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SP legitimou e naturalizou comportamento violento de policiais, diz ouvidor

do UOL

Do UOL, em São Paulo

03/12/2024 13h16

O estado de São Paulo legitimou e naturalizou o comportamento violento praticado por agentes policiais, conforme análise feita por Cláudio Aparecido da Silva, ouvidor das polícias paulistas, no UOL News, do Canal UOL, nesta terça-feira (3).

Nós denunciamos isso há muito tempo. São Paulo legitimou, São Paulo naturalizou o comportamento da tropa. Cláudio Aparecido da Silva

Dois casos ganharam repercussão apenas nas últimas 48 horas: no domingo (1º), Gabriel Renan da Silva Soares, sobrinho do rapper Eduardo Taddeo, foi morto por um policial militar que estava de folga em frente ao mercado Oxxo, no Jardim Prudência, zona sul da capital paulista. No mesmo dia, outro agente foi gravado em vídeo arremessando um homem de uma ponte em uma abordagem, em Diadema, na Grande São Paulo. Neste caso, a vítima sobreviveu.

Eu, sinceramente, tenho pouca expectativa em relação à mudança nesse estado de coisas que estamos vivendo em São Paulo. A nossa segurança pública foi sequestrada por algo que não atende aos anseios da população e nem da própria tropa, e muito menos a resposta a questões relacionadas à criminalidade no estado de São Paulo.

O que a gente precisa, neste momento, é a mudança de comportamento do sistema de segurança pública em São Paulo. O secretário dizer que os policiais [denunciados em casos de violência] agiram como 'antiprofissionais', depois de ele criar uma ouvidoria chapa-branca. Cláudio Aparecido da Silva

O ouvidor também afirmou que, para se abrir uma investigação sobre violência policial, é preciso que o corregedor peça permissão para o subcomandante-geral.

Para você ver o tanto que isso está dilapidado. O telefone 24 horas que a gente tinha do oficial de permanência da Corregedoria da Polícia Militar foi mudado, a ouvidoria sequer tem esse telefone. O Corregedor da Polícia Militar bloqueou o ouvidor da polícia no WhatsApp. Cláudio Aparecido da Silva

A Ouvidoria de Polícia foi criada para ouvir, encaminhar e acompanhar denúncias, reclamações, elogios e representações da população referentes a ações policiais. Já a Corregedoria é responsável por garantir a legalidade e a moralidade dos atos praticados pelos policiais militares.

Questionado sobre os dois casos citados, o ouvidor respondeu. "[O policial que atirou nas costas do rapaz] já tem três mortes na carreira dele e nós estamos pedindo o afastamento imediato dele das ruas e também o desarmamento dele. Esse policial não pode andar armado, ele não tem condição. Não tem qualquer equilíbrio para andar armado porque ele coloca em risco a vida das outras pessoas, dos outros cidadãos. O caso do rapaz que foi lançado de um viaduto para dentro de um córrego é mais um capítulo grave."

Secretário repreende casos de violência

Os crimes que acabaram na morte de homem negro e com homem sendo jogado de ponte foram chamados de "condutas antiprofissionais" pelo secretário. "Policial não atira pelas costas em um furto sem ameaça à vida e não arremessa ninguém pelo muro", afirmou Guilherme Derrite, secretário de Segurança Pública de São Paulo, em publicação na rede social X nesta terça (3).

Derrite também mencionou "severa punição" ao falar que encaminhou PMs envolvidos em ação para trabalho administrativo. Em vídeo publicado nas redes, ele afirmou que os PMs envolvidos em um caso de um homem arremessado de uma ponte em Carapicuíba vão cumprir expediente na corregedoria até o fim das investigações.

Mortes em ações policiais aumenta

A PM matou 474 pessoas durante ações policiais no estado de São Paulo de janeiro a setembro deste ano. Os dados foram contabilizados pela própria Secretaria de Segurança.

A maioria dos alvos (64%) é formada por pessoas negras (255 pardos e 51 pretos). Ainda há 143 vítimas identificadas como brancas, enquanto as outras 25 pessoas não tiveram a cor da pele registrada.

O levantamento feito pelo UOL mostra ainda que 99% das vítimas são homens, como o estudante Marco Aurélio Cardenas Acosta. A capital paulista lidera a lista de mortos com 122 casos, seguida de Santos, com 36, e São Vicente, 29.

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