "O banco não se beneficia diretamente da alta dos juros, mas vai entregar um crescimento maior dos lucros e mais resiliente do que Bradesco e Santander", comenta.

Bueno também está confiante nos dividendos a serem pagos pelo banco, que acredita também serão maiores do que 2024, por conta de um dividendo extraordinário que o banco pode vir a distribuir no 1° trimestre de 2025.

Larissa Quaresma, da Empiricus Research, também está de olho no dividendo extraordinário e acredita que com ele, o Itaú possa chegar a distribuir cerca de 50% do seu lucro em 2025. Um payout elevado, considerando o histórico de payout da instituição em anos passados de 30%.

A analista destaca que além de ter uma política de crédito mais conservadora, o que torna o Itaú mais resiliente a alta da inadimplência, o banco é reconhecido no mercado por sua gestão de tesouraria, desempenhando melhor do que os pares em momentos de estresse econômico. Em relação a spreads, por exemplo, Quaresma acredita que o Banco do Brasil tende a ter mais dificuldade para reajustar taxas, enquanto o Itaú não sofre deste problema.

A visão do mercado para o Itaú é amplamente positiva. Os analistas se dividem apenas no tipo de ação a comprar. Enquanto alguns como Quaresma preferem as ações preferenciais ITUB4 em busca de retornos com dividendos de até 12%, outros como Bueno e Ratto preferem se expor as ações ordinárias ITUB3, por considerarem que são mais baratas. O dividend yield projetado nos papéis ITUB3 vai de 10% até 10,2% em 2025.

Vale lembrar que o banco Itaú também oferece uma boa periodicidade de pagamentos aos investidores. Ele remunera mensalmente os acionistas com juros sobre capital próprio (JCP) de R$ 0,018 por ação ordinária e preferencial. Além de fazer distribuições complementares e extraordinárias no decorrer do ano.

É possível ainda encontrar oportunidades em alguns bancos menores e empresas do setor financeiro. Saiba mais nesta reportagem.Mas os analistas recomendam estes ativos apenas para investidores mais experientes, diante do cenário adverso que 2025 representa. Para os iniciantes, a recomendação é se manter nos bancões.

Fuja destes bancos

Não necessariamente são armadilhas de valor ou bancos ruins de fundamentos, mas diante de um cenário macroeconômico difícil para 2025, os analistas recomendam ter cautela com instituições como Santander (SANB11) e Bradesco (BBDC4).

O principal motivo é o aumento da inadimplência. Renato Reis, analista da Blue3 Research, lembra que o Santander já sofreu muito com isso no passado, conseguiu arrumar a sua carteira de crédito, viu o seu ROE (Retorno Sobre Patrimônio Líquido) se recuperar até mais do que 10%, mas seu histórico condena. Como já se mostrou vulnerável na concessão de crédito no passado, o analista acredita que o banco pode errar novamente.

A mesma lógica se aplica para o Bradesco, que tem ainda um risco maior do que o Santander, de ver seu lucro pressionado pela inadimplência, por estar em fase de reestruturação ainda não concluída. Para Regis Chinchila, head de research da Terra Investimentos, o Bradesco pode acabar entregando dividendos mais baixos, diante do impacto da economia adversa e com necessidade de aumentar as provisões para devedores duvidosos. "Bradesco se encaixa em uma carteira de reestruturação, com visão de longo prazo, mas não serve para dividendos", pontua.

Chinchila elenca também o Banco BMG (BMGB4) que também pode vir a ser afetado pela inadimplência e não conseguir segurar os dividendos.

Duarte, da Ticker Research, aponta ainda que o Bradesco pode ser uma alternativa para dividendos e ganhos com valorização das ações a partir de 2026, mas em 2025 seria um pouco arriscado investir no papel.

Como as ações destes bancos podem sofrer na bolsa em 2025 é muito provável que o dividend yield (retorno em dividendos) aumente, por estar relacionado ao preço da ação. A lógica é que quanto mais barata a ação, maior o dividend yield. Contudo, eles advertem para o investidor não acabar se iludindo com esses retornos elevados, dado que estes bancos não vão conseguir sustentar esses dividendos no médio e longo prazo.

O que diz o mercado?

Além das 8 instituições consultadas por esta reportagem, levantamento exclusivo do TradeMap para o UOL mostra o consenso do mercado para o dividend yield (retorno em dividendos) e preço-alvo (preço até o qual a ação pode se valorizar) em 2025, para bancos e empresas do setor financeiro. Foram consideradas projeções de 22 instituições como bancos, corretoras e casas de análise.
As instituições que lideram em maiores dividend yields para 2025 são Banco do Brasil (BBAS3), B3 (B3SA3), Banrisul (BRSR6) e Itaúsa (ITSA4), todos com potencial de entregar dividendos de dois dígitos. Veja abaixo:

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