O coronel da reserva Flávio Botelho Peregrino, braço direito do general Walter Braga Netto, pode se tornar um elemento chave para a Polícia Federal desvendar partes ainda sem resposta sobre a trama golpista, afirmou o colunista Leonardo Sakamoto no UOL News desta terça (17).
Peregrino ganhou o apelido de "Cid de Braga Netto" por sua proximidade com o general, preso no último sábado (14). A alcunha faz alusão ao tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que fechou acordo de delação premiada com a PF e se tornou uma das principais peças na investigação da tentativa de golpe de Estado.
Peregrino não está preso e não é citado como um dos investigados oficialmente, apesar da a polícia ter cumprido mandado de busca e apreensão. Ele não tinha vínculo formal com Braga Netto, mas não que isso mude alguma coisa.
Ao se fazer essa conexão e verificar que ele era uma pessoa importante por conta da capacidade de articular a comunicação de setores do golpe, não há dúvida alguma de que ele pode vir a ser investigado oficialmente, indiciado e, a partir daí, há a possibilidade de ser chamado para fazer uma delação. Se ele realmente articulou as pontas desse golpe, pode ajudar a uni-las e fechar esse quebra-cabeça. Leonardo Sakamoto, colunista do UOL
Para Sakamoto, embora Peregrino estivesse longe dos holofotes do inquérito sobre a tentativa de golpe de Estado, ele exercia papel fundamental na trama. O colunista ressaltou que o coronel tem grande potencial para trazer informações minuciosas ao trabalho da PF.
Um golpe não se faz apenas com grandes nomes. Ele precisa de gente que articule, execute e traga informações. Ao que tudo indica, pelas informações prestadas pela PF, Peregrino trabalhava para garantir a fluidez de informações dentro da estrutura do golpe, que estava sendo tramado por militares e bolsonaristas civis.
Ele era um personagem fundamental para a comunicação interna do golpe. O coronel Peregrino tinha esse trabalho de articulação de informação, fundamental em qualquer golpe, guerra, atividade bélica ou revolução, seja ela popular ou um golpe militar.
Essas figuras que cuidam da articulação e da fluidez da informação em uma estrutura detêm muito conhecimento e conteúdo. Ou seja: ele sabe muito e pode falar muito, não apenas a respeito da centralidade de Braga Netto com o golpe, mas também do general [Augusto] Heleno e de outros nomes relacionados ao golpe.
Se a PF se aprofundar nas relações do Peregrino, pode vir a conhecer a verdade, como diz o versículo bíblico sempre citado por Bolsonaro. Leonardo Sakamoto, colunista do UOL
Sakamoto chamou a atenção para o fato de Peregrino guardar documentos importantes referentes à trama golpista, reforçando a ideia de que os envolvidos auxiliaram involuntariamente as investigações.
O mais lógico para uma pessoa conectada a um dos principais nomes do golpismo e que não havia passado por nenhuma tentativa de operação da PF seria criar um grande churrasco e queimar tudo. É o que acontece com golpistas tradicionais para se desfazer das informações.
O interessante é que estamos conseguindo reconstruir esse quebra-cabeça da tentativa de golpe bolsonarista com conteúdos que foram deixados pelos próprios membros dessa intentona golpista. Isso é o mais inacreditável. Essas peças vão se juntando com informações guardadas [pelos envolvidos na trama golpista].
Nesse ponto, eu gostaria de agradecer muito aos setores militares que participaram do golpe por terem produzido, guardado e sistematizado tantas provas contra si mesmos. Isso facilita bastante o trabalho da PF, da Procuradoria-Geral da República e do Supremo Tribunal Federal. Leonardo Sakamoto, colunista do UOL
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