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Cuidado com o vermelho! Como as cores na vitrine nos deixam ansiosos por comprar?

Vitrine de loja em uma das regiões mais chiques de Madri Imagem: Divulgação

16/12/2024 05h30

Ao ver uma vitrine toda colorida, entrar em uma loja enfeitada ou navegar por um site de compras, você pode não perceber, mas as cores ao seu redor estão desempenhando um papel crucial para influenciar em como você reage aos produtos e até mesmo no quanto está disposto a gastar.

Essa influência é conhecida como psicologia das cores e é bastante utilizada por marcas e comerciantes para criar sensações específicas nos consumidores e aumentar as vendas.

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"As cores têm uma forte influência sobre o comportamento do consumidor devido às suas associações psicológicas e emocionais. As cores podem impactar a percepção do produto, a intenção de compra e a experiência geral de compra. Até 90% das avaliações iniciais de produtos são baseadas na cor, e ela pode influenciar a decisão de compra em até 85%", afirma Fernando Gomes, neurocientista e professor livre docente da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, a FMUSP.

Nessa época em que antecede o Natal é comum encontrarmos o vermelho em quase todas as vitrines e também em anúncios de promoção. Essa cor não é escolhida por acaso. O vermelho é associado pelo nosso cérebro como urgência e excitação, criando um sentimento de escassez ou de oportunidade.

Tons de amarelo e laranja também estão no topo das cores mais usadas para influenciar o consumo porque elas transmitem sentimentos como calor e otimismo, podendo induzir a uma sensação de ansiedade e de compra impulsiva.

Por outro lado, é difícil encontrar marcas e propagandas que tenham o branco como predominante porque ele estimula o pensamento lógico em nosso cérebro. "Essa ausência de cor que o branco representa é percebida pelo cérebro no córtex frontal esquerdo, uma área responsável pelo pensamento lógico e promove a sensação de calma que atenua a vontade de comprar", detalha Gomes.

Forte cultura visual

Os especialistas ouvidos pela reportagem apontam que os consumidores brasileiros são particularmente receptivos aos estímulos visuais devido à forte cultura visual presente no país. Isso diferencia o comportamento de consumo no Brasil em relação a outras regiões, como a Europa, onde o foco recai, na maioria das vezes, sobre fatores como a qualidade do produto.

Outra particularidade do Brasil é que o consumo é fortemente influenciado por datas sazonais como o Natal, por exemplo, e nessas épocas as cores desempenham um papel de ainda mais destaque.

"No Brasil, as compras de fim de ano estão profundamente ligadas à cultura da celebração e ao calor emocional das festas. Isso reflete um comportamento mais impulsivo e menos racional, especialmente devido à combinação de altas temperaturas, campanhas agressivas de marketing e o apelo visual vibrante característico da época", detalha Arthur Costa, psicanalista e professor sênior da Associação Brasileira de Psicanálise Clínica (ABPC).

"Além disso, o brasileiro valoriza muito o aspecto estético, o que potencializa o impacto das cores em vitrines e campanhas. Comparado a outras populações, o senso de urgência e a necessidade de presentear podem ser mais marcantes, alinhados ao desejo de compartilhar e celebrar", acrescenta Costa.

Como não fazer compras por impulso

Para evitar gastos desnecessários e que a psicologia das cores impacte no consumo é preciso ficar atento a esses estímulos e seguir algumas estratégias.

Antes de comprar, é importante listar os produtos que você planeja comprar e definir um orçamento máximo a ser gasto com as compras. Isso ajuda a reduzir a vulnerabilidade aos impulsos visuais.

"É importante seguir a lista e não comprar nada do que estiver fora dela. Caso se depare com alguma oferta de item que não está listado, o que se tem a fazer é colocá-la na próxima lista. Essa ação faz com que o consumidor saia do momento do impulso e só compre quando tiver certeza", orienta o economista Allan Couto.

Já no ambiente online, considere usar aplicativos que bloqueiam anúncios para minimizar a exposição às estratégias de marketing visual utilizadas pelas marcas e empresas. Outra dica é desativar as notificações dos aplicativos que fazem ofertas, reduzindo assim os estímulos.

Além disso, é importante cultivar o hábito de questionar a real necessidade de um produto antes de adquiri-lo, reduzindo assim as compras por impulso.

"Essa reflexão ajuda a reduzir o impacto da emoção imediata na decisão de compra. Enquanto países da Europa, onde o parcelamento de compras, por exemplo, não é comum, a população tem um consumo mais consciente e maduro. No Brasil, ainda lidamos com um padrão de consumo adolescente. Consumimos para pertencer e, só depois, enfrentamos as consequências. Isso resulta em altas taxas de endividamento, que afetam não apenas as finanças, mas também a saúde mental, as relações familiares e até as estruturas sociais", acrescenta a psicanalista Ana Lisboa.

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