Dividendos de 2% ao mês? ETF de bitcoin quer pagar mais do que a Petrobras
Imagine receber dividendos mensais com rentabilidades entre 2% e 2,4%. Sim, agora isso é possível graças ao bitcoin. O novo ETF (fundo de índice) COIN11, da gestora brasiliense Buena Vista Capital, chegou à Bolsa brasileira nesta sexta-feira (13), possibilitando aos investidores receber proventos de bitcoin de uma forma mais previsível.
O ETF é o primeiro produto da América Latina que dá a oportunidade de receber renda mensal de bitcoin.
A dinâmica do produto segue o padrão de outros ETFs já lançados pela gestora. A Buena Vista vai replicar o índice americano NEOS Bitcoin High Income Index, comprando cotas de ETFs expostos 100% ao bitcoin no exterior. Além disso, serão lançadas opções de compra em contratos futuros de bitcoin, para proteger o investimento no ETF, mas também para capturar o prêmio das opções, que se transformará depois em dividendos.
O COIN11 vai acabar acompanhando o potencial de valorização do bitcoin, que atualmente negocia no patamar de US$ 100 mil, mas o tamanho dos dividendos dependerá da volatilidade da criptomoeda.
Renato Nobile, gestor e analista da Buena Vista Capital, explicou ao UOL que, por conta do uso de opções de compra do bitcoin, o patrimônio investido no ETF tende a subir menos, quando a criptomoeda dispara e cai menos, quando o bitcoin desvaloriza. Mas o que favorece mesmo na geração de prêmio é a oscilação no preço do bitcoin, seja para cima ou para baixo.
"A proteção que comprei fica mais valorizada em termos de prêmio. Porque, se o bitcoin está chacoalhando muito, o risco aumentou e eu capturo mais ganhos", comenta Nobile.
Diferentemente de concorrentes, a gestora Buena Vista também possui a estratégia de que, quando há dividendos muito elevados, uma parte é provisionada para garantir a estabilidade dos proventos futuros. Desta forma, se há algum mês com baixo retorno em dividendos, a gestora consegue compensar com o provisionamento.
Nobile explica que estratégias com bitcoin já chegaram a proporcionar um dividend yield (retorno em dividendos) mensal a gestora de 8%, mas que a Buena Vista busca se manter na faixa de remuneração mensal de até 2,4%, guardando o excedente para distribuições futuras. No horizonte de um ano, a expectativa é entregar um dividend yield de 24% aos investidores, praticamente acima do que a Petrobras (PETR4) paga atualmente.
É por causa da volatilidade e o provisionamento, que o COIN11 não elevaria tanto os dividendos mesmo se o bitcoin chegasse aos US$ 200 mil, como já projetam alguns analistas otimistas para 2025. Mas o yield on cost, que é o dividendo em relação ao preço médio de aquisição, seria maior, segundo Nobile.
Pelo seu regulamento, o ETF COIN11 vai pagar dividendos todo 6° dia útil de cada mês. Terão direito a receber os proventos os investidores que tenham cota do ETF com até 5 dias de antecedência à data de pagamento.
Com relação a taxas e impostos, o COIN11 cobrará 0,98% ao ano aos seus investidores, a título de taxa de administração. Os dividendos serão taxados na fonte em 15%, desta forma não será necessário emitir uma DARF (Documento de Arrecadação de Receitas Federais) mensal.
Além disso, vale lembrar que os ETFs são tributados em 15% sobre o ganho de capital no Brasil.
Por que bitcoin?
Embora seja o primeiro ETF da gestora atrelado a criptomoedas, Nobile comenta que a gestora Buena Vista vem utilizando criptoativos há um bom tempo nas suas estratégias. A escolha do bitcoin para lançar um ETF que paga dividendos, foi por conta de ser um criptoativo mais consolidado, com regulamentação mais avançada no mercado americano e forte procura de investidores institucionais.
"Essa adoção institucional do bitcoin fortalece mais o ativo como reserva digital e acreditamos que seria uma estratégia interessante para diversificação do investidor brasileiro", afirma.
Além disso, segundo a gestora, o bitcoin segue um ciclo a cada quatro anos, marcado por um evento conhecido como halving. Esse processo impacta a oferta de novos bitcoins no mercado e contribui para o aumento do seu valor ao longo do tempo.
De acordo com a Buena Vista, o ciclo envolve quatro etapas distintas: uma fase inicial de acúmulo pré-halving, seguida por uma recuperação de preços às máximas históricas. Na sequência, tem o halving, gerando desequilíbrio entre oferta e demanda, o que proporciona uma valorização acentuada. E no ano seguinte, o ciclo atinge um pico, em meio a uma fase de euforia e, então, vem uma correção e consolidação, onde o preço se estabiliza até o próximo ciclo.
Atualmente, segundo a Buena Vista, estaríamos no começo de um novo ciclo após o halving ocorrido em 2024. "Portanto, a conjuntura atual pode oferecer um momento oportuno para investidores que buscam exposição no setor", destaca a gestora.
A Buena Vista cita ainda a reeleição de Donald Trump como um fator positivo por ser favorável as criptomoedas.
No Brasil, a expectativa de Nobile é grande com o COIN11. Ele lembra o sucesso que ETFs de criptomoedas como o HASH11, da gestora Hashdex, já tiveram na bolsa brasileira. O HASH11 chegou em pouco tempo a se tornar o segundo maior ETF em número de investidores.
Para Nobile, a combinação de estratégias preferidas dos investidores, como criptomoedas e dividendos, pode render bons frutos. Ele não descarta lançar novos ETFs, que paguem dividendos, atrelados ao outras criptomoedas como Ethereum, mas destaca que isso vai depender do amadurecimento do mercado por esse ativo e a procura dos investidores institucionais.
Small caps pagando dividendo mensal de até 1,35%
Dividendos de bitcoin não é a única estratégia que chega à bolsa nesta sexta-feira (13). A Buena Vista está lançando também o ETF IWMI11, que vai focar em small caps americanas, empresas com valor de mercado entre US$ 300 milhões e US$2 bilhões.
O ETF IWMI11 vai seguir o índice NEOS Russell® 2000 High Income. Para isso também comprará cotas de ETFs no exterior que repliquem as 2000 empresas do Russell.
O Russell 2000 tem o objetivo de medir o desempenho das 2000 menores empresas americanas do Russell 3000, índice que representa as 3000 maiores empresas dos Estados Unidos.
O IWMI11 terá exposição a 2000 empresas dos setores financeiro, industrial, saúde, consumo discricionário, tecnologia, imobiliário, energia e outros.
Entre as empresas, as maiores presentes no índice em valor de mercado são: Vaxcyte, FTAI Aviation, Insmed, Sprouts Farmers Market e Fabrinet.
Também estão presentes no índice companhias como Udemy, Papa John 's, Krispy Kreme, Shake Shack, Coursera, Victoria 's Secret, GoPro, AMC.
A proposta no IWMI11 é pagar dividendos mensais entre 1,15% e 1,35%. Nobile explicou ao UOL que os proventos não serão fruto de pagamentos feitos pelas companhias. Por se tratar de small caps, muitas destas empresas estão em fase de crescimento e não pagam dividendos. A remuneração virá da estratégia de opções de compra que também será lançada neste ETF.
Da mesma forma que o COIN11, também se provisionam dividendos nos meses de retorno excedente.
Os dividendos também serão pagos todo 6° dia útil de cada mês. Terão direito a receber os proventos, os investidores que tenham cota do ETF com até 5 dias de antecedência a data de pagamento.
A taxa de administração do IWMI11 é de 0,83% ao ano. Os dividendos são tributados na fonte em 15% e há cobrança de 15% sobre o ganho de capital.
Nobile está otimista com o mercado americano e acredita que o Federal Reserve (FED), possa promover novos cortes de juros nas próximas reuniões, favorecendo não apenas empresas de tecnologia e sim outras small caps que atuam em diversos segmentos, como as presentes no ETF.
O boom dos dividendos sintéticos
Entre os ETFs que pagam dividendos da B3, a gestora que mais produtos lançou ao mercado em 2023 e em 2024 foi a Buena Vista.
Diferente dos pares como Itaú e Nubank, os dividendos pagos pelos ETFs da Buena Vista são sintéticos, ou seja, fruto de operações com opções e não pagos diretamente pelas empresas que integram os fundos.
Mesmo sendo um tema incomum entre os investidores, aparentemente os dividendos sintéticos tiveram boa acolhida pelo público. Nobile lembra que para os ETFs SPYI11 e QQQI11, a meta era alcançar um patrimônio de R$ 50 milhões em 2024.
O resultado foi bem melhor do que esperado. Até novembro, o SPYI11 tinha um patrimônio de R$ 135,912 milhões e 10.186 cotistas. Enquanto o QQQI11, apresentava um patrimônio de R$ 71,032 milhões e 5454 investidores. Prova de que, quando alguém oferece retornos de 1% ao mês, não há quem resista.