França faz um minuto de silêncio em solidariedade às vítimas de Mayotte
As bandeiras da França estão hasteadas a meio mastro em todas as repartições públicas nesta segunda-feira (23), quando o país respeita um dia de luto nacional, instituído pelo presidente Emmanuel Macron, em solidariedade a Mayotte. O arquipélago francês do oceano Índico foi devastado há dez dias pelo ciclone Chido. Os ventos fortes destruíram comunidades inteiras e causaram a morte de pelo menos 35 pessoas.
Esta é a primeira vez que a França decreta um dia de luto nacional por causa de uma catástrofe climática. Às onze horas pelo horário local, 7h pelo horário de Brasília, houve um minuto de silêncio em todo o território nacional, observado especialmente nos serviços públicos.
O presidente Macron e a primeira-dama, Brigitte Macron, pararam em solidariedade às vítimas de Mayotte no pátio principal do Palácio do Eliseu, sede da presidência francesa.
O primeiro-ministro recém-empossado, François Bayrou, fez o mesmo no Palácio do Matignon, sede do governo. "Isso significa a nossa solidariedade por todos que precisam de ajuda e mostra que o Estado estará presente para reconstruir Mayotte", afirmou Bayrou diante de um grupo de funcionários públicos. O premiê adiou o anúncio de seu novo governo para o fim desta tarde, em respeito ao luto oficial.
O ministro do Interior em exercício, Bruno Retailleau, contou o que viu em Mayotte. "Eu estive lá para constatar os estragos e nunca pensei em ver um departamento francês tão devastado", disse ele poucos instantes antes de o país inteiro ficar em silêncio. "A população sofre muito com essa grande provação e é nesse momento que precisamos de um Estado pronto a intervir", completou Retailleau.
O ciclone mais devastador dos últimos 90 anos em Mayotte destruiu todas as habitações precárias do arquipélago, no dia 14 de dezembro, causando danos colossais no departamento mais pobre da França. Os serviços de emergência trabalham desde então para restabelecer o fornecimento de água, de eletricidade e as redes de comunicação.
O balanço provisório da catástrofe natural, intensificada pelo aquecimento global, é de 35 mortos e cerca de 2.500 feridos, mas as autoridades temem um número maior de vítimas. As equipes de resgate trabalham ativamente em busca de corpos que podem estar soterrados nas favelas arrasadas pelo ciclone.
"Evitar a anarquia"
O toque de recolher obrigatório noturno continua em vigor. "Cerca de 90% de Mayotte está destruída, 90% das casas não têm telhados. Não temos água, comida e a ajuda ainda chega com dificuldade às certas zonas", lamentou na manhã desta segunda-feira Estelle Youssouffa, deputada de Mayotte, em entrevista à rádio France Inter. "Peço desesperadamente que enviemos o Exército para tentar evitar cenas de anarquia", continuou ela, dizendo estar "profundamente indignada". "Na verdade, não nos importamos com Mayotte e isso, francamente, é grave", disse, emocionada.
A visita do presidente francês a Mayotte, na quinta-feira (19) e sexta-feira (20) foi marcada por tensões durante um encontro com a população. Os moradores criticam a demora da chegada de ajuda e as condições de distribuição de mantimentos e de água. Macron chegou a alegar que se o território não fizesse parte da França, a situação estaria bem pior. As declarações criaram polêmica.
Após visitar a ilha, Emmanuel Macron prometeu uma lei especial para "reconstruir Mayotte" e "acabar" com as favelas, o que poderá levar dois anos, de acordo com o prazo anunciado pelo novo primeiro-ministro, François Bayrou.
Mais de um terço dos 320 mil habitantes de Mayotte estão em situação irregular, segundo as autoridades.
Em Moçambique, país vizinho a Mayotte, o ciclone Chido provocou a morte de pelo menos 94 pessoas. No Malawi, os ventos mataram 13 pessoas.
(Com RFI e AFP)