PM atuava com agiotas e espancou comerciante do Brás, diz corregedor
Ao menos um dos policiais militares acusados de extorsão a comerciantes da região do Brás, no centro de São Paulo, atuava como "cobrador" de agiotas e espancou um vendedor ambulante que atrasou o pagamento de um empréstimo, segundo informado pelo corregedor da Polícia Militar a segunda-feira (16).
O que aconteceu
Comerciante extorquido e agredido era equatoriano e teve a casa invadida por PM após atrasar pagamento de divida com agiota. Segundo o coronel Fábio Sérgio do Amaral, corregedor da Policia Militar de São Paulo, o empréstimo teria sido feito após a vítima ser cobrada por policiais a pagar taxas para se manter como vendedor na região de comércio popular.
Nos foi informado que uma vítima de nacionalidade equatoriana obteve dinheiro emprestado com um desses agiotas, atrasou o pagamento, e teve sua casa invadida, foi espancado, e teve cerca de R$ 4 mil em espécie subtraídos por um dos policiais, que além de autor das extorsões, também era cobrador desses agiotas. Coronel Fábio Sérgio do Amaral, corregedor da PM-SP, durante coletiva de imprensa nesta segunda
Ao menos sete policiais e oito supostos membros de cooperativas locais exigiam e recebiam pagamentos periódicos para permitir a atividade de vendedores ambulantes no Brás. Os valores cobrados giravam em torno de R$ 15 mil por ano e cerca de R$ 300 por semana. Uma das testemunhas protegidas ouvidas pelo GAECO (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) relatou que trabalha na região há seis anos e, recentemente, um grupo de pessoas passou a exigir o pagamento de luvas para autorizar a permanência de seu comércio na região.
Vítimas recorreriam a agiotas para pagarem os agentes. Como grande parte dos comerciantes da região são imigrantes de países da América do Sul, como equatorianos e bolivianos, e não possuem acesso a linhas nacionais de crédito, muitos buscavam por agiotas para obter dinheiro e repassar aos criminosos.
Os comerciantes não tinham esse dinheiro para fazer o pagamento e eram encaminhados a agiotas que, depois, adotavam práticas de cobrança violentas contra eles. Coronel Fábio Sérgio do Amaral, corregedor da PM-SP
Policiais presos
Cinco policiais militares e quatro pessoas foram presos preventivamente durante ação policial conjunta na segunda (16). Outro PM, uma policial civil e outras quatro pessoas foram alvo de mandados de prisão, busca e apreensão, mas até tarde desta segunda ainda não haviam sido detidas. A operação, chamada Aurora, foi deflagrada pelo GAECO (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), em conjunto com as corregedorias da Policia Militar e Civil, com o objetivo de prender e investigar 15 pessoas supostamente envolvidas em esquemas de extorsão e ameaças a comerciantes no Brás.
Intimidações ocorriam durante rondas policiais na região, mas extorsões eram praticadas por PMs à paisana. "Essas ações eram praticadas uma parte em serviço e, em outra, quando [os policiais] estavam de folga. Mas todas de forma organizada, como parte da estrutura dessa organização criminosa", afirmou o corregedor.
Investigações começaram em março, quando quatro vítimas procuraram o Ministério Público de São Paulo. O promotor Carlos Gaya, do MPSP, explicou que elas estão protegidas e que o número de pessoas lesadas pelo esquema pode ser muito maior. "Identificamos uma série de planilhas, de mecanismos de controle, que eram utilizados pela organização criminosa para garantir que eles tivessem um controle efetivo de quem estava fazendo os pagamentos dos valores da extorsão. A partir de agora vamos atrás dessas pessoas para tentarmos identificar mais vítimas dispostas a depor", afirmou Gaya à imprensa.
Investigadores solicitaram quebra de sigilo telefônico e telemático dos policiais, além de captação ambiental para que conversas fossem receptadas. A operação também cumpriu mandados de busca e apreensão. Oito empresas e 21 pessoas tiveram seus sigilos bancário e fiscal quebrados, enquanto outros mandados de prisão, busca e apreensão ainda estão sendo cumpridos.
Valor subtraído por criminosos é "muito alto". Segundo o coronel, ainda não é possível estimar a quantia total acumulada pelos integrantes da organização, mas "como toda a região do Brás foi loteada por essa organização criminosa, nós imaginamos que esse valor total seja bem alto", afirmou. Já o promotor do MPSP revelou que na casa de apenas um dos agiotas foi localizado cerca de R$ 145 mil em espécie.