Últimos argumentos concluídos no julgamento de violências sexuais do caso Pelicot
As alegações finais no julgamento dos abusos sexuais em série durante anos contra uma mulher dopada no sudeste da França foram concluídas nesta sexta-feira (13), apontando mais uma vez o "monstro" Dominique Pelicot, que teria manipulado os acusados, descritos como "vítimas indiretas".
O julgamento, de impacto nacional e internacional, entra em sua reta final, após pouco mais de duas semanas dedicadas à defesa dos 51 homens acusados, na maioria, de agressões sexuais agravadas contra Gisèle Pelicot, de 72 anos. O ex-marido dela, Dominique Pelicot, confessou ter drogado a esposa para estuprá-la e entregá-la a dezenas de desconhecidos recrutados pela internet, que a agrediram em sua casa, em Mazan.
Uma das últimas advogadas a se pronunciar, Nadia El Bouroumi, falou por mais de uma hora sobre seus clientes ? Omar D., de 36 anos, agente de limpeza, e Jean-Marc L., um aposentado de 74 anos, o acusado mais velho ?, descrevendo-os como "homens, pais, avôs, com uma vida simples e tranquila" e com uma trajetória de vida "sem falhas" até seu encontro com Dominique Pelicot.
Assim como vários de seus colegas, ela adotou uma linha de defesa que visa isentar os acusados ? que têm idades entre 27 e 74 anos e vêm de diferentes classes sociais ?, afirmando que eles não tinham "nenhuma consciência" de que estavam agredindo sexualmente Gisèle Pelicot, e responsabilizando exclusivamente Dominique Pelicot, um "manipulador engenhoso" que "os escolheu deliberadamente para satisfazer seus próprios fantasmas".
"Eu defendo homens que representam a normalidade da sociedade e Pelicot é a exceção, ele é alguém perigoso. Temos um monstro no banco dos réus", declarou a advogada. Outros defensores descreveram Dominique Pelicot nas últimas semanas como "um lobo" ou "um ogro".
"Vítimas Indiretas"
Embora Gisèle Pelicot seja reconhecida como a verdadeira vítima, El Bouroumi defendeu que os acusados também são "vítimas indiretas". Ela ressaltou ainda que um estuprador em série possui uma psicologia específica, manipulando suas vítimas por mais de 30 anos, além de citar outros casos em que Pelicot é acusado: um assassinato com estupro em Paris em 1991, que ele nega, e uma tentativa de estupro em 1999, nos arredores de Paris, que ele reconheceu após seu DNA ter sido encontrado no local.
Para a defesa, "não há crime sem intenção" e, portanto, a acusação precisa provar que os acusados tinham plena consciência de que estavam cometendo um crime. A advogada pediu que a corte "absolvesse esses homens", ressaltando também as dificuldades enfrentadas pela defesa, dado que a parte civil é considerada um "ícone", o que pode tornar tudo uma "agressão à mulher".
Ela observou ainda a pressão pública e midiática sobre a corte ? com 166 jornalistas credenciados, incluindo 76 estrangeiros ? e pediu que os juízes se mantivessem "calmos" ao emitir seu veredicto, focando nos "fundamentos" do caso.
Na próxima segunda-feira (16), Dominique Pelicot e seus coacusados terão a oportunidade de se pronunciar uma última vez, antes que os juízes da corte criminal de Vaucluse se retirem para decidir.
A acusação, que solicitou penas de quatro a vinte anos de prisão, pediu à corte que transmitisse com sua decisão "uma mensagem de esperança para as vítimas de violência sexual". "Isso mostrará que o estupro 'normal' não existe, que o estupro acidental ou involuntário também não existe", afirmou Laure Chabaud, uma das duas procuradoras do caso.
O veredicto é aguardado para quinta-feira.
(com AFP)