Pai de estudante de medicina morto pela PM diz que processará estado de SP
O médico Júlio César Acosta Navarro, pai do estudante Marco Aurélio Cardenas Costa, morto em uma ação da PM (Polícia Militar) em novembro, afirmou que entrará com processo contra o estado de São Paulo. A declaração foi feita em entrevista ao UOL News, do Canal UOL, nesta quarta-feira (4).
Sim, eu vou [processar o estado de São Paulo], porque é um crime do estado. Eu já estou trabalhando com todos os documentos justamente para isso. Júlio César Acosta Navarro
Marco Aurélio, de 22 anos, foi baleado no abdômen por um agente militar durante uma tentativa de abordagem na Vila Mariana, zona sul da capital paulista. O estudante do 5º ano de medicina da Universidade Anhembi Morumbi foi levado ao Hospital Ipiranga e passou por uma cirurgia, mas não resistiu e morreu.
Após 14 dias, ainda com a dor da perda do meu filho, eu já chorei, velei, eu renunciei aos meus cargos de empresariado científico e estou dedicado a ir atrás da memória [do meu filho] e da Justiça dos homens, não somente contra esse policial, mas os seus cúmplices. Júlio César Acosta Navarro
O professor também criticou a demora nas investigações. "São dias dessa perda trágica, dessa ação covarde e um esquema de cumplicidade que rolou ao longo dos dias, até agora. É uma coisa que continua. Nesses dias, é uma luta como fosse 'um Davi contra um Golias'. Uma série de coisas, [como a falta de imagens das] câmeras. Não entregam as câmeras. São 14 dias. Passaram [o caso] para outro delegado e, assim, vai uma espécie de enrolamento."
O que aconteceu no dia
Segundo o registro policial, ao qual o jornal Folha de S.Paulo teve acesso, uma equipe da PM realizava patrulhamento de rotina na região da Vila Mariana, quando, por volta das 2h, foi acionada para atender uma ocorrência envolvendo o estudante.
O jovem parecia agressivo e teria dado um tapa no retrovisor da viatura policial, quando os PMs tentaram contê-lo. O estudante, diz o registro, saiu correndo e entrou em um hotel próximo. No local, houve confronto. O rapaz derrubou um dos policiais e foi que outro PM teria disparado contra Marco Aurélio. O tiro acertou no abdômen da vítima.
Ele foi levado ao hospital, mas não resistiu aos ferimentos e morreu.
Mortes em ações policiais aumenta
A PM matou 474 pessoas durante ações policiais no estado de São Paulo de janeiro a setembro deste ano. Os dados foram contabilizados pela própria Secretaria de Segurança.
A maioria dos alvos (64%) é formada por pessoas negras (255 pardos e 51 pretos). Ainda há 143 vítimas identificadas como brancas, enquanto as outras 25 pessoas não tiveram a cor da pele registrada.
O levantamento feito pelo UOL mostra ainda que 99% das vítimas são homens, como o estudante Marco Aurélio Cardenas Acosta. A capital paulista lidera a lista de mortos com 122 casos, seguida de Santos, com 36, e São Vicente, 29.
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