Novo premiê francês, o 4° apenas em 2024, anuncia lista de ministros sob ameaça de censura
François Bayrou, líder centrista de 73 anos, que se tornou o quarto primeiro-ministro francês apenas em 2024, anunciou a formação de seu governo nesta segunda-feira (23) na esperança de evitar uma moção de censura dos deputados, um executivo ministerial composto, segundo ele, por "figuras da direita, do centro e da esquerda". No entanto, é a direita francesa que parece ter saído vencedora, como esperado, nessa nova composição ministerial.
De nomeações de primeiro-ministro a remodelações, a classe política francesa se acostumou a ter que esperar que o executivo ajuste seu cronograma. "A duração desse processo de seleção ministerial em relação às necessidades urgentes do país e às crises pelas quais estamos passando é insuportável", criticou o deputado da extrema direita francesa, Jean-Philippe Tanguy, na televisão, denunciando 'a mesma velha piada'.
Como anunciado pelo Eliseu nesta segunda-feira, a ex-primeira-ministra da França, Élisabeth Borne, tornou-se a número 2 do governo francês e ministra da Educação Nacional. Jean-Noël Barrot permanece no cargo de Ministro das Relações Exteriores e Sébastien Lecornu fica como Ministro das Forças Armadas. Bruno Retailleau, conhecido pela linha dura na direita francesa, segue como Ministro do Interior. Rachida Dati, de direita, continua comandando a pasta da Cultura.
A influência da direita francesa se confirma ainda com a a nomeação de Gérald Darmanin como ministro da Justiça. Éric Lombard assume a pasta da Economia. E o ex-premiê Manuels Valls entra para o governo no comando da pasta que administra territórios e ex-colônias francesas.
Relacionamento instável com Macron
O novo primeiro-ministro, François Bayrou, é um aliado de longa data do presidente francês, Emmanuel Macron, mas o relacionamento instável entre eles e seu início caótico como premiê prenunciam uma turbulência considerável no executivo francês, que deve continuar sob a amaeça de censura se não conseguir o apoio de uma maioria de deputados no parlamento.
A comitiva de Bayrou havia anunciado no domingo (22) que ele estava "nos estágios finais do ajuste fino de seu governo". Houve várias trocas telefônicas com Emmanuel Macron ainda no domingo, bem como uma reunião à noite no Palácio do Eliseu, segundo a AFP.
"As coisas estão avançando. (...) A estruturação dos principais centros ministeriais foi fixada", antecipou Marc Fesneau, presidente do MoDem no Congresso francês e colaborador próximo de François Bayrou, confirmando que a lista completa dos membros do gabinete deveria ser apresentada 'de uma só vez' e 'antes do Natal'.
Mas a composição do governo francês é um ato de equilíbrio sutil que deve respeitar os equilíbrios políticos, a paridade de gênero e as sensibilidades. Acima de tudo, os ministros escolhidos nesta segunda-feira por Bayrou terão que preparar um orçamento para 2025 com urgência, sob pressão da oposição e dos mercados financeiros.
Os nomes da ex-primeira-ministra Élisabeth Borne e do ex-ministro do Interior Gérald Darmanin haviam previamente sido evocados como possíveis candidatos para a equipe ministerial, assim como o de Xavier Bertrand, presidente da região de Hauts-de-France (norte) e uma figura importante do partido de direita Os Republicanos (LR).
Betrand disse mais cedo nesta segunda-feira, no entanto, que não faria parte do governo de François Bayrou, pois foi "formado com o apoio de Marine Le Pen".
"O primeiro-ministro me informou esta manhã, ao contrário do que havia proposto ontem, que não estava mais em condições de me confiar a responsabilidade pelo Ministério da Justiça devido à oposição do [partido de extrema direita] Reunião Nacional (RN). Apesar de suas novas propostas, eu me recuso a participar de um governo da França formado com o apoio de Marine Le Pen", escreveu Bertrand em um comunicado à imprensa,
Bertrand, anteriormente indicado para a Justiça, era um incômodo para o Reunião Nacional (RN), ao qual se opõe há muito tempo. Ainda mais porque Marine Le Pen aguarda um julgamento de possível inelegibilidade, no julgamento de supostos falsos assistentes no Parlamento Europeu.
"Seria uma escolha muito ruim", pontuou Jean-Philippe Tanguy (RN), que havia confirmado, no entanto, que a entrada de Xavier Bertrand no governo de Bayrou não levaria a uma censura imediata do partido de extrema direita.
Quanto a Gérald Darmanin, um ex-LR que se uniu ao partido de Macron, ele havia declarado publicamente sua candidatura ao Quai d'Orsay, o Itamaraty francês, onde o atual ministro das Relações Exteriores, Jean-Noël Barrot (MoDem), havia dito que gostaria de permanecer. Darmanin assume a pasta da Justiça, no entanto.
Compromisso por escrito
Na esquerda, o ex-ministro socialista François Rebsamen, 73 anos, anunciou mais cedo que estaria "pronto" para fazer parte do novo governo francês, elogiando sua "relação de confiança" de longa data com François Bayrou.
Mas havia pouca ou nenhuma notícia sobre outras figuras de esquerda que poderiam se sentir tentadas a se juntar a ayrou, segundo informações preliminares da agência AFP.
O Partido Socialista (PS) se recusou formalmente a participar do governo e seu líder, Olivier Faure, disse que estava "chocado com a pobreza do que (foi) proposto", sem descartar a possibilidade de censurar o novíssimo primeiro-ministro, um dos primeiros aliados de Emmanuel Macron.
Entre os atuais ministros, esperava-se que Catherine Vautrin (Territórios), Rachida Dati (Cultura) e Sébastien Lecornu (Forças Armadas) permanecessem, provavelmente nas mesmas pastas.
Nesta segunda-feira, o partido LR, da direita, obteve um compromisso por escrito do primeiro-ministro de fazer "economias" orçamentárias e incentivar o "trabalho por todos os meios", que havia sido uma condição para sua participação no governo.
O líder dos deputados da sigla LR se recusou a fazer parte da equipe, pois não conseguiu garantir a pasta das Finanças. Por outro lado, o ministro do Interior, Bruno Retailleau, era cotado para permanecer na pasta, como de fato aconteceu.
No final, a base governamental do centrista François Bayrou se assemelha à de Michel Barnier, de direita, ex-premiê que foi derrubado em 4 de dezembro por uma moção de censura da Assembleia Nacional, após apenas três meses no cargo.
Eo fantasma de uma nova moção de censura parece longe de desaparecer, segundo a imprensa francesa.
(Com AFP)