"Nosso território está totalmente devastado", diz prefeito da capital de Mayotte após passagem de ciclone
As escavações para procurar vítimas nas áreas devastadas e ainda inexploradas de Mayotte começaram na manhã de terça-feira (17), anunciou o prefeito de Mamoudzou, a capital da ilha. Os serviços do Estado estão mobilizados para fornecer, com urgência, água e comida aos moradores após a passagem do ciclone Chido.
"Nosso território está totalmente devastado, sem água, sem comida, sem eletricidade, sem acesso, sem teto, é um desastre total", declarou o prefeito de Mayotte, Ambdilwahedou Soumaïla, com exclusividade à RFI.
"Infelizmente, esse fenômeno natural não deu uma chance à nossa região. A prioridade hoje é água e comida. Temos que evitar a fome a todo custo. Após essa crise de uma intensidade incrível, comida e água são nossas prioridades. Depois disso, vamos ver como será a reconstrução do nosso território", disse o prefeito.
Três dias após o ciclone, o balanço de vítimas já conta com 22 mortos, de acordo com o último boletim do centro hospitalar de Mayotte, e mais de 1.400 feridos, sendo 48 em estado grave, declarou Ambdilwahedou Soumaïla à RFI.
No entanto, as autoridades temem que o número de mortos chegue a centenas, ou até milhares, à medida que os socorristas continuam a vasculhar os escombros das áreas devastadas, que foram atingidas por ventos superiores a 200 km/h neste final de semana, no departamento francês do Oceano Índico.
No país vizinho, Moçambique, onde o ciclone Chido chegou no domingo, as autoridades confirmaram pelo menos 34 mortos.
Em Mayotte, mais de três quartos dos 321.000 habitantes vivem abaixo da linha da pobreza. Segundo o Ministério do Interior francês, mais de 100.000 migrantes sem documentos vivem na ilha, em sua maioria em favelas.
Toque de recolher e reforços de segurança
Um toque de recolher será imposto em Mayotte na noite de terça-feira, entre 22h e 4h locais. O ministro do Interior, Bruno Retailleau, que visitou Mamoudzou na segunda-feira, anunciou a chegada de 400 reforços de forças de segurança ao arquipélago, onde já estão presentes 1.600 policiais.
Vinte toneladas de água e alimentos começaram a ser enviadas de forma diária, tanto por avião quanto por barco, segundo as autoridades.
Críticas políticas à gestão da crise
Várias figuras políticas lamentaram que o novo primeiro-ministro, François Bayrou, tenha optado por viajar para Pau, sua cidade natal, na tarde de segunda-feira, para presidir uma reunião do conselho municipal, em vez de estar em Paris, acompanhando a crise.
A presidente da Assembleia Nacional, Yaël Braun-Pivet, afirmou em entrevista à Franceinfo que teria preferido que François Bayrou "pegasse um voo para Mamoudzou". "Em circunstâncias como essas, é preciso estar 100% mobilizado na gestão da crise", disse ela.
O presidente do grupo ecologista no Senado, Guillaume Gontard, classificou a situação como "inaceitável, até irresponsável", após consultas no Palácio de Matignon.
Reações à questão migratória
Bruno Retailleau também foi duramente criticado pela esquerda após um comentário publicado no X (antigo Twitter), onde afirmou que "não será possível reconstruir Mayotte sem tratar, com a maior determinação, a questão migratória".
A presidente do grupo parlamentar A França Insubmissa (LFI), Mathilde Panot, reagiu com indignação, pedindo que se mobilizassem os recursos do Estado para ajudar Mayotte na catástrofe, em vez de fazer "exibição de xenofobia".
"Base logística de apoio"
Uma ponte aérea e marítima foi estabelecida a partir da ilha da Reunião, território francês a 1.400 km de distância, para enviar materiais e pessoal médico. De acordo com a Cruz Vermelha francesa, 20 toneladas de material também estão sendo enviadas.
"Vamos estabelecer uma base logística de apoio na Reunião para enviar material e equipes para Mayotte. Certamente haverá várias turmas. A primeira será de 30 a 40 pessoas. Temos médicos, enfermeiros, técnicos especializados em resgates e remoções de escombros, técnicos especializados em pilotagem de drones, motoristas de caminhões pesados. Temos uma equipe diversificada que permitirá atender da melhor forma às necessidades de Mayotte", explicou à RFI Baptiste Rivoire, coordenador nacional das operações de proteção civil.
Imagens dos satélites franceses, fornecidas através do plano europeu Copernicus Emergency Management Service, ajudarão os socorristas a localizar sobreviventes nos escombros, identificar ruas bloqueadas e até pontes destruídas, conforme explicou Linda Tomazini, da direção de estratégia do CNES (Centro Nacional de Estudos Espaciais), à RFI.