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Morte na UPA do Rio: como hospitais avaliam risco dos pacientes

José Augusto morreu aos 32 anos enquanto aguardava atendimento em UPA - Acervo pessoal
José Augusto morreu aos 32 anos enquanto aguardava atendimento em UPA Imagem: Acervo pessoal
do UOL

Do UOL, em São Paulo

17/12/2024 12h50

Um homem de 32 anos morreu enquanto aguardava atendimento na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, na sexta-feira (13). Segundo a SMS (Secretaria Municipal de Saúde), "tudo aconteceu muito rápido", e José Augusto Mota da Silva teve a classificação de risco feita às 20h30. "Rapaz morreu sentado sem atendimento", diz uma pessoa que filmou a cena, em vídeo que circulou em grupos de moradores.

O que é classificação de risco?

O ACCR (Acolhimento com Classificação de Risco) é uma diretriz adotada em serviços de urgência e emergência. Baseada em protocolos, a ferramenta tem o objetivo organizar o fluxo de atendimento antes da avaliação diagnóstico e terapêutica completa. Com a medida, os profissionais de saúde avaliam as pessoas e priorizam os atendimentos de urgência, identificando os pacientes com maior risco de morte.

As UPAs do Rio trabalham com o Protocolo de Manchester adaptado. Neste sistema de classificação, são utilizadas cores como critério para atendimento:

  • Critério vermelho (emergência): tem risco iminente de morte ou sinais iminentes de que o quadro clínico pode piorar. O atendimento médico deve ser imediato na sala vermelha. A SMS do Rio disse que, "poucos minutos depois (da classificação de risco às 20h30), foi acionada a equipe médica devido ao paciente encontrar-se desacordado. Ele foi levado à Sala Vermelha para atendimento, mas infelizmente não resistiu".
  • Critério laranja (muito urgente): tem potencial risco de morte e precisa de atendimento em até dez minutos. Nas UPAs, devem ser obrigatoriamente atendidos na sala amarela. Durante a espera, deverá ser reavaliado pelo enfermeiro a cada cinco minutos.
  • Critério amarelo (urgente): com potencial risco de agravamento, precisa de atendimento médico e de enfermagem, mas não há risco imediato de morte. O atendimento médico deve ser feito em, no máximo, 30 minutos.
  • Critério verde (pouco urgente): tem baixo risco iminente de morte ou agravamento. A pessoa precisa ser encaminhada para atendimento médico em até uma hora.
  • Critério azul (não urgente): são casos de baixa complexidade que não justificam atendimento médico no mesmo dia. Nessa condição, a pessoa precisa de atendimento ambulatorial em no máximo 24 horas e pode ser direcionada para unidades de atenção primária.

Funcionários demitidos

A SMS do Rio demitiu 20 funcionários da UPA onde José Augusto morreu. Médicos, enfermeiros e recepcionistas foram desligados, medida que o secretário Daniel Soranz já tinha anunciado na rede social X. "É inadmissível não perceberem a gravidade do caso", disse, informando que os profissionais também responderiam sindicância e seriam denunciados aos seus respectivos conselhos de classe.

Polícia Civil e Cremerj abriram investigação. O caso é investigado na 41ª DP (Tanque), em que "agentes realizam diligências para esclarecer todos os fatos", disse a corporação. Já o Conselho Regional de Medicina do Rio abriu uma sindicância sigilosa para apurar a morte de José Augusto. A investigação interna diz respeito diretamente à conduta profissional.

O conselho já havia feito três visitas à UPA da Cidade de Deus, em 2021, 2022 e 2023. Em todas as diligências, a equipe do Cremerj identificou "deficiências relacionadas ao corpo clínico", ou seja, falta de médicos.

Morte à espera de atendimento

José Augusto Mota da Silva aguardava atendimento em uma cadeira da UPA na Cidade de Deus. A cena foi filmada na noite de sexta-feira (13) por pacientes na sala de espera da unidade. Os vídeos foram compartilhados em grupos de moradores.

Outra cena mostra o homem sendo levado em uma maca enquanto outros pacientes reclamam com a equipe. "Agora vocês estão com pressa, né? O homem chegou aqui gritando de dor (...) Todo mundo é culpado, ninguém atendeu", diz um paciente.

Emily Larissa Souza Mota, sobrinha de José Augusto, disse ao UOL que o tio sofria de problemas no estômago. Ele já havia passado por uma UPA do Rio em abril deste ano, mas o problema continuou.

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