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PIB dá surra na teoria de que dívida pública alta inibe investimento

do UOL

Colunista do UOL

03/12/2024 14h08

A economia brasileira continuou surpreendendo os economistas também agora no terceiro trimestre de 2024. O crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), em relação ao segundo trimestre foi de 0,9%, acima das projeções, que variavam de 0,6% a 0,8%, para o período. Os resultados do PIB, entre julho e setembro, foram divulgados nesta terça-feira (3) pelo IBGE.

É uma alta forte, de 4%, quando se compara com o resultado do terceiro trimestre de 2023. Mas mostra uma desaceleração no ritmo de crescimento, na comparação com os trimestres anteriores de 2024. A economia avançou 1,1%, nos primeiros três meses do ano, depois de crescer 1,4%, no período abril a junho.

Menor ritmo de crescimento

Quando se anualizam essas taxas de crescimento trimestral, tem-se uma ideia melhor da redução no ritmo de expansão econômica. Se o crescimento deste terceiro trimestre se repetisse por outros três trimestres, a taxa anualizada de expansão do PIB seria de 3,7%, ao passo que a do segundo trimestre, em igual tipo de cálculo, avançou 5,7%.

Mesmo assim, a tendência é de que o crescimento da economia em 2024 avance das atuais projeções de alta de 3,2% sobre a base de 2023 para 3,5%. Está prevista, inclusive pelo governo, nova desaceleração no quarto trimestre. Mas o carregamento estatístico da expansão do terceiro trimestre para o ano fechado já garante crescimento de 3%, ainda que não ocorra expansão alguma no quarto trimestre.

Caso a economia cresça 3,5% em 2024, os dois primeiros anos do terceiro mandato de Lula acumularão alta do PIB de 6,9%. É mais do que o mercado, de acordo com o Boletim Focus, do Banco Central, esperava, no início de 2023, para todos os quatros anos do governo. Naquele momento, as projeções do mercado financeiro sinalizavam que a economia não acumularia, nos quatro anos de Lula, crescimento acima de 6,3%.

Dos países que já divulgaram o desempenho de suas economias no terceiro trimestre, o Brasil aparece em quarto lugar entre os de maior crescimento. Só perde para Indonésia (mais 1,5%), Índia (mais 1,3%) e México (mais 1,1%), empatando com a China.

Erros de projeção

O economista Ricardo Barboza, pesquisador associado do Ibre-FGV (Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas) lembra que as projeções para o desempenho da economia em 2024 têm falhado, sistematicamente, desde o primeiro trimestre.

"Previa-se expansão de 0,7% no primeiro trimestre, e deu 1,1%. Projetou-se 0,9% para o segundo trimestre, e a atividade avançou 1,4%. Agora, no terceiro trimestre, estimou-se variação de 0,8% e foi de 0,9%". Ricardo Barboza, pesquisador Ibre-FGV.

Para Barboza, os erros de projeção podem estar indicando que os analistas têm subestimado os impactos do multiplicador fiscal ao mesmo tempo em superestimam os efeitos da política monetária. "A economia está vivendo um ciclo de expansão fiscal expansionista", resume o economista, constatando que, mesmo com uma política monetária restritiva, a atividade cresce com o impulso trazido pelos gastos públicos.

Recorde na ocupação

Prova disso pode ser encontrada na expansão firme do investimento neste ano. Apesar das altas na taxa básica de juros (taxa Selic), a partir de setembro, e, principalmente, das projeções de aceleração e extensão do ciclo de alta dos juros básicos, a formação bruta de capital fixo, vem crescendo em marcha constante há um ano.

Observa-se desaceleração no investimento depois da alta de 4,5% sobre o trimestre anterior, no primeiro trimestre de 2024, mas o avanço tem ficado, trimestre a trimestre, acima de 2%. Em relação ao mesmo terceiro trimestre de 2023, a expansão chegou quase a 11%, fazendo com que esteja garantido um crescimento de pelo menos 7% para conjunto de 2024.

Esse movimento é produzido, segundo Ricardo Barboza, pela ocupação mais acelerada da capacidade ociosa. Refletindo aquecimento da atividade, a ocupação da capacidade instalada bateu, neste terceiro trimestre, um recorde de 13 anos. Isso se refletiu na expansão da indústria, destaque do PIB no terceiro trimestre pelo lado da oferta, com alta de 1,3%, contra o segundo trimestre, e de 4,2% sobre o mesmo período do ano passado.

Importações e consumo

Outro indicador do avanço do investimento pode ser encontrado na expansão das importações, que se tem concentrado em máquinas e equipamentos. Apesar da desaceleração em relação ao segundo trimestre, em parte pelo início da escalada da cotação do dólar, quando avançou 7,3% sobre os primeiros três meses do ano, para expansão de apenas 1%, no terceiro trimestre, as importações fecharão 2024 com crescimento de pelo menos 13% sobre 2023.

A taxa de investimento, que mede a relação entre a formação bruta de capital fixo e o PIB, subiu, no terceiro trimestre, para 17,6%, um ponto percentual a mais sobre o resultado do segundo trimestre. Mas ainda é insuficiente para garantir expansão mais consistente e prolongada da economia, o que exigiria volume equivalente a pelo menos 20% do PIB.

O fato é que a radiografia do desempenho do PIB no terceiro trimestre contradiz a teoria segundo a qual o impulso fiscal positivo, ao pressionar a dívida pública, produz aversão ao investimento. Na verdade, dependendo da situação, o investimento sobe quando a economia cresce, sem tanta preocupação com a relação entre a dívida pública e o PIB.

Isso é ainda mais verdadeiro quando o consumo das famílias está em alta, como é o caso da economia brasileira, neste momento. Com avanço de 5,5% sobre o terceiro trimestre de 2023, e 1,5%, no terceiro trimestre em relação ao segundo, o consumo deve avançar mais de 5,5% em 2024 sobre 2023.

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