General preso diz que ninguém viu plano para matar Lula, Alckmin e Moraes
O general da reserva e ex-secretário executivo da Secretaria-Geral da Presidência, Mário Fernandes, pediu nesta terça-feira (17) a revogação de sua prisão alegando que ninguém viu o plano "Punhal Verde Amarelo" que previa matar o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro do STF, Alexandre de Moraes.
O que aconteceu
Defesa de Mário Fernandes pediu sua soltura. Na petição encaminhada ao ministro Alexandre de Moraes, a defesa do militar detido por envolvimento na trama golpista alega que a PF não apresentou nenhum fato recente que justifique sua prisão e que os episódios apontados pela investigação ocorreram em 2022.
Na versão da defesa, plano de assassinato de autoridades encontrado com general não foi apresentado a 'absolutamente ninguém'. No pedido de soltura, porém, defesa não explica porque o militar imprimiu o plano no Palácio do Planalto no mesmo dia em que foi se encontrar com o então presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Alvorada.
Diante disso, advogados propõem que prisão preventiva seja convertida em liberdade provisória condicionada. Alegando bons antecedentes do militar, a defesa propõe que ele seja solto mas cumpra uma série de medidas, como recolhimento noturno, proibição de contato com demais investigados e comparecimento semanal à Justiça. Fernandes já havia sido alvo de buscas da PF em fevereiro e vinha cumprindo algumas medidas cautelares até então, agora seus advogados propõem que ela cumpra novas medidas.
Foi em um HD externo de Fernandes que a PF encontrou planos para assassinar Lula, Alckmin e Moraes e também para instituir um "gabinete institucional" após a morte deles. Segundo a PF, os documentos indicam que a operação ocorreria no dia 15 de dezembro de 2022, três dias após a diplomação de Lula. Na sequência, no dia 16, seria instaurado um "Gabinete Institucional de Gestão de Crise" institucional". A PF chegou a mapear que ao menos um dos militares investigados esteve nas imediações da residência oficial de Alexandre de Moraes na véspera da data em que estava prevista a execução no plano golpista, que foi abortado pela falta de apoio do comando do Exército
No caso em apreço, de início, importante pontuar que a denominada minuta "punhal verde e amarelo" não foi apresentada a
absolutamente ninguém, com o máximo de respeito, configurando abuso da autoridade policial vinculá-la ao "Copa 22", pois segundo a investigação tratava-se de operação para execução daquele suposto "plano".
- Trecho da manifestação da defesa de Mário Fernandes apresentada ao STF
Ninguém teve acesso ao conteúdo daquele rascunho eletrônico, pois inexiste o rascunho físico. Como dito, o documento eletrônico não foi apresentado a ninguém, razão pela qual as pessoas investigadas e inseridas no contexto da "Copa 22" não tiveram conhecimento ou qualquer acesso àquele rascunho eletrônico, por isso, não poderiam, no dia 15 de dezembro de 2022, ter atuado
para "executar" ninguém
- Trecho da manifestação da defesa de Mário Fernandes apresentada ao STF
Militar radical e 'assessoramento'
PF aponta que Mario Fernandes seria um dos mais radicais incitadores do golpe. Investigação reuniu várias trocas de mensagens que mostram ele falando abertamente com manifestantes golpistas que estavam acampados em frente aos quartéis generais e também com outras autoridades do governo e interlocutores do Exército. O militar seria, nas palavras do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e delator, Mauro Cid, um radical que teria insistido no golpe antes mesmo do segundo turno.
A PF recuperou conversas de Fernandes com Cid que indicam que o general "assessorou" Bolsonaro para dar seu primeiro discurso após a derrota para Lula em 2022. O ex-presidente ficou recluso após o segundo turno e só falou com apoiadores do cercadinho do Alvorada no dia 9 de dezembro. Mensagem de Fernandes para Cid no mesmo dia comemora o fato e aponta que o discurso teria sido uma sugestão do próprio general.
PF encontrou novas mensagens nas quais Mario afirma ter se encontrado com Bolsonaro dia 8 de dezembro. Em mensagem de Whatsapp para Mauro Cid naquele dia, Fernandes afirmou ter se encontrado com Bolsonaro e ouvido do então presidente que a diplomação de Lula, no dia 12 não seria uma "restrição" e que "qualquer ação nossa pode acontecer até dia 31".
Ele também indicou ser o elo com os manifestantes, incluindo representantes do agronegócio e dos caminhoneiros, grupos que estavam na linha de frente das manifestações em frente aos quartéis-generais em 2022.
Um dia após o encontro no qual teria 'assessorado' Bolsonaro, o então presidente falou pela primeira vez com apoiadores. Na ocasião, presidente rompeu silêncio de 40 dias e apresentou discurso no qual elogiou protestos golpistas e disse que seu futuro estaria nas mãos de seus apoiadores.
Força, Cid. Meu amigo, muito bacana o presidente ter ido lá na frente ali no Alvorada e ter se pronunciado, cara. Que bacana que ele aceitou aí o nosso assessoramento. Porra, deu a cara pro público dele, pra galera que confia, acredita nele até a morte. Foi muito bacana mesmo, cara. Todo mundo vibrando. Transmite isso pra ele. E vou te colocar aqui abaixo um texto que eu recebi do Lucão, que é o Duílio, que é um caminhoneiro famoso aí pra caramba, que tá lá no QG já há mais de 30 dias. E aí possa, ele se emocionou, tava com a família aí, e assistiu hoje lá in loco, presencialmente, as palavras do presidente, cara. Olha aqui, o texto abaixo que ele mandou. Se tu avaliar que é coerente, mostra pro presidente também, cara. Força!
Mensagem do general Mario Fernandes para Mauro Cid em 9 de dezembro de 2022
Quantas vezes nos irritamos quando alguém diz a verdade para nós? E hoje estamos vivendo um momento crucial, uma encruzilhada Quem decide o meu futuro, para onde eu vou, são vocês. Quem decide para onde vão às Forças Armadas são vocês, para onde vai a Câmara e o Senado, são vocês também. Eu só posso ser feliz se vocês também forem felizes, e devemos pensar exatamente dessa maneira: qual o futuro do Brasil? Eu não vou falar do outro lado político, mas vou falar: qual o futuro do Brasil? O que aconteceu? Por que chegamos a esse ponto? Demoramos a acordar? Nunca é tarde para acordamos e sabemos da verdade. Logicamente, quanto mais tarde você acorda, mais difícil é a missão. Não é eu autorizo, não. É o que eu posso fazer pela minha pátria
Bolsonaro em discurso a apoiadores em 9 de dezembro de 2022