Morte na UPA do Rio: como hospitais avaliam risco dos pacientes
Um homem de 32 anos morreu enquanto aguardava atendimento na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, na sexta-feira (13). Segundo a SMS (Secretaria Municipal de Saúde), "tudo aconteceu muito rápido", e José Augusto Mota da Silva teve a classificação de risco feita às 20h30. "Rapaz morreu sentado sem atendimento", diz uma pessoa que filmou a cena, em vídeo que circulou em grupos de moradores.
O que é classificação de risco?
O ACCR (Acolhimento com Classificação de Risco) é uma diretriz adotada em serviços de urgência e emergência. Baseada em protocolos, a ferramenta tem o objetivo organizar o fluxo de atendimento antes da avaliação diagnóstico e terapêutica completa. Com a medida, os profissionais de saúde avaliam as pessoas e priorizam os atendimentos de urgência, identificando os pacientes com maior risco de morte.
As UPAs do Rio trabalham com o Protocolo de Manchester adaptado. Neste sistema de classificação, são utilizadas cores como critério para atendimento:
- Critério vermelho (emergência): tem risco iminente de morte ou sinais iminentes de que o quadro clínico pode piorar. O atendimento médico deve ser imediato na sala vermelha. A SMS do Rio disse que, "poucos minutos depois (da classificação de risco às 20h30), foi acionada a equipe médica devido ao paciente encontrar-se desacordado. Ele foi levado à Sala Vermelha para atendimento, mas infelizmente não resistiu".
- Critério laranja (muito urgente): tem potencial risco de morte e precisa de atendimento em até dez minutos. Nas UPAs, devem ser obrigatoriamente atendidos na sala amarela. Durante a espera, deverá ser reavaliado pelo enfermeiro a cada cinco minutos.
- Critério amarelo (urgente): com potencial risco de agravamento, precisa de atendimento médico e de enfermagem, mas não há risco imediato de morte. O atendimento médico deve ser feito em, no máximo, 30 minutos.
- Critério verde (pouco urgente): tem baixo risco iminente de morte ou agravamento. A pessoa precisa ser encaminhada para atendimento médico em até uma hora.
- Critério azul (não urgente): são casos de baixa complexidade que não justificam atendimento médico no mesmo dia. Nessa condição, a pessoa precisa de atendimento ambulatorial em no máximo 24 horas e pode ser direcionada para unidades de atenção primária.
Funcionários demitidos
A SMS do Rio demitiu 20 funcionários da UPA onde José Augusto morreu. Médicos, enfermeiros e recepcionistas foram desligados, medida que o secretário Daniel Soranz já tinha anunciado na rede social X. "É inadmissível não perceberem a gravidade do caso", disse, informando que os profissionais também responderiam sindicância e seriam denunciados aos seus respectivos conselhos de classe.
Polícia Civil e Cremerj abriram investigação. O caso é investigado na 41ª DP (Tanque), em que "agentes realizam diligências para esclarecer todos os fatos", disse a corporação. Já o Conselho Regional de Medicina do Rio abriu uma sindicância sigilosa para apurar a morte de José Augusto. A investigação interna diz respeito diretamente à conduta profissional.
O conselho já havia feito três visitas à UPA da Cidade de Deus, em 2021, 2022 e 2023. Em todas as diligências, a equipe do Cremerj identificou "deficiências relacionadas ao corpo clínico", ou seja, falta de médicos.
Morte à espera de atendimento
José Augusto Mota da Silva aguardava atendimento em uma cadeira da UPA na Cidade de Deus. A cena foi filmada na noite de sexta-feira (13) por pacientes na sala de espera da unidade. Os vídeos foram compartilhados em grupos de moradores.
Outra cena mostra o homem sendo levado em uma maca enquanto outros pacientes reclamam com a equipe. "Agora vocês estão com pressa, né? O homem chegou aqui gritando de dor (...) Todo mundo é culpado, ninguém atendeu", diz um paciente.
Emily Larissa Souza Mota, sobrinha de José Augusto, disse ao UOL que o tio sofria de problemas no estômago. Ele já havia passado por uma UPA do Rio em abril deste ano, mas o problema continuou.