Mesmo antes de reassumir Casa Branca, Trump já é figura importante da política econômica global
Por Dan Burns e Howard Schneider
WASHINGTON (Reuters) - O acerto de contas econômico do mundo com o futuro governo do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, começou a sério nesta semana, com o Federal Reserve sinalizando menos cortes nas taxas de juros norte-americanas.
O Fed cortou os juros, como esperado, na quarta-feira, em meio a uma movimentada série de reuniões de fim de ano dos bancos centrais, de Ottawa e Frankfurt a Tóquio e Londres, que mostraram o aumento da incerteza antes da reentrada de Trump na Casa Branca no ano novo.
De fato, as autoridades do Fed não apenas reduziram as projeções de cortes nas taxas de juros em face da inflação persistente, como também o chair da autoridade monetária dos EUA, Jerome Powell, disse que alguns membros do banco também tentavam avaliar como as tarifas comerciais planejadas por Trump, a redução de impostos e as restrições à imigração poderiam afetar a política monetária.
O resultado foi que os banqueiros centrais dos EUA apresentaram estimativas de um crescimento maior no próximo ano do que o estimado anteriormente, mas também uma inflação notavelmente maior.
Isso fez com que Powell pedisse repetidamente "cautela" em relação a cortes adicionais nos juros a partir de agora, o que desencadeou uma queda nos preços das ações e uma recalibração das estimativas do mercado para uma maior flexibilização monetária. Agora, apenas um único corte nas taxas do Fed é esperado para 2025.
"Algumas pessoas deram um passo muito preliminar e começaram a incorporar estimativas altamente condicionais dos efeitos econômicos das políticas em suas previsões nesta reunião", disse Powell quando perguntado se as políticas de Trump eram levadas em conta no pensamento das autoridades.
"Algumas pessoas disseram que não o fizeram, e outras não disseram se o fizeram ou não. Portanto, temos pessoas fazendo várias abordagens diferentes em relação a isso, mas algumas identificaram a incerteza das políticas como um dos motivos para escreverem mais incerteza em relação à inflação."
Na Ásia, o Banco do Japão manteve nesta quinta-feira as taxas de juros ultrabaixas, já que a ameaça das políticas de Trump lançou uma sombra sobre a economia do país, dependente de exportações.
"A incerteza em torno da economia e dos preços do Japão continua alta", disse o Banco do Japão em um comunicado anunciando a decisão.
Uma pesquisa da Reuters com empresas japonesas publicada na semana passada mostrou que quase três quartos delas esperam que Trump tenha um efeito negativo em seu ambiente operacional, algo com que as autoridades do Banco do Japão podem ter que levar em conta, já que é o único banco central desenvolvido do mundo ainda está tentando apertar a política.
Antes da decisão do Fed, os juros já haviam sido reduzidos na semana passada pelo Banco Central Europeu e pelo Banco do Canadá, e espera-se que ambos ofereçam alguma flexibilização adicional em 2025 em meio ao enfraquecimento das perspectivas.
Embora a presidente do BCE, Christine Lagarde, tenha sido vaga quanto a novos cortes nos juros, ela se esforçou para enfatizar os riscos negativos para o crescimento, incluindo as possíveis tensões comerciais com os Estados Unidos sob o comando de Trump.