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Pedrada no rosto: 'Perdi visão por culpa da Unimed, que negou injeção'

do UOL

Do UOL, em São Paulo

19/12/2024 05h30Atualizada em 19/12/2024 12h13

A advogada Michaella Zukowski Reis, 26, atingida no rosto por um paralelepípedo em setembro de 2023, contou que perdeu a visão do olho esquerdo. Ela estava no banco do passageiro de um carro em Vila Velha (ES) quando uma pedra foi arremessada no veículo. Ela teve uma fratura de crânio exposta, mas sem lesões no cérebro.

Hoje, passado mais de um ano, Michaella contou que a sequela no olho ocorreu devido ao atraso para receber uma medicação para reduzir o inchaço na região.

De acordo com a advogada, em entrevista ao UOL, o acesso à injeção ocular foi negado três vezes pela Unimed. O preço, segundo ela, era de R$ 6 mil a R$ 8 mil na época. No entanto, os médicos não sabiam ao certo quantas seriam necessárias. Michaella chegou a entrar na Justiça, mas o pedido não foi respondido até hoje.

No momento, não existe mais tratamento. Perdi a visão por culpa da Unimed. O tratamento poderia ter revertido minha situação. Michaella Zukowski Reis

O UOL entrou em contato com a Unimed de Vitória. Em nota, eles informaram que o procedimento não foi autorizado, "pois a indicação feita para o uso da medicação pela paciente não se enquadra na DUT - Diretriz de Utilização, que trata dos critérios estabelecidos pela ANS (Agência Nacional de Saúde)".

Questionados sobre quais seriam os critérios —preço, motivação—, a empresa respondeu que "a medicação em questão é indicada, por exemplo, em casos de degeneração macular relacionada à idade (DMRI) e complicações de retinopatia diabética".

Importante destacar que durante todo o período de internação, a paciente foi avaliada e não houve registro de nenhuma alteração ocular. A Unimed Vitória lamenta profundamente todo o ocorrido com a Michaella Zukoski Reis, vítima de uma fatalidade que destaca problemas de segurança presentes em todo o país. A cooperativa reforça seu compromisso em oferecer cuidado de excelência, em conformidade com todas as normas das agências reguladoras, para garantir um atendimento justo e de qualidade a seus clientes. Nota da Unimed

Cinco cirurgias no rosto

Michaella já passou por cinco cirurgias desde que foi atingida pelo paralelepípedo no ano passado. Em dezembro de 2023, ela conseguiu passar em um oftalmologista para avaliar o olho esquerdo.

"Fui diagnosticada com edema [inchaço] ocular localizado na parte central do olho. Na região inferior e lateral do olho, perdi a visão, via tudo preto. Não conseguia enxergar direito."

Essa situação fez com que uma membrana crescesse na região, como se fosse uma cicatriz, segundo Michaella. Para reduzir o inchaço, as injeções poderiam ajudar no caso.

Michaella Zukowski Reis - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Entre fevereiro e março deste ano, entrei na Justiça com urgência para conseguir a medicação, mas o pedido não foi avaliado até hoje. Michaella Zukowski Reis

A advogada conta que, sozinha, não conseguiria arcar com as despesas para comprar as injeções. Parou de trabalhar na empresa da família, assim como a mãe dela. "Eu precisava de cuidados por 24h, não conseguia levantar da cama sozinha, nem comer porque tinha dificuldade para mastigar", diz.

A parte atingida pela pedra afetou parte do rosto de Michaella, que foi reconstruída com titânio. "Tenho um corpo estranho dentro de mim, não sei até quando 'vai ficar bem'. Tem muita gente que tem rejeição depois de um tempo. Nunca sei de o dia de amanhã", conta.

Busca por tratamento nos EUA

Como não tinha como custear o tratamento e queria mais opiniões médicas, ela foi aos Estados Unidos, onde tem família, para se consultar com médicos na Mayo Clinic, em Rochester, Minnesota, considerado um dos melhores hospitais do mundo.

Neste período, em julho deste ano, conseguiu arrecadar uma quantia de R$ 200 mil em duas semanas. Fez diversos exames durante quatro meses.

Infelizmente, recebi a notícia de que o edema estagnou, criou pele, como se fosse uma membrana. Isso impede o uso das injeções agora. Hoje, estou realmente monocular. Michaella Zukowski Reis

Michaella Zukowski Reis - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Michaella voltou a trabalhar recentemente após quatro meses nos EUA
Imagem: Arquivo pessoal

Relembre o caso

Michaella ia de carro de Guarapari (ES), onde mora, para a capital capixaba pela Rodosol, acompanhada do pai e do irmão. O objetivo era chegar ao aeroporto de Vitória, onde a família embarcaria para o velório do avô de Michaella em Minas Gerais. O acidente aconteceu na altura da Ponta da Fruta, em Vila Velha.

"Meu pai estava dirigindo, meu irmão no banco de trás e eu no passageiro. Estava mexendo no celular e meu pai disse que viu um homem saindo do meio do mato. Eu não o vi", contou a advogada ao UOL, no ano passado.

Homem tentou acertar o pai de Michaella, que desviou a direção. "Nisso, a pedra veio para cima de mim e me atingiu", disse. "Eu não desmaiei, eu senti tudo. Lembro que perdi todos os sinais: visão, audição, respiração. A sensação era como se eu estivesse me afogando. Foi muito estranho". De acordo com Michaella, o homem foi preso dias depois do caso.

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