Ciclone Chido atinge Moçambique com chuvas torrenciais após devastar arquipélago francês de Mayotte
O ciclone tropical Chido chegou ao norte de Moçambique na manhã deste domingo (15), trazendo ventos violentos e chuvas torrenciais, após deixar ao menos 14 mortos e causar destruição no arquipélago francês de Mayotte, no Oceano Índico. Classificado como o território mais pobre da França, Mayotte ainda avalia os danos provocados pelo fenômeno, no sábado. As duas ilhas do arquipélago tiveram grandes áreas destruídas, forçando uma mobilização sem precedentes de equipes de resgate.
O ciclone tropical se intensificou ao cruzar o Canal de Moçambique durante a noite, tocando a terra cerca de 40 km ao sul da cidade de Pemba, informou o serviço meteorológico local. "O ciclone já atinge Pemba com muita intensidade. Estamos monitorando a situação, mas não há comunicação com a cidade desde as 7h da manhã", afirmou Adérito Aramuge, diretor do Instituto Nacional de Meteorologia de Moçambique.
A Unicef, que atua na região, informou que está mobilizada para prestar assistência às pessoas afetadas pela tempestade, que já provocou danos significativos. "Inúmeras casas, escolas e unidades de saúde foram parcial ou totalmente destruídas. Estamos trabalhando em estreita colaboração com o governo para garantir a continuidade dos serviços essenciais", destacou a agência da ONU em comunicado oficial.
Os serviços meteorológicos moçambicanos alertaram para tempestades, ventos com rajadas de até 260 km/h e chuvas torrenciais de mais de 250 mm em 24 horas nas províncias de Cabo Delgado e Nampula. Imagens de Pemba mostram chuvas intensas, ventos dobrando árvores e casas danificadas pela força da tempestade.
Cenário apocalíptico em Mayotte
De acordo com um balanço preliminar, o ciclone tropical, de intensidade excepcional, causou pelo menos 14 mortes no pequeno arquipélago francês do Oceano Índico, informou uma fonte de segurança na manhã deste domingo.
O prefeito de Mamoudzou, Ambdilwahedou Soumaila, relatou que nove pessoas em estado grave foram atendidas no Centro Hospitalar de Mayotte (CHM), além de 246 em situação de urgência moderada. "O hospital foi atingido, as escolas foram afetadas, e várias casas estão completamente devastadas. Nada foi poupado em seu caminho", descreveu.
Com rajadas de vento superiores a 220 km/h, o ciclone Chido é o mais intenso a atingir o território ultramarino francês em mais de 90 anos, segundo a agência Météo France. A tempestade arrancou telhados da maioria das casas, derrubou postes de energia e árvores.
Cerca de um terço da população do arquipélago, estimada em 320 mil habitantes, vive em condições precárias, em barracos nas encostas, e essas habitações foram "completamente destruídas", afirmou o ministro do Interior da França, Bruno Retailleau. Ele deve visitar a região na segunda-feira.
Ibrahim, morador de Mayotte, relatou o cenário de destruição enquanto tentava liberar estradas na manhã de domingo. "Somente algumas casas de alvenaria resistiram. Não sobrou nada das favelas", disse.
Muitos imigrantes sem documentos, que vivem em áreas precárias, não buscaram os abrigos disponibilizados pela prefeitura por temerem ser detidos e deportados, explicou Ousseni Balahachi, enfermeiro aposentado e representante sindical. "Essas pessoas ficaram até o último minuto. Quando perceberam a intensidade do ciclone, entraram em pânico e buscaram refúgio, mas já era tarde demais, com telhas voando por toda parte", lamentou.
Na sexta-feira, as autoridades se apressaram em divulgar que os imigrantes ilegais não precisavam ter medo de buscar abrigo, pois não seriam presos, mas uma das primeiras medidas do atual ministro do Interior foi organizar voos de deportação de imigrantes de Mayotte. Neste domingo, ele reconheceu que a situação no arquipélago é "dramática", pois muitas pessoas foram soterradas pelos deslizamentos de terra nas favelas.
Cerca de 100 mil pessoas que moravam em habitações frágeis, como casas de chapa metálica, haviam sido identificadas pelas autoridades para serem acolhidas em mais de 70 centros de emergência. No entanto, a comunicação limitada e o estado de choque da população dificultam o levantamento de informações, com muitos moradores isolados, sem água e energia elétrica.
Resgate e logística
Com as comunicações comprometidas, o número exato de vítimas ainda é incerto. A tradição muçulmana da maioria da população de Mayotte, que prevê o sepultamento no mesmo dia da morte, também complica a contabilização, informou o Ministério do Interior francês.
Bruno Retailleau alertou que serão necessários "vários dias" para se obter um balanço mais preciso. Em visita à Córsega, o papa Francisco declarou solidariedade às vítimas da tragédia durante a oração do Ângelus na catedral de Ajaccio.
O coordenador de segurança da região realizou uma reunião de crise na manhã deste domingo. Mais de 160 militares da segurança civil e bombeiros da França continental estão a caminho para reforçar os 110 que já estavam no arquipélago. Até quarta-feira, 800 pessoas serão enviadas a Mayotte para ajudar a população. Operações aéreas e marítimas começaram no domingo para transportar equipes médicas e suprimentos.
A deputada de Mayotte, Estelle Youssouffa, pediu ao governo francês que declare estado de emergência para proteger vidas e propriedades. Segundo François Gourand, meteorologista da Météo-France, o ciclone Chido é "excepcional" por ter atingido diretamente o arquipélago e por sua força ter sido amplificada pelas temperaturas elevadas do Oceano Índico, atribuídas às mudanças climáticas.
Embora o nível de alerta tenha sido reduzido de violeta para vermelho no sábado, permitindo a mobilização dos socorristas, o governo local pediu que os 320 mil habitantes permaneçam "confinados" e "solidários" durante este momento de crise.
(Com AFP)