"Tudo que acontecer após Assad só pode ser melhor": sírios celebram queda do regime, mas temem futuro incerto
Enquanto parte da população síria ainda celebra a queda de Bashar al-Assad, alguns moradores, assim como parte da comunidade internacional, já se questionam sobre o período de incerteza no qual o país acaba de entrar. A reação de Israel e do Irã logo após a confirmação da queda do regime também preocupa.
Com informações de Murielle Paradon, enviada especial da RFI a Damasco
Nas ruas de Damasco a alegria da população é palpável, com manifestações evidentes de entusiasmo na capital desde a queda de Assad. Na praça da Omeyyades, centenas de pessoas ainda celebravam o fim de regime penduradas em tanques abandonados, empunhando bandeiras.
"Eu confio nesses rebeldes, pois eles sacrificaram suas vidas", declara Fatima, uma mãe de família síria que perdeu dois filhos durante o governo de Assad. "Antes, nós estávamos sob o controle de um regime criminoso sem nenhuma lei. Tudo o que acontecer após Assad só pode ser melhor", desabafa, enquanto celebra a queda do presidente.
"Nós destruímos cartazes e estátuas de Bashar al-Assad e de seu pai Hafez. Mas isso não é suficiente. Temos que mudar os livros de história nas escolas, para que também contem essa revolução. Para que virem a página das mentiras da ditadura", disse Anwar, um sírio de 40 anos.
Os rebeldes andam pelas ruas exibindo metralhadoras, como uma forma de garantir a segurança. Mas isso não tranquiliza todos. "É a primeira vez que vejo homens tão armados nas ruas. Não me sinto em segurança vendo isso", diz Zacharia, um morador da capital que não esconde sua simpatia pelo regime de Assad.
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Preocupações com reações de outros países
Mas a principal preocupação diz respeito às reações exteriores. "Nos primeiros dias nós tínhamos medo da vingança e dos acertos de contas, além dos saques. Mas a sociedade civil começou a tomar conta de tudo logo após a queda de Assad", relata Nour, moradora de Soueida, no sul do país.
"Agora o nosso maior medo é da intervenção israelense, que começou logo nos primeiros dias, com os bombardeios visando bairros residenciais, onde o regime Assad instalou seus centros militares. Por enquanto não há vítimas civis, mas temos medo do que pode acontecer quando começarem a bombardear os locais militares nos bairros residenciais", afirmou a jovem em entrevista à RFI.
O exército israelense disse na terça-feira (10) que realizou centenas de ataques em 48 horas contra locais militares estratégicos na Síria, afirmando que queria "evitar que caíssem nas mãos de elementos terroristas".
Especialistas da ONU disseram na quarta-feira (11) que os ataques israelenses na Síria são infundados sob o direito internacional, dizendo que o desarmamento "preventivo" abre a porta para o "caos global".
Na quarta-feira, a França "pediu a Israel que se retirasse da zona tampão nos limites do Golã ocupado e anexado por Israel e que respeitasse a soberania e a integridade territorial da Síria". Apelos semelhantes foram feitos por vários países e pela ONU, após a incursão israelense realizada após a queda de Bashar al-Assad no domingo.