PM de SP mata uma pessoa a cada 10 h em 2024; número dobrou com Tarcísio
A PM de São Paulo matou uma pessoa a cada dez horas neste ano, segundo levantamento do UOL com base em dados da SSP (Secretaria da Segurança Pública). Número é mais que o dobro do que o de 2022, ano anterior à gestão de Tarcísio de Freitas (Republicanos).
O que aconteceu
PM paulista matou 676 pessoas de janeiro a outubro deste ano. Taxa é mais que o dobro dos 331 casos registrados em 2022. No mesmo período do ano passado, primeiro ano da gestão de Tarcísio, foram 407 pessoas mortas por policiais militares.
Alta letalidade policial motivou notificação do MP à corporação. Nesta terça-feira, a Promotoria encaminhou documento com recomendação para que a tropa aplique "normativas existentes sobre abordagens policiais, visando a redução dos casos de erros, abusos e, por consequência, de letalidade policial", citou o documento. Os promotores também pediram à PM atualize procedimentos em abordagens.
O UOL questionou a SSP-SP sobre eventuais medidas para reduzir essas taxas. Assim que houver manifestação, ela será incluída nesta reportagem.
Tarcísio descartou demitir o secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, em meio à onda de violência policial. "Olhe os números. Você vai ver que está [fazendo um bom trabalho]". Mas o governador não explicou quais números comprovariam o bom trabalho do secretário. Um repórter insistiu no tema, e Tarcísio respondeu "olhe as estatísticas", mas não deu detalhes.
O governo de SP deve prestar esclarecimentos ao STF até sexta-feira (6) sobre o uso de câmeras corporais pela PM. O pedido da Corte acontece em meio à repercussão de três casos recentes de violência policial na capital paulista.
Escalada de violência
A PM de São Paulo tem registrado uma escalada de violência nos últimos dias. Isso inclui um assassinato com tiro pelas costas de um agente de folga, uma criança de 4 anos que morreu ao ser baleada em meio a uma ação policial na Baixada Santista, e um vídeo mostrando um homem sendo jogado de uma ponte em uma abordagem.
Rocam envolvida em casos de agressão e espancamento após perseguições. Só no último domingo (1º), agentes que fazem rondas com apoio de motos se envolveram em dois episódios de violência policial.
Na zona norte da capital paulista, um PM foi filmado dando socos e chutes em um motociclista. A gravação mostrou ainda a mulher que estava na garupa sendo puxada por um policial. Antes das agressões, o motociclista havia colidido e derrubado a moto de um policial enquanto tentava escapar. Questionada, a SSP-SP (Secretaria da Segurança Pública de São Paulo) não informou se os agentes foram identificados ou afastados.
Também neste domingo, outra perseguição da Rocam terminou com um jovem sendo jogado de uma ponte na zona norte de São Paulo. A informação foi omitida no registro policial feito pelos agentes envolvidos no caso, segundo apurou o UOL. A vítima, que escapou da abordagem policial ao conduzir uma moto sem placa, sofreu ferimentos leves. A SSP-SP afastou 13 policiais envolvidos na ocorrência.
Vídeo gravou PM de folga matando jovem negro com tiro pelas costas. Gabriel Renan da Silva Soares foi assassinado por Vinicius de Lima Britto no dia 3 de novembro no Jardim Prudência, zona sul de São Paulo. O policial militar foi afastado da corporação. A Polícia Civil investiga o caso.
Não houve abordagem ou voz de prisão, simplesmente oito tiros em legítima defesa do racismo e do capital dos grandes conglomerados de exploradores. Não será mais um número estatístico.
Rapper Eduardo Taddeo, tio da vítima
Filho de 4 anos de vítima da Operação Verão foi morto a tiros em meio a uma ação policial em Santos. Ryan da Silva Andrade Santos, 4, era filho de Leonel Andrade, homem fotografado de muletas e sentado na calçada, um hora antes de ser morto há 10 meses. Segundo a PM, sete policiais envolvidos na ação foram afastados das ruas.
Perdi o marido e meu filhinho de 4 anos para a violência policial. Estou arrasada, eu perdi um pedaço de mim.
Beatriz da Silva Rosa, mãe de Ryan e esposa de Leonel
Onda de violência ocorre em meio a resolução para criar ouvidoria própria da SSP-SP (Secretaria da Segurança Pública de São Paulo). Entidades de direitos humanos entendem que com o novo ouvidor, indicado pelo próprio secretário Guilherme Derrite, haverá risco de impunidade à violência policial.