Quem é quem no racha da banca evangélica - e quem tem apoio de Malafaia?
Pela primeira vez, a decisão de quem será o presidente da Frente Parlamentar Evangélica do Congresso Nacional será feita via votação. Prevista para fevereiro de 2025, a disputa tem provocado embates entre os deputados que almejam o cargo e provocado racha entre membros da bancada, que tem 219 deputados e 26 senadores signatários.
Veja abaixo os principais personagens dessa disputa, incluindo Malafaia, influente na bancada.
Otoni de Paula (MDB-RJ) - candidato que se aproxima de Lula
O deputado é filho de Otoni de Paula Pai, que também fez carreira na política. Antes de compor a Câmara, Otoni de Paula foi vereador no Rio de Janeiro. O parlamentar foi eleito em 2016 e em 2018 concorreu para deputado federal, vencendo pelo PSC como o 7º mais votado do estado à Câmara dos Deputados. Em 2022, ele se filiou ao MDB e conseguiu se reeleger a deputado federal. Atualmente, de Paula é um dos principais nomes para assumir a presidência da Frente Parlamentar Evangélica.
Nos últimos anos, de Paula tem se afastado da direita e de seus principais nomes. Próximo a Jair Bolsonaro, o deputado apoiou o então candidato nas eleições e nas votações na Câmara. No entanto, de Paula passou a criticar a atuação do ex-presidente, alegando que a frente evangélica não teve "nenhum avanço" ao longo do governo de Bolsonaro. Ainda segundo de Paula, Bolsonaro se apropriou do discurso conservador sem dar poder e cargos aos evangélicos.
De Paula é criticado pelos demais membros da bancada pelo crescente apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na atual corrida pela presidência da bancada evangélica, de Paula nega que seja defensor dos interesses do atual governo e acusa seus adversários de alinhar a bancada com o bolsonarismo.
Em outubro, o presidente Lula sancionou projeto de lei visto como um aceno aos evangélicos. O projeto institui o Dia Nacional da Música Gospel a ser celebrado no dia 9 de junho, nascimento de Frida Maria Strandberg Vingren (1841-1940), missionária e escritora ligada à Assembleia de Deus.
Gilberto Nascimento (PSD-SP) - candidato à direita
Gilberto Nascimento foi eleito deputado pela primeira vez em 2003, pelo PSB. Pelo PSC, o político voltou à Câmara em 2015 e segue em exercício, com mandato até 2027. Em 2023, filiou-se ao PSD.
Cristão declarado, Nascimento é próximo a representantes da direita. Nas eleições de 2022, o deputado celebrou em suas redes sociais a vitória de Tarcísio de Freitas (Republicanos) para o governo de São Paulo. Ainda em seu Instagram, o deputado compartilha eventos como o Culto e Santa Ceia da Frente Parlamentar Evangélica e sessões solenes em homenagem ao Dia da Bíblia e ao Dia do Evangélico.
Principal adversário de Otoni de Paula, Nascimento afirma ser um candidato independente à presidência da bancada evangélica. Segundo de Paula, no entanto, a candidatura de Nascimento é uma indicação do pastor Silas Malafaia.
Silas Malafaia - nome forte e influente na bancada
Com presença em diferentes formas de divulgação de conteúdo evangélico, o pastor é conhecido especialmente pela trajetória na TV. Malafaia foi o responsável por um dos primeiros programas do ramo na televisão, hoje chamado "Vitória em Cristo" e tem forte atuação em palestras e conferências. Malafaia escreveu livros, lançou CDs e DVDs e fundou uma editora evangélica, a Central Gospel.
Envolvido na política, Malafaia é forte apoiador de Jair Bolsonaro. Em suas redes sociais, Malafaia compartilha publicações em defesa do ex-presidente e diversos vídeos nos quais faz "denúncias", como o entitulado "A farsa do golpe a todo vapor para atingir Bolsonaro", publicado no final de novembro.
Apesar do apoio, Malafaia criticou a atuação do líder do ex-presidente nas eleições municipais de 2024. O pastor indicou que Bolsonaro "errou estupidamente" e foi "covarde" e "omisso" ao não apoiar enfaticamente candidatos com o apoio institucional do PL. Após o episódio, Malafaia garantiu que havia feito as pazes com Bolsonaro, que declarou: "Ele ligou a metralhadora, mas isso passa. Eu amo o Malafaia".
Segundo Otoni de Paula, Malafaia busca intervir na presidência da Frente Parlamentar Evangélica. Para o deputado, o pastor trabalha com objetivo de manter a bancada alinhada ao bolsonarismo. Malafaia nega, afirmando não ter entrado em contato com nenhum deputado para discutir o tema. "Como estou agindo nos bastidores se não liguei para nenhum deputado?", questiona Malafaia.
Na avaliação de Malafaia, o governo está se aproximando de Otoni para torná-lo líder da bancada. O pastor concorda que Gilberto Nascimento tem uma postura independente e não alinha os interesses evangélicos com o governo federal.
Silas Câmara (Republicanos-AM) - atual líder
Atual presidente da bancada evangélica, Silas Câmara é deputado federal desde 2003. Câmara ocupa o cargo pela quarta vez e atua como pastor da Igreja Assembleia de Deus. Formado em jornalismo e teologia pela Faculdade Boas Novas, em Manaus, o deputado preside também a Comissão de Comunicação da Câmara.
O deputado é autor de um projeto de lei que propõe a instituição da Data Nacional do Jejum, Arrependimento e Perdão. Aprovada pela Comissão de Constituição, Justiça e de Cidadania na última semana, o projeto de lei visa "estabelecer um momento de reflexão e espiritualidade para a população brasileira", conforme publicação da Frente Parlamentar Evangélica em seu perfil no Instagram.
Em janeiro deste ano, o Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas (TRE-AM) cassou o mandato de Silas Câmara. O deputado era acusado de captação de recursos ilícitos e abuso de poder econômico na campanha de 2022. No entanto, a cassação foi suspensa em agosto após decisão do mesmo tribunal, que avaliou a revisão da decisão solicitada pela defesa de Câmara.
O líder da frente evangélica atribuiu a disputa pela presidência da bancada à falta de uma liderança incontestável. Segundo membros da bancada, a frente já dava sinais de divisão interna com o mandato em conjunto entre Câmara e Eli Borges (PL-TO).
Eli Borges (PL-TO) - divide a atual liderança com Silas
Natural de Goiás, Eli Borges é deputado federal desde 2019, quando era filiado ao Solidariedade. Eleito pelo PL em Tocantins, Borges se diz "deputado da família e do agronegócio" em seu perfil nas redes sociais.
O deputado atua também como pastor e é defensor das escolas cívico-militares no Brasil. Segundo Borges, este modelo representa "um pilar importante na formação de valores que moldam caráter e promovem o respeito à família e à sociedade".
Eli Borges é alinhado ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Desde fevereiro de 2023, o deputado revezou a presidência da frente com Silas Câmara, sendo que cada deputado permanece no cargo por seis meses até as próximas eleições.