Alemanha terá novas eleições; confira os cenários após Scholz perder a confiança do Parlamento
O chanceler alemão, o social-democrata Olaf Scholz, perdeu, nesta segunda-feira (16), uma moção de confiança no Bundestag, a câmara baixa do Parlamento. O resultado da votação abre caminho para a realização de eleições gerais antecipadas em 23 de fevereiro.
Com AFP e o correspondente em Berlim, Marcio Damasceno
A votação no Bundestag, que Scholz já esperava perder, permite ao presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, dissolver a legislatura e declarar formalmente o retorno às urnas.
A votação aconteceu após um intenso debate no plenário, onde os partidos se acusaram mutuamente pelo adiantamento das eleições.
Scholz, de 66 anos, aspira a outro mandato, mas está fragilizado nas pesquisas, ficando atrás do líder da oposição conservadora, Friedrich Merz, da União Democrata-Cristã (CDU), o partido da ex-chanceler Angela Merkel.
Após mais de três anos no poder, a coalizão tripartite liderada pelo Partido Social-Democrata (SPD) de Scholz, junto com os Verdes e o Partido Democrático Liberal (FDP), implodiu em 6 de novembro, quando Scholz demitiu seu ministro das Finanças, Christian Lindner, do FDP, e a coalizão colapsou.
A Alemanha está há meses em crise política, ao mesmo tempo em que tenta dinamizar a sua economia, prejudicada pela alta dos preços da energia e pela dura concorrência da China. O governo de Berlim também enfrenta os desafios impostos pela guerra da Rússia na Ucrânia e pelo iminente retorno de Donald Trump à Casa Branca, que coloca em dúvida as futuras relações comerciais com os Estados Unidos.
Essas questões foram o foco do acalorado debate desta segunda-feira entre Scholz, Merz e outros líderes políticos. Por fim, 207 parlamentares mantiveram a confiança em Scholz, enquanto 394 votaram contra, com 116 abstenções.
Guerra
Durante o debate, Scholz argumentou que seu governo conseguiu fortalecer as Forças Armadas que os governos anteriores, liderados pela CDU, haviam deixado "em um estado deplorável".
"Já é hora de investir poderosamente e de forma decisiva na Alemanha", disse Scholz, alertando que "uma potência nuclear altamente armada [Rússia] está travando uma guerra na Europa a apenas duas horas de voo daqui".
Merz, no entanto, respondeu que Scholz havia abandonado o país "em uma das maiores crises econômicas do pós-guerra". "Você teve sua chance, mas não a aproveitou [...] O senhor, Scholz, não merece confiança", disse.
Merz, um ex-advogado que nunca ocupou um cargo no governo, foi um dos principais críticos da coalizão tripartite que dava apoio ao governo liderado por Scholz, que se desfez por desacordos fiscais e econômicos.
Durante o debate que antecedeu a votação, Scholz voltou a criticar Lindner pela "sabotagem" que destruiu a coalizão e prejudicou "a reputação da democracia".
Desde a saída do FDP, Scholz lidera um governo minoritário com os Verdes, incapaz de aprovar projetos de lei importantes ou um novo orçamento.
O panorama político alemão está mais fragmentado do que nunca desde o surgimento, nos últimos anos, do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD). A AfD passou de ser um partido marginal eurocético a se tornar uma força política importante, e agora conta com cerca de 20% do apoio do eleitorado.
Pesquisas dão a Scholz pouca chance de vitória
Ao se submeter à moção de confiança, Scholz apostou em uma estratégia de "perder para ganhar" em uma nova eleição. Entretanto, segundo as pesquisas, as chances do social-democrata conseguir vencer as eleições parlamentares em fevereiro e continuar governando o país com uma coalizão estável são reduzidas.
Scholz é um governante bastante impopular, que nos últimos tempos tem tido um péssimo desempenho nas pesquisas. Se as eleições fossem hoje, ele provavelmente não conseguiria uma maioria para liderar um novo governo.
Uma sondagem divulgada neste fim de semana pelo jornal Bild mostra como favorita para vencer o pleito a aliança oposicionista dos conservadores democratas-cristãos dos partidos CDU e CSU, com 31% dos votos.
A extrema direita aparece como a segunda força política, com 20%, à frente do SPD de Scholz, que obteria 17%. O Partido Verde aparece com 11% das intenções de voto, enquanto os populistas do partido Aliança Sahra Wagenknecht (BSW) ficariam com 8%. Já os liberais do FDP somariam apenas 5% dos votos.
Merz já declarou várias vezes que não governaria com a extrema direita, caso vença a eleição. Por isso, muitos analistas questionam se a votação de fevereiro não irá consagrar o retorno do que os alemães chamam de "grande coalizão", reunindo os convervadores e social-democratas. Mas outras configurações são possíveis, dependendo da votação dos Verdes.