Menu de fim de ano de venezuelanos tem ansiedade e tensão antes da posse de Maduro
Os venezuelanos estão divididos entre as celebrações de dezembro e a chegada do dez de janeiro. Este dia já está sendo considerado um marco na história recente do país. É quando acontece a posse presidencial. O novo período presidencial irá de 2025 até 2031. Mas, em se tratando da Venezuela, este dia vem carregando de expectativa e de tensão.
Elianah Jorge, correspondente da RFI em Caracas
Os venezuelanos se dividem atualmente entre as celebrações de fim de ano e a expectativa pelo dia 10 de janeiro, data que promete marcar a história recente do país, quando ocorre a posse presidencial de Nicolás Maduro para o mandato que vai de 2025 a 2031. Mas, como em tudo que envolve a Venezuela, a data chega carregada de tensão e incertezas.
Dois candidatos reivindicam a vitória nas eleições de 28 de julho. Maduro foi anunciado vencedor pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), mesmo sem a apresentação de documentos que comprovem o resultado. Por outro lado, o ex-diplomata Edmundo González, de 75 anos, afirma ter vencido com base nas atas contabilizadas por testemunhas opositoras.
"Aqui na Venezuela nunca esperamos o mês de janeiro como agora. De verdade, as pessoas estão ansiosas. O dia 10 é o dia da esperança, da liberdade. Tanto para nós, avós, como para nossos filhos e netos. E também para que voltem os oito milhões de venezuelanos que estão fora do país", disse à RFI um homem que preferiu não se identificar, referindo-se ao número de emigrantes venezuelanos, segundo a ONU.
O medo de represálias faz com que muitos evitem comentar abertamente sobre a situação política. Ainda assim, aguardam os próximos acontecimentos, embora parte da população duvide que a mudança desejada pela oposição se concretize. "Eu tenho fé que isso (a mudança) vai acontecer, mas não vejo fatos concretos. Gostaria que houvesse uma mudança, mas como ela vai se materializar?", questiona outro venezuelano, que também falou sob anonimato.
Oposição à distância
A líder opositora María Corina Machado, temendo ser presa, está afastada da vida pública desde agosto. Na véspera de Natal, ela divulgou um áudio nas redes sociais afirmando estar "em algum lugar da Venezuela". Na mensagem, Machado disse que o Natal não foi como "gostaríamos que fosse", mas pediu firmeza "até o final", frase emblemática da oposição. Ela ainda declarou: "Temos o sagrado direito de escolher nosso destino" e prometeu: "Nos veremos muito em breve nas ruas do nosso amado país".
Por sua vez, Edmundo González também recorreu às redes sociais para lembrar os 1.800 presos políticos no país. "Não podemos esquecer aqueles que, na escuridão das prisões e sob perseguição, continuam lutando por um futuro livre de opressão", afirmou.
Prisões e repressão
Na terça-feira (24), a ONG Observatório Venezuelano de Prisões denunciou o desaparecimento forçado de Luis Tarbay, coordenador internacional do grupo opositor "Mundo com a Venezuela", sequestrado no dia 19. Já a Ong Fórum Penal informou, na quarta-feira (25), que todos os adolescentes presos durante os protestos pós-eleitorais foram liberados. No entanto, mais de 1.800 adultos, incluindo jornalistas, seguem detidos por motivos políticos.
Enquanto isso, Nicolás Maduro prepara-se para assumir seu terceiro mandato, mesmo sob críticas e sem o reconhecimento de países como Estados Unidos e União Europeia. González, que recebeu asilo político da Espanha no dia 20 de dezembro, prometeu retornar à Venezuela em 10 de janeiro para tomar posse como presidente.
Diplomacia em jogo
O governo Maduro tem articulado ações para garantir a posse. Entre elas, a Assembleia Nacional solicitou ao procurador-geral a aplicação imediata da polêmica Lei Simón Bolívar contra deputados opositores eleitos em 2015. A medida, aprovada recentemente, é vista como uma tentativa de blindagem contra adversários.
Pelo menos 35 países já confirmaram presença na posse de Maduro. A Bielorrússia enviará seu vice-primeiro-ministro, enquanto Colômbia e México, antes aliados do chavismo, enviarão representantes de menor escalão. O Brasil, até o momento, não anunciou se enviará algum emissário para a cerimônia. Após tensões recentes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que "Maduro é um problema dos venezuelanos", reduzindo o atrito diplomático.
Economia melhora, mas preços assustam
Apesar da constante desvalorização do bolívar, os venezuelanos formaram filas de última hora para comprar itens natalinos. A economia deu sinais de recuperação: o PIB cresceu 3% em 2024, o melhor índice em nove anos, segundo o FMI. Ainda assim, a inflação anual, estimada em 25,2% pela Ecoanalítica, segue alta, embora distante dos anos de hiperinflação.
Nas ruas, os preços dos alimentos continuam assustadores. Um "pan de jamón" custa entre U$10 e U$ 50 (R$ 62 a R$ 307), enquanto a tradicional hallaca varia de U$ 2,50 a U$ 12 (R$ 15 a R$ 74) por unidade. Para muitos, montar uma ceia natalina é inviável, especialmente com o salário mínimo congelado há três anos.