Sem câmera corporal, Bope tenta impedir advogado de filmar ação na Rocinha
Agentes do Bope (Batalhão de Operações Especiais) do Rio de Janeiro foram flagrados sem câmeras corporais durante operação na Rocinha, na zona sul, para cumprir mandados de prisão contra procurados na manhã desta terça-feira (17).
O que aconteceu
Um agente do Bope tentou impedir que um advogado filmasse a ação da polícia na Rocinha. O caso aconteceu na manhã desta terça, durante uma operação da polícia para prender suspeitos de integrarem o Comando Vermelho.
Policial exigiu que advogado parasse a gravação. Durante a operação, o advogado Alberico Montenegro foi acionado pela Associação de Moradores da Rocinha para acompanhar uma denúncia de abuso de autoridade.
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Em um beco onde foi registrada uma morte, na Rocinha, os policiais não portavam a câmera corporal. Segundo o advogado, ao notar que parte dos policiais não registravam a operação, decidiu questionar um agente sobre a ausência do equipamento — quando um deles exigiu que Montenegro interrompesse a gravação.
Aproximadamente 400 policiais militares participaram da ação, de 11 batalhões da cidade. Segundo Montenegro, os únicos agentes que portavam as câmeras estavam na estrada da Gávea, distante do principal ponto alvo da operação, uma localidade chamada Dioneia.
Fui acionado pela associação de moradores, eles me disseram que havia abuso de autoridade nessa operação. Chegando até o local, identificamos que vários policiais não portavam a câmera corporal. Na Via Ápia e na Estrada da Gávea, todo mundo portava. Mas no beco, onde houve um confronto com uma vítima fatal, eles não tinham a câmera corporal.
Alberico Montenegro
Ao UOL, o advogado disse que solicitou as imagens das câmeras de todos os policiais que participaram da operação. Segundo Montenegro, houve abuso de autoridade na ação e o registro da morte na manhã de hoje, atribuída a um confronto, foi um episódio de abuso policial. De acordo com familiares de Victor dos Santos Lima, estava desarmado e tentou se render, mas ainda assim foi atingido. Segundo familiares, não havia mandado de prisão contra ele.
Mataram meu marido sem nada na mão. O Bope entrou, matou ele lá no final da [rua] Dioneia e não querem deixar a gente pegar o corpo dele. Não querem nem deixar a gente reconhecer o corpo dele.
Esposa de Vitor, em vídeo enviado ao UOL
Ao questionar um PM sobre as câmeras, segundo Montenegro, eles o mandaram procurar o comandante geral do Bope. De acordo com o advogado, ele não obteve mais respostas sobre a solicitação.
Em junho do ano passado, o ministro Edson Fachin do STF (Supremo Tribunal Federal) manteve a determinação para que agentes da Polícia Militar utilizem câmeras corporais enquanto estiverem na rua. A determinação também é válida para grupos especiais da polícia, como o Bope e o Core.
O UOL questionou a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro sobre a ausência dos equipamentos durante a operação. Caso haja resposta, o texto será atualizado.
A operação
Polícia conseguiu cumprir um mandado de prisão — de 34 em abertos. Segundo nota da Polícia Militar carioca, um suspeito de Goiás, que se escondia na localidade, foi preso. Drogas embaladas, colete a prova de balas e maconha também foram apreendidas pelos policiais.
Centenas de policiais foram convocados para cumprir mandados de prisão contra suspeitos de diferentes estados do Brasil.De acordo com a PM, os homens estariam escondidos dentro da comunidade.
A ação começou antes das 8h da manhã — moradores relataram terem sido acordados ao som de tiros. Nas redes sociais, moradores criticaram a operação, narrando que imóveis e estabelecimentos foram atingidos, explicando que moradores correram risco durante a ação. Vídeos mostram paredes de casas perfuradas com tiros de arma de grosso calibre.
Segundo a polícia, "durante a ação conjunta com o Ministério Público na Comunidade da Rocinha, criminosos armados atiraram contra as equipes policiais, gerando confronto".