Síria: região onde vivem alauitas pro-Assad temem represálias após queda do regime
No reduto alauita do clã Assad, no oeste da Síria, os membros da minoria comemoraram a queda de Bashar al-Assad, mas temem represálias com a chegada ao poder da coalizão rebelde liderada pelo grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS).
Manon Chatelain, correspondente da RFI em Qardaha
O HTS colocou fim ao regime e prometeu proteger as minorias no país, de maioria muçulmana sunita - que corresponde a 70% da população e acredita que o fundador do Islã, o profeta Maomé, não tem um sucessor.
Os muçulmanos xiitas, que equivalem a 13% da população, acreditam que Maomé designou seu primo e genro Ali ibn Abi Talib como o primeiro em uma linha de imãs hereditários.
A maioria dos xiitas da Síria é alauita, como Bashar Al Assad, um grupo étnico-religioso minoritário que vive principalmente na região costeira ocidental da Síria,
Nesta área, as cidades estão ficando vazias e dezenas de homens vieram para Qardaha, a aldeia natal da família Assad, para "caçar" partidários do regime.
"Aqui, nem todos somos pró-regime", lamenta Ahmed, um morador. "Assim que o regime caiu, houve caos. Há muitas pessoas que odeiam nosso vilarejo. Mas a maioria dos habitantes aqui não fez nada! Essas pessoas começaram a nos roubar, não sabíamos se eles eram do HTS (Hayat Tahrir al-Sham) ou não", diz.
Muitas pessoas da cidade tiveram acesso a posições privilegiadas dentro das administrações do regime. Subhi, outro morador, disse que nunca os apoiou. "Nunca matei ninguém, nunca usei armas contra ninguém na Síria. Continuo confiante, nada vai acontecer comigo.
Em Qardaha, os carros do regime foram destruídos e as casas saqueadas. Nos jardins, não sobraram nem as portas do armário, as pias ou os galhos das árvores nos jardins.
"Cortei essa lenha para fazer fogo para meus filhos, porque não tenho nada para aquecê-los. Não há combustível ou qualquer outra coisa em Qardaha. A vida é muito difícil aqui"
Vingança coletiva
"Os alauitas eram muito próximos do regime de Bashar", que vinha dessa minoria, um ramo do islamismo xiita, explica o cientista político Fabrice Balanche, autor do livro "As Lições da Crise Síria".
De acordo com Balanche, "sua associação com o regime corre o risco de provocar vingança coletiva contra eles. Especialmente porque eles são considerados hereges pelos islâmicos."
Em uma declaração conjunta, os líderes religiosos da comunidade alauita pediram uma anistia geral para todos os sírios e garantias para o retorno seguro dos deslocados.
Enquanto os amigos sunitas da estudante alauíta compartilham mensagens de unidade online, a jovem diz que está preocupada com muitos comentários odiosos. "Eu li: 'Sua vez chegará' ou 'Nós vamos te matar'", disse ela, acrescentando que sentiu "muita tensão na comunidade".
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos (SOHR) relatou vários atos de violência por combatentes rebeldes nesta região costeira desde a queda de Bashar al-Assad, particularmente contra civis. O HTS afirmou que seu governo "garantirá os direitos de todos os povos e crenças".
(RFI e AFP)