Ongs de direitos humanos criticam Fifa por escolha de Arábia Saudita como sede da Copa de 2034
A Anistia Internacional fez duras críticas à Fifa nesta quarta-feira (11) após a entidade ter confirmado a escolha da Arábia Saudita para a realização da Copa do Mundo de futebol masculino de 2034. Para a ONG, a medida colocaria vidas em risco devido ao histórico de desrespeito aos direitos humanos do país. A edição de 2030 será realizada entre Europa, norte da África e América Latina.
"A decisão imprudente da Fifa de conceder a Copa do Mundo de 2034 à Arábia Saudita sem garantir a existência de proteções adequadas aos direitos humanos colocará muitas vidas em risco", disse Steve Cockburn, responsável para os direitos trabalhistas e esportivos da Anistia Internacional, em um comunicado à imprensa publicado conjuntamente por 21 organizações.
Os signatários da declaração são organizações de direitos humanos da diáspora saudita, grupos de trabalhadores migrantes do Nepal e do Quênia, sindicatos internacionais, representações de torcedores e organizações globais de direitos humanos.
"Com base em evidências claras, a Fifa sabe que os trabalhadores serão explorados ou até morrerão na ausência de reformas fundamentais na Arábia Saudita, mas optou por avançar independentemente", diz o documento. "A organização corre o risco de assumir grande responsabilidade pelas inúmeras violações dos direitos humanos que virão."
Lina Alhathloul, da ALQST for Human Rights, uma organização saudita de direitos humanos, disse que a atribuição da Copa do Mundo à Arábia Saudita foi "desmoralizante".
"Agora que isto foi feito, são necessárias medidas urgentes e sustentadas para mitigar os graves riscos de violações dos direitos laborais e civis associados ao campeonato, que garantam reformas importantes e verossímeis", disse ela na declaração conjunta.
Num comunicado separado, o Centro de Recursos para Empresas e Direitos Humanos (BHRRC) disse que denúncias de exploração dos trabalhadores foram feitas sobre a construção de um dos estádios que serão usados no evento.
"A Fifa, os seus parceiros e as multinacionais que provavelmente já procuram contratos lucrativos de infraestruturas têm a responsabilidade legal e ética de respeitar os direitos humanos, especialmente os dos trabalhadores migrantes mais vulneráveis", disse Phil Bloomer, Diretor Executivo da BHRRC.
O país nega acusações de violações dos direitos humanos e afirma que protege a sua segurança nacional através das suas leis.
Em 2021, o relatório de 48 páginas da Anistia Internacional, intitulado "Constatação da Realidade 2021" indicava que práticas como a retenção de salários e a cobrança de taxas aos trabalhadores para mudarem de emprego ainda eram comuns no Catar, que acolheu Copa de 2022.
A Human Rights Watch também denunciou as leis do Catar que continuavam a discriminar mulheres e pessoas lésbicas, gays, bissexuais e trans.
A Arábia Saudita, a superpotência emergente do esporte mundial - da F1 aos futuros Jogos Olímpicos de e-sport, incluindo os Jogos Asiáticos de Inverno de 2029 - foi a única candidata da região Asia e Oceania, após a retirada da Austrália e da Indonésia, e o arquivamento das ambições futebolísticas da China.
O reino ultraconservador, que se lançou numa estratégia de diversificação econômica e para melhorar sua imagem, tem atualmente apenas dois dos 14 estádios com os pelo menos 40 mil lugares necessários.
Além do desafio logístico, o verão escaldante poderá obrigar a transferência da competição para o inverno ou para o final do outono, como no Catar em 2022, mas será necessário lidar com o Ramadã, o jejum muçulmano, previsto para dezembro em 2034.
Copa em três continentes
Apesar das críticas ambientais, a Copa de 2030 será organizada entre seis países, Espanha, Portugal e Marrocos, com três jogos na Argentina, Uruguai e Paraguai, anunciou a Fifa. A votação foi feita por aclamação, porque os candidatos eram os únicos na disputa.
As 211 federações-membro, reunidas em videoconferência, ratificaram a dupla designação das sedes das duas Copas do Mundo de futebol, sem o menor suspense. Os países eram os únicos na competição após vários terem retirado suas candidaturas. Além disso, para 2034, foi realizado um procedimento relâmpago limitado à Ásia e Oceania, em nome de rotação continental.
A Federação Norueguesa (NFF), que já havia sido muito crítica à atribuição do evento de 2022 ao Qatar, se recusou, no entanto, a aprovar um processo que chamou de "defeituoso e incompatível" com os princípios de "responsabilidade, transparência e objetividade" reivindicados pela Fffa, disse em um comunicado de imprensa.
Em 2030, quando o torneio completa 100 anos, a "Copa do Mundo do Centenário" unirá seis países, um arranjo inédito desde a primeira edição em 1930, que reuniu 13 seleções em Montevidéu, no Uruguai. Na Copa de 2022, 32 seleções participaram, e a de 2026 incluirá 48 países.
Depois de três partidas no Uruguai, Argentina e Paraguai, marcadas para os dias 8 e 9 de junho de 2030, durante o inverno, as seis seleções envolvidas e seus torcedores cruzarão o Atlântico para os outros 101 jogos, de 13 de junho a 21 de julho, em pleno verão no hemisfério norte.
Com 11 dos 20 estádios propostos, a Espanha deve ser a principal anfitriã depois de já ter organizado a Copa de 1982. O Marrocos, vai se tornar o segundo país do continente africano a acolher o evento, depois de África do Sul em 2010.
Os dois países ainda devem decidir quem vai acolher o jogo de abertura e a final. A Espanha propõe o estádio Santiago-Bernabeu em Madri ou o Camp Nou em Barcelona. Já o Marrocos terá a arena Hassan-II entre Casablanca e Rabat, que tem a pretensão de ser o "maior estádio do mundo" com 115.000 lugares. Portugal oferece dois estádios, em Lisboa e em Porto, que poderiam ser usados na semifinal.