Macron convoca reunião de crise para discutir situação em Mayotte após passagem de ciclone
No arquipélago francês de Mayotte, as autoridades correm contra o tempo para ajudar as vítimas do ciclone Chido. Os ministros do Interior e dos Territórios Ultramarinos, Bruno Retailleau e François-Noël Buffet, chegaram nesta manhã à ilha, onde falta água e comida. O presidente francês, Emmanuel Macron, fará uma reunião de crise com sua equipe às 18h no horário local.
O balanço provisório é de 20 mortos, mas o ciclone pode ter deixado centenas de vítimas. De acordo com o prefeito François-Xavier Bieuville, "certamente haverá várias centenas ou mesmo milhares" de mortos diante da "violência" do ciclone", declarou.
O hospital da ilha foi parcialmente destruído e várias clínicas não estão funcionando, segundo a ministra da Saúde francesa, Geneviève Darrieussecq.
"O hospital sofreu danos significativos causados pela água, bem como deterioração, particularmente na parte cirúrgica, reanimação, emergência, maternidade, partes essenciais da operação do hospital", disse a ministra francesa ao canal de TV France 2.
O objetivo, disse, é gerenciar o "fluxo de novos pacientes". Para isso, "precisamos fortalecer o hospital" com recursos humanos e materiais, explicou Geneviève Darrieussecq.
Ela anunciou o envio de profissionais e de remessas de equipamentos para manter o estabelecimento aberto, ainda que parcialmente.
Além disso, um "hospital de campanha" também será implantado. Até agora, a "a prioridade era identificar os doentes crônicos graves e evacuá-los" para a Ilha da Reunião, disse a ministra.
Mayotte tem oficialmente 320 mil habitantes, "mas a estimativa é de que haja entre 100 mil a 200 mil pessoas, levando em conta a imigração ilegal", acrescentou.
Segundo essa fonte, poucos residentes ilegais chegaram aos centros de acolhimento antes da passagem do ciclone, "provavelmente por medo de serem controlados".
Com rajadas de vento de mais de 220 km/h, o ciclone Chido - o mais intenso a atingir Mayotte em 90 anos - devastou o pequeno arquipélago no sábado (14), onde cerca de um terço da população vive em moradias precárias, totalmente destruídas.
Chido foi provavelmente favorecido por águas superficiais próximas a 30°C na área, o que fornece mais energia para tempestades, um fenômeno de aquecimento global também observado neste outono no Atlântico Norte e no Pacífico.
O impacto do ciclone em Mayotte foi excepcional porque seu atingiu diretamente a terra.
Os habitantes, confinados durante a passagem do ciclone, descobriram, espantados, cenas de caos. Em todo o território, muitas estradas ficaram bloqueadas.
A torre de controle do aeroporto de Mayotte-Dzaoudzi também sofreu danos. A retomada dos voos comerciais está prevista para "na melhor das hipóteses, dez dias", disse uma fonte do território ultramarino à AFP na segunda-feira.
Uma ponte aérea e marítima foi implantada a partir da ilha de Reunião, a 1.400 km de distância, para enviar equipamentos e pessoal médico e de resgate.
O sistema de apoio também é composto por três aeronaves e dois navios militares, de acordo com o Estado-Maior das Forças Armadas.
Favelas destruídas
"Todas as favelas foram afetadas, o que sugere um número considerável de vítimas", disse à AFP uma fonte próxima às autoridades.
As equipes de resgate esperam encontrar muitas vítimas nos escombros das favelas, especialmente nos pontos mais altos de Mamoudzou, segundo o prefeito da cidade, Ambdilwahedou Soumaila.
Em Mamoudzou, "não sobrou nada", declarou Bruno Garcia, gerente de um hotel danificado ao norte da capital do departamento, ao jornalista Charles de Quillacq, do canal Mayotte 1ère.
Bruno, como muitos outros moradores, passou a noite no escuro porque quase não há eletricidade no arquipélago, que está isolado do mundo, já que a rede telefônica funciona mal.
"O estrago não é apenas nas favelas, mas em estruturas como o Conselho Departamental, o Conselho Geral e a Câmara Municipal. As administrações não têm mais teto. Alguns dos meus vizinhos já estão com fome e sede", disse Lucas Duchaufour, fisioterapeuta que mora na cidade de Labattoir.
Há um clima de insegurança e os moradores descreveram cenas de saques na zona industrial de Kawéni, em Mamoudzou.
"Temos medo de ser atacados, de ser saqueados", disse Océane, enfermeira do hospital de Mayotte à BFMTV. Cerca de 1.600 policiais estão mobilizados no local, em particular para "evitar saques", de acordo com o prefeito.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, garantiu que a UE estaria pronta para ajudar a França "nos próximos dias".