"Mundo em chamas": ONU faz apelo por 47,4 bilhões de dólares para ajudar os mais vulneráveis em 2024
A ONU fez um apelo nesta quarta-feira (4) por US$ 47,4 bilhões para ajudar 190 milhões de pessoas no mundo em 2024. De acordo com a organização, a combinação de conflitos, a crise climática e o aumento das desigualdades cria um perfeito desastre e as pessoas mais vulneráveis pagam o preço.
As Nações Unidas preveem que 305 milhões de pessoas enfrentarão as consequências de conflitos e das mudanças climáticas e precisarão de ajuda humanitária no ano que vem. Porém, a organização pede ajuda para apenas 190 milhões, explicando que devido a falta de financiamentos, teve que estabelecer prioridades.
"O mundo está em chamas", afirmou Tom Fletcher, subsecretário de Assuntos Humanitários das Nações Unidas. "A combinação de conflito, crise climática e desigualdade criou uma tempestade perfeita", disse. "Estamos enfrentando uma crise múltipla em escala mundial e as pessoas mais vulneráveis pagam o preço", destacou.
No ano passado, a ONU conseguiu ajudar 116 milhões de pessoas em todo o planeta. "Se conseguirmos um ano excepcional de financiamento, poderemos superar os 190 milhões", disse Tom Fletcher.
Até novembro, a ONU havia recebido apenas 43% dos quase US$ 50 bilhões pedidos para 2024. "Devemos nos concentrar em chegar nas pessoas que mais precisam e sermos realmente implacáveis a respeito da alocação de recursos a áreas em que poderemos ter o maior impacto", enfatizou.
Desafios
As consequências do déficit de financiamento são "graves", lamenta a ONU.
Em 2024, a ajuda alimentar caiu 80% na Síria. A assistência para água e saneamento foi reduzida no Iêmen, país afetado pela cólera.
"O sistema humanitário está sobrecarregado, sub-financiado e é vítima de ataques", disse Fletcher. "Precisamos de um impulso de solidariedade global diante da queda dos doadores", acrescentou.
Camilla Waznick, da ONG Conselho Norueguês de Refugiados, considerou "devastador" o fato de o pedido da ONU reconhecer que não conseguirá atender milhões de pessoas.
"Quando as pessoas mais ricas da Terra podem viajar ao espaço como turistas e o mundo destina trilhões de dólares anualmente para os gastos militares, é incompreensível que sejamos incapazes, como comunidade internacional, de encontrar o financiamento necessário para dar abrigo às famílias deslocadas e impedir que as crianças morram de fome", declarou.
Com o temor de que o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, reduza seu apoio financeiro às organizações internacionais, Fletcher anunciou que viajará a Washington nos próximos meses para "dialogar com o novo governo".
A fadiga dos doadores, no entanto, não se limita aos Estados Unidos, explicou. Ele pretende visitar outras capitais para "abrir portas" e convencer os doadores tradicionais, além de buscar "novos aliados".
Contudo, o maior obstáculo para prestar assistência e proteger as pessoas em conflitos armados é a violação generalizada do direito internacional humanitário, alerta a ONU.
O ano de 2024 já é considerado o mais letal para os trabalhadores humanitários, com um balanço que supera 280 mortes em 2023.
Gaza, Ucrânia, Sudão, Líbano, Síria... "2024 foi um dos anos mais brutais da história recente" para os civis afetados por conflitos, destacou a organização, e "se medidas urgentes não forem adotadas, 2025 pode ser ainda pior".
Paralelamente, desastres climáticos arrasam várias regiões e provocam deslocamentos em larga escala.
"Quanto mais duram as crises, mais sombrias são as perspectivas. A expectativa de vida diminui, as taxas de vacinação desabam, a educação sofre, a mortalidade materna dispara e o fantasma da fome se intensifica", concluiu.