Ministra das Finanças do Canadá pede demissão após choque com Trudeau sobre tarifas de Trump e gastos
Por David Ljunggren e Ismail Shakil
OTTAWA (Reuters) - A ministra das Finanças do Canadá, Chrystia Freeland, pediu demissão nesta segunda-feira após entrar em conflito com o primeiro-ministro Justin Trudeau em questões que incluíam como lidar com possíveis tarifas dos EUA, desferindo um golpe inesperado em um governo já impopular.
Em uma carta de demissão contundente, Freeland rejeitou a pressão de Trudeau para aumentar os gastos, classificando-a como um artifício político que poderia prejudicar a capacidade do Canadá de lidar com as tarifas de importação de 25% que o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, afirma que irá impor.
A renúncia de Freeland, de 56 anos, que também atuou como vice-primeira-ministra, é uma das maiores crises que Trudeau enfrenta desde que assumiu o poder em novembro de 2015. Também o deixa sem uma aliada importante no momento em que caminha para perder a próxima eleição para os conservadores, a oposição oficial ao governo.
O ministro da Segurança Pública, Dominic LeBlanc, membro do círculo íntimo de Trudeau, foi rapidamente nomeado novo ministro das Finanças.
A bancada liberal nacional deve se reunir ainda nesta segunda-feira, segundo a CBC, sem dar detalhes. Dois parlamentares liberais renovaram seus pedidos para que Trudeau renuncie.
Freeland pediu demissão poucas horas antes de apresentar uma atualização econômica ao Parlamento. O documento mostrava que o governo registrou um déficit orçamentário muito maior do que o previsto.
Trudeau também foi pressionado a sair pelos Novos Democratas, um partido menor da oposição que, no início deste ano, retirou seu apoio incondicional ao governo minoritário dos liberais, mas continuou a apoiar o primeiro-ministro em algumas legislações no Parlamento.
"Estou pedindo a Justin Trudeau que renuncie. Ele tem que sair", disse o líder do partido, Jagmeet Singh, a repórteres, a primeira vez que pediu inequivocamente que o primeiro-ministro renunciasse.
Singh não respondeu diretamente às perguntas sobre se continuaria a apoiar Trudeau no Parlamento, dizendo que todas as opções estão sobre a mesa.
Trudeau pode ser derrubado se os partidos de oposição se unirem contra ele em um voto de desconfiança, embora isso não possa acontecer até o próximo ano.
O Parlamento entrará em recesso para o Natal na terça-feira e retornará apenas em 27 de janeiro.
Horas antes, o líder conservador, Pierre Poilievre, afirmou que o governo está fora de controle.
"Não podemos aceitar esse tipo de caos, divisão, fraqueza, enquanto estamos encarando a ameaça de uma tarifa de 25% de nosso maior parceiro comercial... simplesmente não podemos continuar assim", disse, a repórteres.
Freeland afirmou que estava se demitindo após uma reunião na última sexta-feira com Trudeau, que pediu que ela assumisse um cargo menor depois que os dois discutiram por semanas sobre gastos.
Uma fonte liberal disse que Trudeau queria que Freeland atuasse como ministra sem nenhuma pasta específica, lidando com as relações entre Canadá e EUA apenas no nome -- o que efetivamente seria um grande rebaixamento.
(Reportagem adicional de Nivedita Balu em Toronto)