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Exposição em Paris retrata três séculos de história da vida privada

13/12/2024 12h36

O Museu de Artes Decorativas de Paris, vizinho ao Louvre, apresenta a exposição "O Íntimo, do quarto às redes sociais", do século 18 aos nossos dias. O percurso é uma viagem no tempo, entre peças decorativas, objetos de design, fotos e pinturas todas abordando a vida privada, a evolução dos modos e da higiene.

A entrada da exposição é sugestiva, simbolizando o entreolhar por um enorme buraco de fechadura.

"Há dois anos, quando cheguei ao museu, a ideia era repensar a forma de apresentar as artes decorativas e o design de uma maneira diferente", diz Christine Macel, curadora da exposição. "Não mais apenas por seus estilos, épocas, materiais, técnicas ou usos, mas sim inseri-los em um contexto histórico e sociológico que também mostrasse a evolução dos costumes."

Com esse ponto de partida e com a constatação da intensa evolução da vida privada nas últimas três décadas, a especialista resolveu apostar na tendência, abrindo o escopo histórico para as mudanças de hábitos em três séculos. Nos primeiros séculos, podemos ver que a representação dos momentos íntimos mostrava principalmente figuras femininas, enquanto as imagens eram feitas por olhares masculinos. "Por causa do tabu sobre a intimidade masculina, os artistas que pintaram essas cenas geralmente eram homens e suas representações costumavam focar em modelos femininas", explica Macel.

Evolução dos hábitos de higiene pessoal

Em uma das primeiras salas, em um vídeo, uma jovem vestida com roupa de época conta que no século 17, a higiene era feita apenas nas partes visíveis, ou seja, passando um pano úmido no rosto, pescoço, colo e braços. Um sachezinho com ervas aromáticas era usado para disfarçar odores das axilas e entre as pernas, por exemplo. O banho propriamente dito só viria um século depois. Uma maneira era usar a mesma água da banheira por todos da família, mas cada um adentrava a água depois de estender seu próprio lençol.

"O que mais chama a atenção, eu diria, são os objetos relacionados aos rituais de higiene pessoal, e como a ideia de privacidade foi se desenvolvendo ao longo dos séculos", diz a curadora. "Por exemplo, temos um bourdaloue, um objeto usado por mulheres no século XVIII para urinar discretamente, em público, sob o vestido, algo muito utilizado pela aristocracia da época. Isso mostra bem como a percepção sobre a privacidade do corpo mudou. "

Outro dado bem explorado - e ilustrado - é sobre o quarto de dormir, um lugar íntimo, que ganhou notoriedade a partir do século 18, pois, antes, as famílias costumavam dormir juntas em cômodos comuns. Os espaços são decorados com objetos de época e pinturas ou fotografias de artistas como Edgard Degas, Pablo Picasso, Henri Cartier-Bresson e a americana Nan Goldin.

Christine Macel conta que a maior parte dos 470 objetos expostos vem do próprio Museu de Artes Decorativas, mas que há empréstimos do Centro Pompidou, do Centro Nacional de Artes Plásticas, do Museu d?Orsay, do Petit Palais, Versalhes e outras instituições.

A vida privada na era da internet

A última parte da exposição trata da complexidade da vida privada na era contemporânea, onde questões como a tecnologia desafiam as noções tradicionais de privacidade. Christine Macel conta que na França, as mudanças comportamentais já começaram nos anos 1990, com o chamado minitel rosa, um sistema de comunicação pré-internet que favorecia encontros amorosos e até sexuais entre os usuários. 

Depois, os programas do tipo Big Brother escancararam a intimidade para milhões de telespectadores. O processo de exposição se intensificou e viralizou, criando novas formas de se conectar, de se exibir, um fenômeno ao mesmo tempo mais solitário e de uma certa forma, público.

Ao colocar em questão o que significa ser íntimo no contexto atual, a mostra convida o público a refletir sobre os limites entre o pessoal e o público. "O Íntimo, do quarto às redes sociais", do século 18 aos nossos dias, pode ser visitada no Museu de Artes Decorativas, em Paris, até 30 de março de 2025.

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