Pai de estudante morto pela PM se revolta com fala de Derrite: 'Afronta'
O médico Júlio César Acosta Navarro, pai do estudante de medicina morto pela PM-SP em novembro, chamou de afronta a fala do secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, nesta sexta-feira (13).
O que aconteceu
Derrite afirmou que há um incômodo com o "êxito do bem contra o mal". "Isso é uma afronta, uma palhaçada. Ele está brincando com as pessoas", disse Navarro, em entrevista ao UOL.
O pai de Marco Aurélio Cardenas Acosta reclama da falta de acolhimento da polícia. "Hoje completam 23 dias da tragédia que aconteceu com minha família. Os PMs estão soltos, recebendo salário, jogando, vendo TV, tomando cerveja. Só lamentaram a morte dois dias depois por causa da imprensa", afirmou o cardiologista. Na época, a SSP-SP informou que os policiais haviam sido afastados.
"O secretário estava junto do governador, e ele [Tarcísio de Freitas] mantém essa posição de aprovação", disse Navarro. "Essas declarações sobre 'bem e mal' são um absurdo. Estão chamando a gente de trouxas", acrescentou.
Procurada pelo UOL, a SSP-SP informou que os policiais seguirão afastados até o fim das investigações. As imagens das câmeras corporais foram anexadas ao caso.
'Promotores de direitos humanos'
Derrite e Tarcísio participaram nesta sexta da formatura de oficiais na Academia Militar do Barro Branco, na zona norte de São Paulo. O secretário também afirmou que os policiais são os "únicos e verdadeiros promotores de direitos humanos".
Grupos tentam "atrapalhar o combate ao crime", disse o secretário. Segundo Derrite, "infelizmente, uma pequena parcela da sociedade e das instituições se incomodam com êxito do bem contra o mal".
Tarcísio pediu para que agentes não se afastem do que foi ensinado. "Não se pode transigir com a disciplina", disse o governador. Houve elogios para corporação e referências bíblicas.
Na semana passada, o governador disse que "discurso tem peso". Tarcísio afirmou que suas declarações influenciam a forma como PMs agem nas ruas e podem levar a um "direcionamento errado". A frase foi interpretada, no meio político, como uma tentativa de reduzir o estrago causado pela revelação dos casos.
Estudante morto
Um policial militar matou o estudante com um tiro à queima-roupa em um hotel na zona sul de São Paulo, na madrugada do dia 20 de novembro. Os policiais envolvidos no caso foram afastados.
Os policiais chegaram ao local e viram o estudante "bastante alterado" e agressivo, segundo o boletim de ocorrência. Ele chegou a ir para cima dos policiais.
Um vídeo de câmera de segurança flagrou o momento em que o estudante é morto. Ele volta ao hotel enquanto é perseguido pelos agentes e é puxado pelos policiais.
Um dos policiais cai no chão após Marco Aurélio puxar a perna dele. Nesse momento, o outro agente atira à queima-roupa.