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Justiça francesa condena ex-marido de Gisèle Pelicot à pena máxima por estupros em série

19/12/2024 07h26

A Justiça da França anunciou nesta quinta-feira (19) a pena máxima de 20 anos de prisão a Dominique Pelicot por drogar durante una década sua então esposa Gisèle para estuprá-la ao lado de dezenas de desconhecidos, no último ato de um julgamento histórico.

O tribunal correcional de Avignon, no sul da França, também condenou os outros 50 réus a penas entre três e 15 anos de prisão, sentenças menores do que as solicitadas pela promotoria, o que gerou mal-estar entre os três filhos da vítima.

"Eu respeito" a sentença, disse Gisèle Pelicot, que em três meses se tornou um ícone feminista global por recusar um julgamento fechado, ao qual as vítimas têm direito, para que 'a vergonha possa mudar de lado', em uma breve declaração à imprensa.

"Penso nas vítimas não reconhecidas, cujas histórias muitas vezes permanecem nas sombras. Quero que saibam que compartilhamos a mesma luta", acrescentou a mulher de 72 anos, desejando 'um futuro no qual todas as mulheres e homens possam viver em harmonia'.

A expectativa era grande tanto dentro quanto fora do Palais de Justice em Avignon na quinta-feira. Diante de jornalistas de 180 meios de comunicação credenciados - 86 estrangeiros - os cinco magistrados do tribunal anunciaram as sentenças, começando por Dominique Pelicot.

"Senhor Pelicot, em relação ao conjunto dos fatos, o declaramos culpado de estupro com agravantes", declarou Roger Arata, presidente do tribunal. De pé, o principal acusado não externou nenhuma emoção. 

Embora desde o início do julgamento, em 2 de setembro, ele nunca tenha negado ter drogado Gisèle secretamente com ansiolíticos entre 2011 e 2020 para fazê-la dormir e estuprá-la junto com estranhos que ele contatou na Internet, o anúncio da pesada sentença o afetou. 

Sua advogada, Béatrice Zavarro, não descartou a possibilidade de apresentar um recurso contra a decisão.

Além do principal réu, o tribunal declarou culpados os outros 50 acusados - um deles à revelia -, apesar de cerca de 30 deles terem solicitado a absolvição por acreditarem que foram "manipulados" pelo "monstro" Dominique Pelicot.

- "Obrigado Gisèle!" -

As sentenças impostas, em linha com a média de 11,1 anos por estupro na França em 2022, foram recebidas com decepção fora do tribunal, onde membros de grupos feministas se reuniram. A promotoria havia pedido entre quatro e 18 anos de prisão. 

"Que vergonha para o sistema judiciário", gritaram alguns dos manifestantes, em meio a um grande número de funcionários do judiciário. "Meu cliente está livre e agradece a vocês", respondeu um dos advogados de defesa. 

Dos 32 réus que foram libertados, seis não irão diretamente para a prisão, apesar de terem sido condenados. 

"Os filhos [de Gisèle e Dominique Pelicot] estão decepcionados com as sentenças baixas", comentou um membro da família, que pediu anonimato, indicando que nenhum deles quis falar com o pai após a condenação. 

A decisão foi acompanhada de perto na França e também no exterior, onde esse julgamento e sua vítima se tornaram um símbolo de agressões sexuais contra mulheres. Os réus, com idades entre 27 e 74 anos, têm perfis sociais diversos. 

Tanta dignidade. Obrigado, Gisèle Pelicot. Que a vergonha mude de lado", escreveu o chefe do governo espanhol, o socialista Pedro Sánchez, na rede social X, enquanto seu colega alemão, o social-democrata Olaf Scholz, destacou a "coragem" da vítima.

Fora do comum em termos de duração, número de réus e, acima de tudo, a atrocidade dos atos denunciados, esse julgamento já entrou para a história.

Laure Chabaud, uma das representantes do Ministério Público, esperava que, durante o julgamento, ele enviasse "uma mensagem de esperança às vítimas de violência sexual" e servisse para provocar uma "mudança" na sociedade.

As associações feministas também esperam que o julgamento mude as atitudes em relação ao estupro, às tentativas de estupro e às agressões sexuais, que são denunciadas por mais de 200.000 mulheres na França todos os anos.

"Obrigado Gisèle", gritaram os manifestantes na quinta-feira, quando a mulher, que nos últimos meses deu um rosto às vítimas de agressão sexual e submissão química, deixou o tribunal.

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© Agence France-Presse

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