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No novo governo Trump, lealdade e riqueza competem com polêmicas

11/12/2024 19h13

Doadores multimilionários, seguidores fervorosos, mas também perfis controversos: Donald Trump estabeleceu a pauta de seu segundo mandato escolhendo um governo em que a lealdade tem precedência sobre todos os outros critérios.

O republicano, que voltará à Casa Branca em 20 de janeiro, insiste em que aprendeu as lições de seu primeiro mandato, quando seu governo era formado por republicanos experientes que não se identificavam necessariamente como trumpistas puros.

"O maior erro que cometi foi escolher gente [...] que não deveria ter escolhido", pessoas "desleais ou más", disse em outubro o ex-presidente ao podcaster Joe Rogan.

Entre as pessoas às quais se referia em seu comentário está o ex-vice-presidente Mike Pence, que, em 6 de janeiro de 2021, se negou a bloquear a confirmação da vitória de Joe Biden por parte do Congresso, contrariando as ordens do então presidente Trump. 

Desta vez, o presidente eleito espera ter escolhido um vice-presidente que o acompanhe até o fim: J.D. Vance.

Desde a sua vitória em 5 de novembro, "lealdade, lealdade, lealdade" tem sido o lema de Trump na hora de compor seu governo, explicou à AFP Julian Zelizer, professor da Universidade de Princeton.

Em particular, o presidente eleito nomeou Kash Patel, ex-funcionário de alto nível do Pentágono durante o seu primeiro mandato, para dirigir a Polícia Federal de Investigações (FBI). Em 2023, Patel assegurou que, se assumisse o comando do FBI, as agências policiais "perseguiriam" os jornalistas, bem como certos funcionários da administração Biden.

- Cercado de multimilionários -

O magnata do setor imobiliário também quis se cercar de seus colegas multimilionários. Espera-se que ao menos cinco deles façam parte do gabinete, incluídos o financista Howard Lutnick, na pasta de Comércio, e a ex-CEO da organização de luta livre WWE Linda McMahon, na Educação.

Estima-se que a riqueza acumulada dos nomes que compõem a administração Trump versão 2.0 gire em torno de 11 bilhões de dólares (R$ 66 bilhões, na cotação atual), enquanto a do governo Biden girava em torno de 118 milhões de dólares (R$ 711 milhões), segundo a Forbes.

E isso sem contar o homem mais rico do planeta, Elon Musk, que foi escolhido, junto com o bilionário Vivek Ramaswamy, para dirigir um órgão de assessoramento encarregado de reduzir os gastos públicos.

Também há uma infinidade de homens e mulheres de negócios endinheirados em cargos de embaixadores ou como diretores de agências federais, a maioria dos quais contribuiu economicamente para a campanha de Trump.

Este amálgama de bilionários e fiéis dá como resultado um governo com perfis às vezes muito diferentes e uma ideologia um tanto heterogênea, sobretudo no que diz respeito ao direito ao aborto e ao aquecimento global.

Zelizer cita o exemplo da escolha de Lori Chávez-DeRemer como secretária de Trabalho: esta ex-legisladora republicana tem fama de ser próxima aos sindicatos, em contraste com as posições de muitos dos líderes do novo governo Trump.

Para o professor, contudo, "a maioria deles continua fazendo parte da coalizão ideológica" da qual Trump "dependia para ser eleito", e o novo governo deveria manter uma linha uniforme.

- Controvérsias -

Algumas de suas escolhas pouco ortodoxas também estiveram acompanhadas de certa polêmica.

Trump já teve que lidar com a desistência forçada de Matt Gaetz, sua primeira opção para secretário de Justiça, que jogou a toalha após as acusações de que manteve relações sexuais com uma menor de idade.

Pete Hegseth, ex-militar e apresentador do canal Fox News, foi escolhido para ser secretário de Defesa, mas foi acusado de agressão sexual e abuso de álcool.

Robert F. Kennedy Jr., sobrinho do presidente assassinado John Kennedy (JFK), foi proposto para chefiar a pasta de Saúde, apesar de sua falta de formação científica e sua postura antivacinas. Setenta e sete ganhadores dos prêmios Nobel escreveram recentemente uma carta aberta contrária à sua indicação.

Não é certo que todos estes nomes serão confirmados pelo Senado, onde os republicanos vão dispor de uma escassa maioria a partir de janeiro.

Para Adnan Rasool, professor de Ciência Política na Universidade do Tennessee em Martin, apesar de um "pequeno número de nomes inexperientes", Trump escolheu um governo "bastante tradicional" ao se cercar de "muitos políticos veteranos e multimilionários".

"Isto significa que eles entendem o que está em jogo, e nenhum deles tem verdadeiro interesse em varrer o sistema para além do necessário para apaziguar a base trumpista", sustenta.

rle/ev/db/nn/rpr/am

© Agence France-Presse

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