Resgate no mar: os riscos da bolha inflável que deixou criança à deriva
Uma criança foi resgatada por uma lancha terça-feira (24) após ficar à deriva em alto mar dentro de uma bolha inflável, na Praia do Lázaro, em Ubatuba, no litoral de São Paulo. O menino ficou bem, de acordo com o relato de uma pessoa que testemunhou o resgate.
Ao UOL, Karoline Burunsizian Magalhães, capitã da Polícia Militar e porta-voz do GBMar (Grupamento de Bombeiros Marítimo), disse que um em cada três afogamentos começa com objetos como bolhas e colchões infláveis:
Tanto as bolhas quanto os colchões infláveis são totalmente contraindicados pelo Corpo de Bombeiros para o entretenimento de crianças, adolescentes e até mesmo adultos.
O que aconteceu:
O menino de cerca de oito anos brincava no mar dentro de uma bolha inflável alugada, mas o vento e a correnteza acabaram afastando o brinquedo da costa.
O marinheiro Rafael Graça do Prado, de 32 anos, conta que estava passeando com os filhos de lancha quando viu a bolha inflável. "A gente conversou com o menino, eu estava preocupado se ele estava conseguindo respirar ou não, porque essa boia é perigosa", explicou. "Ela tem um tempo que você pode respirar dentro dela. Eu fui acalmando ele, e foi a hora que minha filha começou a filmar".
"O menino estava muito desesperado, ele estava se batendo", contou Rafael. "Ele estava com muito medo lá no meio do mar sozinho. Eu perguntei se ele estava respirando bem e ele deu um joinha. Lá dentro ele gritava, mas não dava para entender muito bem".
Os tripulantes da outra lancha que aparece no vídeo que viral conseguiram amarrar um cabo ao redor da bola e trouxeram o menino até a costa. Eles evitaram abrir a boia por medo de que a criança se afogasse, de acordo com Rafael. "Trazemos ele para a praia e chegou aqui, a família estava bem desesperada, chorando", lembrou.
Rafael faz passeios de lancha em Ubatuba e afirma que já havia ocorrido outro caso de boia à deriva na cidade. "O pessoal aluga e deixa essa boia aqui na beirinha, segurando por um cabo. Porém, esse cabo soltou e chegou um vento forte, o vento levou a boia. Inclusive, ela já tinha batido nas pedras e ela estava furada, ela estava vazando".
Riscos
Segundo a capitã do GBMar, além do risco máximo de afogamento, existem outros associados a ficar preso e à deriva nesse tipo de objeto: "Há risco de insolação, desidratação, de crises de claustrofobia e de pânico". Ela aponta também os acidentes envolvendo infláveis e embarcações, como jet-skis e lanchas.
Assim como a bolha, qualquer objeto flutuante no mar, passa uma falsa sensação de segurança. Colchões infláveis, boias, pranchinhas de isopor, esses objetos não são seguros. Eles são facilmente arrastados pela corrente, a pessoa na maioria das vezes se desespera, abandona o objeto e acaba morrendo afogada.
Karoline Burunsizian Magalhães, capitã da PM e porta-voz do GBMar
Infláveis são proibidos
Segundo a prefeitura de Ubatuba, não há uma regulamentação para o uso das bolhas e colchões infláveis dentro do mar, ou seja, eles não são autorizados na cidade e podem ser apreendidos por fiscais autorizados.
De acordo com o boletim mais recentes, os bombeiros fizeram 97 salvamentos entre os dias 16 e 22. Foram encontradas 12 crianças.
"Muitas prefeituras já legislaram a respeito e são proibidos os objetos flutuantes na praia", disse Magalhães, que defende a proibição da utilização de objetos infláveis nas praias: "Não existe forma segura de utilizá-los. Eles são para piscinas, para ambientes controlados", aconselha.
*Com informações de reportagem publicada pelo Estadão em 26/12/2024