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Dólar dispara quase 3% e bate novo recorde com receio fiscal e decisão do Fed

18/12/2024 17h11

Por Fernando Cardoso

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar disparou quase 3% frente ao real nesta quarta-feira, renovando a maior cotação da história, com o mercado demonstrando enorme desconfiança no compromisso fiscal do governo, apesar de avanços na tramitação das medidas de contenção de gastos no Congresso, e reagindo à decisão do Federal Reserve de sinalizar ritmo mais lento de corte de juros à frente.

O dólar à vista encerrou o dia em alta de 2,78%, cotado a 6,2679 reais -- maior valor nominal de fechamento da história.

Na B3, às 17h17, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 2,67%, a 6,274 reais na venda.

Por mais um pregão, o foco do mercado permaneceu sobre o cenário fiscal do país, com investidores analisando novas notícias sobre a tramitação do pacote fiscal do governo no Congresso, que deve entrar em recesso na sexta-feira.

A Câmara dos Deputados aprovou na noite de terça-feira o texto-base do projeto que impõe travas para o crescimento de despesas com pessoal e incentivos tributários no caso de déficit primário -- o Projeto de Lei Complementar 210, que faz parte do pacote fiscal.

Segundo o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), os outros dois textos que compõem o pacote do governo -- um projeto de lei e uma Projeto de Emenda à Constituição -- devem ser analisados pelo plenário nesta quarta-feira.

No entanto, as notícias não pareciam suficientes para impedir a alta do dólar nesta sessão.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse mais cedo que teve uma reunião positiva com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), acrescentando que a votação do pacote fiscal na Casa depende apenas da chegada do texto após a votação na Câmara dos Deputados.

"Acho que tem uma crise de credibilidade. O mercado precisa ver algo concreto para reprecificar e não se acalma com discursos e notícias. O mercado só vai acalmar com um pacote aprovado, que dê para fazer conta e reprecificar os riscos", disse Matheus Massote, sócio da One Investimentos.

Após quatro pregões seguidos com intervenções do Banco Central no câmbio, nesta sessão não houve leilões de dólares.

Na terça-feira, a autarquia vendeu mais de 3,2 bilhões de dólares á vista em dois leilões, totalizando mais de 12,75 bilhões de dólares vendidos desde quinta-feira, em operações que também incluíram leilões de linha, com compromisso de recompra pelo BC. As intervenções contribuíram no máximo para reduzir temporariamente os ganhos da moeda norte-americana.

Outro fator para a disparada do dólar se deu pelas elevadas taxas de juros futuras, com os altos prêmios de risco do país, puxados pelos receios fiscais de agentes nacionais, afastando a entrada de possíveis recursos de investidores estrangeiros.

"Instabilidade e incerteza é algo difícil para o mercado trabalhar, pois ele trabalha com precificação de risco. No momento, isto significa fuga de capital", disse Massote.

O fluxo do envio de remessas de empresas para o exterior, que se intensifica no fim do ano, também era um fator relevante, gerando falta de liquidez no mercado.

Quando já circulava acima dos 6,20 reais, o dólar recebeu um novo impulso vindo do cenário externo, após as autoridades do Federal Reserve projetarem no meio da tarde um afrouxamento monetário menor do que o anteriormente esperado para o próximo ano, em meio a uma inflação persistente nos Estados Unidos.

O anúncio ajudou a fortalecer a moeda norte-americana nos mercados globais, gerando pressão sobre divisas de países emergentes, uma vez que os rendimentos dos Treasuries saltaram.

Após a decisão do Fed e perto do fechamento, o dólar atingiu a cotação máxima do dia, a 6,2702 (+2,82%). A mínima foi alcançada nos primeiros segundos após a abertura, a 6,0942 (-0,07%).

O índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- subia 1,14%, a 108,150.

Nesta sessão, o BC vendeu todos os 15.000 contratos de swap cambial tradicional ofertados em leilão para rolagem do vencimento de 3 de fevereiro de 2025.

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