Belém: Natal na Terra Santa em meio à guerra
Belém: Natal na Terra Santa em meio à guerra - Pelo segundo ano consecutivo, mais importante data cristã é celebrada na cidade berço do cristianismo sob o trauma da devastação da guerra na Faixa de Gaza. Economia local sofre com a falta de turistas e peregrinos.Jesus nasceu em um estábulo humilde em Belém, segundo a história cristã do Natal. O motivo: as hospedarias da cidade não tinham espaço para acolher a família. Mais de 2 mil anos depois, a situação é bem diferente: quase todos os 5 mil quartos de hotel da cidade estão vazios. Faltam turistas. O cenário desolador prejudica não só o setor hoteleiro, mas também os pequenos comércios.
Dono de uma lojinha próxima à Igreja da Natividade, Ramzi Sabella diz ser capaz de se lembrar de praticamente cada turista que visitou seu estabelecimento neste ano. "Há algumas semanas, veio um visitante da Nigéria", relata.
Normalmente, peregrinos cristãos de todo o mundo compram carregadores de celular e paus de selfie em sua loja. O movimento deveria ser grande especialmente agora, no Natal. Mas em tempos de guerra, tudo muda.
"Agora, só alguns locais aparecem de vez em quando, e eles geralmente compram os produtos mais baratos. Eles também já não têm mais dinheiro", explica Ramzi.
Moradores estão abandonando Belém
Desde o início da guerra na Faixa de Gaza, em outubro de 2023, a economia na Cisjordânia – território palestino sob ocupação israelense, onde fica Belém –, sofreu um forte baque puxado pelo turismo, que há décadas é a principal fonte de renda da cidade. A associação hoteleira local relata que a taxa de ocupação de leitos, que antes da guerra era de 80%, está hoje em 3%.
A atmosfera também é triste na Praça da Manjedoura, em frente à Igreja da Natividade. Dali, músicas natalinas deveriam normalmente ecoar por toda a parte antiga da cidade. Mas neste ano o silêncio e a sobriedade imperam: não há canções, árvore de Natal ou decorações. Apenas alguns jornalistas estão na praça para reportar o triste cenário. Pelo segundo ano consecutivo, as celebrações do Natal em Belém ocorrem à sombra da guerra.
Quase 500 famílias abandonaram Belém, segundo autoridades locais palestinas – um número significativo diante de seus cerca de 30 mil habitantes. Mas moradores que ficaram afirmam que muitas mais teriam deixado a região usando vistos temporários de turismo, em busca de trabalho no exterior.
"Mensagem para todo o mundo"
Mas o aumento da pobreza em Belém é só um lado da história. Diante dos mais de 45 mil mortos em Gaza, a verdade é que não há ânimo para celebrações.
"Este ano, oramos em silêncio – e queremos enviar uma mensagem ao mundo inteiro", explica o padre Issa Musleh, da Igreja Ortodoxa Grega. "Condenamos profundamente o que está acontecendo em Gaza."
Mesmo em Belém e em outras partes da Cisjordânia, a situação tem se tornado cada vez mais tensa desde o início do conflito. Isso afeta tanto os 50 mil cristãos da região quanto a maioria muçulmana que vive no território ocupado por Israel.
Segundo as Nações Unidas, mais de 700 palestinos foram mortos na Cisjordânia desde o começo da guerra, enquanto 23 israelenses perderam a vida no mesmo período.
O padre Musleh frisa que, especialmente no Natal, é importante lembrar que Jesus nasceu em Belém para trazer uma mensagem de paz.
Desejo por convivência pacífica
Dadas as circunstâncias, acreditar na mensagem de esperança do Natal nunca foi tão difícil para os cristãos da região quanto agora.
Apesar disso, o garçom Nadeem diz que as pessoas em Belém provam há muito tempo que a convivência pacífica entre diferentes etnias e religiões é possível. Ele trabalha num café, agora vazio, situado numa colina com vista para a Igreja da Natividade. Dali, tem acompanhado a movimentação fraca na Praça da Manjedoura.
Nadeem mesmo é muçulmano, mas estuda em uma universidade cristã. Diz que antes da guerra costumava visitar Israel, a poucos quilômetros dali, onde tinha muitos amigos judeus. "No fundo, todos queremos a mesma coisa", afirma. Uma vida simples e em paz.
Autor: Jan-Philipp Scholz (enviado especial a Belém, na Cisjordânia ocupada)