"Eu não esperava por isso": na Síria, famílias voltam a Homs e encontram cidade devastada
Com o fim do regime de Bashar al-Assad, os moradores deslocados dentro do próprio país estão gradualmente voltando para casa. Famílias separadas pela guerra podem se reunir novamente. Algumas, no entanto, perderam suas residências. Este é o caso da família Kassim, forçada a fugir de Homs, uma cidade rebelde que foi totalmente devastada e depois sitiada pelas forças do regime.
Murielle Paradon e Boris Vichith, enviados especiais da RFI a Homs (Síria)
A família Kassim, separada pela guerra por 10 anos, se reencontrou pela primeira vez em sua casa em Homs. Situada no centro do país, a cidade foi o ponto de partida da revolta que começou em 2011 contra o regime do presidente Bashar al-Assad
Amr, 62 anos, se emociona ao ver sua sobrinha Sara, que foi forçada a fugir de sua cidade natal. "Vocês eram tão pequenos", diz, emocionado. "Meu tio mudou, envelheceu", responde a jovem, hoje com 26 anos. "Perdemos muito tempo sem ver aqueles que amamos", lamenta.
Mas a alegria do reencontro é abalada pela falta de alguns familiares. "Tenho dois irmãos. Um deles foi preso em Seydnaya", continua Amr. "Ele ainda não foi encontrado, não consigo expressar o que sinto".
Sara gostaria de voltar para a casa de sua infância. Ela tinha 18 anos quando trocou Homs por Idlib com parte da família em 2017, quando as forças pró-Assad assumiram o controle da cidade, após um cerco de dois anos e combates violentos com os rebeldes.
Hoje, a jovem mal reconhece seu bairro, completamente devastado. Tudo o que resta de sua casa são paredes e escombros. Ao entrar na residência, ela é dominada pela emoção. "Era o meu quarto", mostra, com lágrimas nos olhos. "Dormi aqui com minha irmã e meu irmão. Está totalmente destruído", diz.
Reconstrução difícil
Um enorme buraco foi feito no meio da sala, que teve o piso arrancado. "Eu não esperava por isso", diz. "Sinto que tiraram a vida desta casa, roubaram minhas memórias", diz se referindo aos soldados de Bashar al-Assad, que lutaram contra os rebeldes e deixaram o bairro onde vivia a família totalmente devastado, como se tivesse sido atingido por um terremoto.
"A minha casa não foi destruída pelos bombardeios, mas sim pelas milícias pró-regime que entraram nela", explica Sara. "Roubaram tudo, destruíram as paredes, o chão para arrancar os fios elétricos, levaram os móveis, tudo que era nosso. Foi por vingança", afirma.
Sara olha para o chão tentando recuperar algum vestígio de seu passado, algo que pertenceu aos seus irmãos, que vivem no exterior. Ainda que a casa da família em Homs esteja inabitável, ela ainda sonha em voltar para lá um dia, quando for reconstruída. Mas "levará algum tempo para se recuperar do trauma", admite.
O líder da coalizão de rebeldes islamistas que assumiu o poder na Síria, Ahmed al-Shara, afirma que sua prioridade é fazer com que os sírios regressem ao país. Mas a desconfiança sobre o novo regime faz com que muitos refugiados prefiram esperar antes de voltar à Síria.