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Por renda extra, mãe abre brechó de brinquedos usados; fatura R$ 15 mil/mês

Viviane dos Santos é dona do Brinquechó, brechó especializado em brinquedos usados - Carlos Alberto Silva/Divulgação
Viviane dos Santos é dona do Brinquechó, brechó especializado em brinquedos usados Imagem: Carlos Alberto Silva/Divulgação
do UOL

Claudia Varella

Colaboração para o UOL, em São Paulo

15/12/2024 05h30

Sabe o que Viviane dos Santos, 38, fez com os brinquedos "encalhados" da sua filha? Transformou tudo em negócio. Ela abriu, em 2022, o Brinquechó, brechó especializado em brinquedos usados, para driblar dificuldades financeiras. Hoje fatura R$ 15 mil por mês, em média. A empresa do Espírito Santo tem operação 100% online, e o WhatsApp é o principal canal de venda.

Como surgiu a ideia do brechó

Em 2021, Viviane foi demitida da empresa onde trabalhava, em Vitória (ES). Por seis meses, ela passou perrengues e fez bicos, como trabalhar em feiras. "Eu passei por um momento bastante difícil em 2021. Pós-pandemia, divorciada, desempregada, com dívidas, eu comecei a fazer bicos e a vender tudo que era supérfluo em casa: jóias, ar-condicionado, objetos de decoração", diz. Viviane começou a acumular dívidas, principalmente no cartão de crédito. O montante, com juros sobre juros, chegou a R$ 32 mil.

"Para blindar a minha filha de toda essa situação e criar um ambiente lúdico para ela, eu construía brinquedos artesanais. Eram brinquedos feitos de papelão, de ripas de madeira de uma cama que desmontei e de materiais reciclados. Ela tinha foguete de papelão, casinha de madeira e muitos outros, fora os brinquedos comprados que a Júlia já tinha", diz Viviane.

Em fevereiro de 2022, ela arrumou um emprego assalariado. Ganhava cerca de R$ 2.000 por mês. "Mas o salário dava apenas para pagar as contas do mês, e nada para abater a dívida. Tive uma crise de pânico", declara.

Uma amiga sugeriu que Viviane vivesse além da maternidade e cuidasse mais dela. "Esse foi o estalo que precisava. Na hora, me veio à memória o tanto de brinquedos que minha filha [Júlia, 6] tinha e não brincava mais. Minha amiga sugeriu que eu doasse os brinquedos, mas eu pensei: 'Não vou doar esses brinquedos, não! Vou vender, estou precisando de dinheiro'", afirma Viviane.

Conversei com Júlia e, juntas, selecionamos o que ela não brincava mais. Sempre respeitei a vontade dela.
Viviane dos Santos, dona do Brinquechó

Ela criou o Brinquechó em outubro de 2022. "Virei uma noite, pesquisando empresas parecidas, pensando em um nome. Criei o nome da marca Brinquechó, fiz um logo improvisado no Canva e abri uma conta no Instagram. Coloquei a conta no ar com todos os posts e comecei a divulgar em grupos de WhatsApp", diz ela, que começou a participar de grupos de compra e venda no WhatsApp. Os primeiros brinquedos vendidos foram um playset do Trolls (uma espécie de mini casinha) e duas pelúcias: uma Minnie e uma Peppa Pig. Todos da filha.

Fiz uma política de desapego e, naquela noite mesmo sem dormir, eu retomei um pouco de mim. Me senti retomando as rédeas da minha situação.
Viviane dos Santos, dona do Brinquechó

Nos primeiros dois meses, ela faturou R$ 10 mil. "Quitei algumas contas atrasadas, como aluguel e condomínio, e vi que poderia me dedicar a fazer esse negócio prosperar", declara. Pediu demissão do emprego em fevereiro de 2023, para se dedicar ao negócio.

A ideia inicial era complementar a renda. "Mas desde o início, eu encarei o Brinquechó como uma empresa, pois eu sabia que, para fazer dar certo, teria que levar a sério a minha ideia. E à medida que as vendas foram acontecendo, que fui conquistando fornecedores —pais desapegando dos brinquedos dos filhos — e clientes. Vi que estava construindo um novo modelo de negócio e que valia a pena a minha dedicação", declara.

Um dia ouvi a seguinte frase: 'Se não tiver mercado, crie o seu'. E eu criei o meu. Aqui é um brechó, não é um bazar.
Viviane dos Santos, dona do Brinquechó

Como a empresa funciona

O Brinquechó trabalha pelo sistema de consignação. Viviane faz a intermediação entre fornecedores e clientes. Segundo ela, 60% do valor líquido da venda é repassado ao fornecedor. A operação é 100% online.

Ela faz a triagem e a higienização dos brinquedos. Todos os brinquedos passam por uma triagem, para observar a integridade, o funcionamento e a raridade do produto. A higienização é feita quando necessário. Para isso, ela cobra uma taxa de 10% a 30% do valor do item, dependendo do estado (brinquedos poeirados ou com mancha de caneta, por exemplo).

Os brinquedos são específicos por faixa etária. A criança vai desfrutar daquele brinquedo por pouco tempo apenas. Por isso, desapegue dele.
Viviane dos Santos, dona do Brinquechó

Bonecas e carrinho são mais vendidos

O Brinquechó vende todos os tipos de brinquedos. Mas, segundo ela, os mais desejados são Barbies e pistas de Hot Wheels. "Toda semana eu recebo brinquedos dos meus fornecedores e faço uma triagem. Chega de tudo: casinha de boneca, bonecas de todos os tamanhos e tipos, jogos de tabuleiro, pistas para carrinhos, carrinhos, bonecos de heróis, bicicleta, patins. Ao longo destes dois anos, os mais vendidos foram bonecas e carrinhos", afirma.

WhatsApp é o principal canal de venda. Após a triagem, ela faz a limpeza, fotografa e faz vídeo. "Posto primeiro nos grupos de WhatsApp. E tudo o que é postado, é vendido. É muito raro termos brinquedos iguais e é imprevisível saber o que vai chegar. Então, é sempre uma oportunidade única de adquirir aquele brinquedo", diz. A marca tem dois grupos de WhatsApp. Juntos, eles têm cerca de 1.000 participantes. Segundo ela, 95% das vendas são feitas pelos grupos de Whats da marca.

Aqui não tem produto encalhado. Eu vendo todos os brinquedos que chegam e passam na avaliação. Nosso giro é alto.
Viviane dos Santos, dona do Brinquechó

A empresa vende cerca de 250 brinquedos por mês. Em datas comemorativas, como Dia Das Crianças e Natal, o volume de vendas dobra. O faturamento mensal gira em torno de R$ 15 mil. O lucro não foi revelado.

Atualmente, o Brinquechó faz parte de uma incubadora de empresas em Vitória. "Estamos estruturando como startup, estudando qual o melhor caminho a seguir e trilhando os próximos passos. Só não vislumbramos lojas físicas porque seria um retrocesso para uma empresa que trabalha tão bem no online. A ideia é melhorar e escalar", declara Viviane.

Para 2025, a meta é abrir um centro de distribuição e contratar mão de obra. Hoje, Viviane trabalha sozinha na empresa. "A empresa tem muitas demandas. É impossível administrar de forma eficiente quando se está imersa em tudo, mas foco no principal que é a experiência do cliente e relacionamento com os fornecedores", afirma.

Está na tendência, mas precisa se diferenciar

O Brinquechó está surfando em duas tendências do mercado: economia circular e operação online. É o que afirma Elaine Satomi, consultora de negócios do Sebrae-SP. Segundo ela, os consumidores têm buscado um consumo mais sustentável.

Negócio usa uma ferramenta que está em alta. "Ela [Viviane dos Santos, dona da empresa] criou um modelo online que está em alta: vendas pelo WhatsApp, uma ferramenta totalmente online, gratuita e com baixo custo. Ela tem muito espaço para explorar ainda mais esse mercado", afirma.

"O WhatsApp virou uma ferramenta gratuita que facilita a comunicação com os clientes. Ali, além de vender seus produtos, ela pode interagir com sua clientela e tirar dúvidas. Pode até se especializar para dar consultoria sobre tipos e funcionalidades dos brinquedos. Isso ajuda a fidelizar o cliente", diz.

Vale ampliar os canais de venda. Segundo Elaine, uma das ideias é disponibilizar os seus produtos em outras plataformas de e-commerce, como grandes marketplaces, e criar um site próprio da marca. "Ampliar os canais de venda aumenta a visibilidade da marca", declara.

Outra dica é, futuramente, fazer parcerias com influenciadoras e blogueiros que têm filhos. "Requer investimentos, mas fortalece a marca. Vale deixar isso como uma carta na manga para o futuro", diz.

É preciso ficar atento à concorrência. Para a consultora, como os brechós estão em alta, existem muitos concorrentes no segmento dela. "Ou seja, ela precisa se atentar em como se diferenciar no mercado. Pode ser no formato de atendimento, no pós-venda, em embalagens diferentes e até colocando um brinde, uma cartinha ou um cheirinho com os brinquedos. Além disso, ela pode realizar ações específicas em datas especiais, por exemplo", afirma.

É importante ouvir os clientes da marca para entender o que eles querem, quais são suas preferências e o que desejam de novidades. O desafio é colocar a Brinquechó na cabeça dos pais e se diferenciar de alguma forma.
Elaine Satomi, consultora de negócios do Sebrae-SP

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