'Cientista-artista' brasileiro lança EP de estreia inspirado pela MPB e por Paris
O médico Matheus Vieira, natural de Niterói, faz música desde os seis anos de idade, mas era, até há pouco tempo, um diletante. Foi em Paris, onde se estabeleceu há dois anos para cursar um doutorado em Imunologia, que o brasileiro amadureceu a veia artística e criou coragem para se lançar profissionalmente. O resultado é o EP "Moradaramo" que acaba de ser lançado pelo "cientista-artista".
O EP de estreia do cantor, compositor e violonista Matheus Vieira chegou às plataformas digitais em 22 de novembro. "Moradaramo" foi gravado no Brasil, mas foi integralmente composto em Paris. "O desterro da minha casa de Niterói para Paris fez com que as coisas que me atravessam, transbordassem em forma de música, com uma maturidade que eu enfim gostei e quis dar segmento", conta.
O EP, com arranjos e produção do maestro Luiz Potter, tem quatro faixas: "Morada", "O Corvo e o Assum Preto", "Casamento de Viúva" e "Nós". Cada música representa uma estação do ano, espelhando a vivência do artista em Paris. "Viver a marcação das estações foi uma coisa completamente inédita para mim aqui. Eu cheguei no outono e terminei no verão, que já tem sol de novo. Então, eu reencontro esse Sol pessoal", explica.
Cada música também remete a universos distintos da música popular brasileira, como samba ou baião. O compositor diz que a "MPB, que é tão ampla quanto inespecífica", define o seu estilo musical.
Cientista-artista
A trajetória de Matheus Vieira se inscreve na história de outros músicos brasileiros que passaram por Paris desde Heitor Villa-Lobos, nos anos 1920, e construíram pontes entre a França e o Brasil.
Ao invés de músico-médico, que não rima, ele se define como um "cientista-artista", em uma referência ao poeta-diplomata Vinícius de Moraes que serviu muito tempo em Paris.
"Ele é uma das referências, inclusive, porque mostrou dentro do meio artístico brasileiro que a gente pode ser várias coisas ao mesmo tempo. Não sou diplomata, talvez um pouco poeta, mas para fazer uma coisa que rime mais, (fica) artista-cientista, que eu acho que dá mais caldo", aposta.
Outra referência almejada é a antropofagia de Oswald de Andrade, que também passou anos importantes em Paris. "A música brasileira é antropofágica por definição", ressalta o compositor.
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Palíndromo
O título do EP, "Moradaramo", é um palíndromo, isto é, um recurso estilístico que pode literalmente ser lido de trás para frente e vice-versa. O nome apareceu de maneira "acidental", relembra o músico.
"Eu fiz a canção 'Morada' e a um determinado momento, quando eu estou no final da música, eu repeti a morada, a morada eu vi que (ouvia) 'dar amor'. E era exatamente isso que eu queria fazer nessa nova fase, nesse capítulo da minha vida", descreve Matheus Vieira, que vai continuar desenvolvendo paralelamente as duas carreiras, a de médico e a de músico.
Nesta quinta-feira (19), ele faz uma primeira apresentação do EP de estreia na Casa de América Latina de Paris.
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