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Oposição pró-UE descarta reconhecer ex-jogador de futebol pró-Rússia nomeado presidente da Geórgia

14/12/2024 12h55

Como era previsto, um colégio eleitoral dominado pelo controvertido partido governista pró-russo Sonho Georgiano nomeou, neste sábado (14), o ex-jogador de futebol de extrema direita Mikheil Kavelashvili para o cargo de presidente da Geórgia. A eleição indireta foi boicotada pela oposição, que defende a aproximação desta ex-república soviética com a União Europeia.

Os presidentes da Geórgia são eleitos por um colégio eleitoral composto por deputados e representantes de autoridades locais. Dos 225 eleitores presentes na votação deste sábado, 224 votaram a favor de Kavelashvili, que era o único candidato no pleito. A atual chefe de Estado, Salomé Zourabichvili, pró-ocidental, já tinha considerado esta votação ilegal e declarado que se recusaria a renunciar ao seu mandato até que novas eleições legislativas fossem organizadas. 

O ex-jogador de futebol profissional, um dos líderes do Poder de Pessoas, um grupo dissidente do partido no poder, tem opiniões antiocidentais e inspiradas em teorias da conspiração. Em seus discursos, Kavelashvili já disse que as agências de inteligência ocidentais estavam tentando levar a Geórgia a uma guerra com a Rússia. 

O país caucasiano atravessa uma profunda crise institucional desde que o Sonho Georgiano reivindicou a vitória nas legislativas de 26 de outubro, consideradas fraudulentas pela oposição. No mês passado, o governo adiou as negociações de adesão à União Europeia até 2028. 

Desde que assumiu o poder, o partido tem adotado políticas que são vistas como alinhadas aos interesses russos, incluindo a aprovação de leis que restringem a liberdade de expressão e a liberdade de ação das ONGs, semelhantes às implementadas na Rússia. Essas ações têm gerado preocupações tanto internas quanto internacionais sobre o futuro democrático da Geórgia e seu alinhamento geopolítico.

Uma das principais linhas divisórias entre o atual governo e os opositores pró-democracia é a política externa. A oposição acusa o Sonho Georgiano, fundado pelo magnata e ex-primeiro-ministro Bidzina Ivanishvili, que fez fortuna na Rússia e governa o país nos bastidores há mais de uma década, de adotar uma postura autoritária e pró-Moscou. Em novembro, o ex-primeiro-ministro indicou o ex-jogador de futebol para disputar a presidência.

Já a presidente Zurabishvili, ex-diplomata francesa de 72 anos, tornou-se uma das vozes da oposição pró-europeia. Todas as noites, militantes se reúnem em frente ao Parlamento, na capital Tbilissi, para exigir novas eleições.

Na Geórgia, o cargo de presidente perdeu importância no plano político desde que o país realizou reformas constitucionais em 2017. O chefe de Estado é responsável por representar o país em assuntos internacionais, assegurar a unidade e integridade territorial, e supervisionar as atividades dos organismos estatais de acordo com a Constituição. Porém, no contexto atual, ter um presidente pró-russo representa um risco. 

Bolas de futebol

Antes da votação, centenas de manifestantes se reuniram em frente ao Parlamento, apesar da neve que caía em Tbilissi. Alguns militantes jogaram futebol na rua e brandiram cartões vermelhos, em referência à carreira desportiva de Kavelashvili.

Os partidos da oposição afirmaram que continuarão a considerar Salomé Zourabichvili como a presidente legítima do país, mesmo após a posse de Kavelashvili marcada para o dia 29 dezembro.

Durante décadas, a Geórgia foi vista como um dos países mais democráticos e pró-ocidentais da ex-União Soviética. Mas as relações se deterioraram e, agora, os europeus estão preocupados com a aparente reorientação da política externa.

Em um vídeo dirigido aos georgianos e publicado na sexta-feira, o presidente francês, Emmanuel Macron, declarou: "O sonho europeu da Geórgia não deve ser extinto". 

Desde o início da guerra na Ucrânia, o Sonho Georgiano busca o fortalecimento dos laços com a Rússia, que governou a Geórgia durante 200 anos, até 1991. Em uma guerra relâmpago de cinco dias, em 2008, Moscou derrotou Tbilissi e passou a apoiar duas regiões separatistas em território georgiano. 

Com agências

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