Parlamentares franceses se preparam para mais turbulência com voto de desconfiança se aproximando
Por Sudip Kar-Gupta e Elizabeth Pineau
PARIS (Reuters) - Parlamentares franceses votarão na quarta-feira moções de desconfiança que certamente derrubarão a frágil coalizão de Michel Barnier, aprofundando a crise política na segunda maior economia da zona do euro.
A menos que haja uma surpresa de última hora, o governo de Barnier será o primeiro governo francês a ser forçado a sair por um voto de desconfiança em mais de 60 anos, em um momento em que o país está sofrendo para controlar um enorme déficit orçamentário.
O debate está previsto para começar às 12h (horário de Brasília), com a votação prevista para cerca de três horas depois, segundo autoridades do Parlamento. O presidente Emmanuel Macron deve retornar à França de uma visita de Estado à Arábia Saudita durante o dia.
O colapso do governo deixaria um buraco no coração da Europa, com a Alemanha também em período eleitoral, semanas antes da reentrada do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, na Casa Branca.
"Se o governo for censurado, isso colocará a França e os franceses em uma situação insuportável", disse o ministro do Interior, Bruno Retailleau, acrescentando que os que apoiam a moção de desconfiança estão jogando roleta russa com seu futuro.
Em uma entrevista no horário nobre da TV na noite desta terça-feira, Barnier disse que continuava aberto a negociações orçamentárias com o Reunião Nacional de extrema-direita de Marine Le Pen e outros partidos, e expressou esperança de que poderia sobreviver ao voto de desconfiança.
“Depende dos deputados que têm uma parcela de responsabilidade perante os franceses, perante os eleitores e também perante a França, que está em um momento bastante sério”, disse ele.
Barnier advertiu que havia “muita tensão... muitos sentimentos de injustiça, muitos sentimentos de raiva” no ar. “Devemos ser cuidadosos.”
Ele rejeitou, no entanto, a ideia expressa por alguns membros de seu próprio partido de centro-direita, de que Macron deveria renunciar para desbloquear a crise, chamando o presidente de “um dos garantidores da estabilidade de nosso país”.
Macron, em uma visita à Arábia Saudita, foi questionado sobre as crescentes especulações de que ele poderia não concluir seu mandato.
“Honrarei essa confiança com toda a minha energia até o último segundo”, disse ele, segundo a mídia francesa. Seu mandato vai até meados de 2027 e ele não pode ser forçado a sair pelo Parlamento.
O ministro do Orçamento, Laurent Saint-Martin, disse que derrubar o governo e seus planos orçamentários significaria um déficit maior e mais instabilidade.
O premium de risco que os investidores exigem para manter títulos da dívida do governo francês em vez dos títulos alemães estava próximo de seu nível mais alto em mais de 12 anos nesta terça-feira.
Após semanas de tensão, a crise política chegou ao ápice quando Barnier, primeiro-ministro há apenas três meses, disse que tentaria fazer com que a parte do Orçamento referente à seguridade social fosse aprovada no Parlamento sem votação, depois de não conseguir o apoio do Reunião Nacional.
O entorno de Barnier e o grupo de Le Pen, que vinha sustentando a coalizão minoritária, culparam um ao outro e disseram que haviam feito tudo o que podiam para chegar a um acordo sobre o Orçamento.
"Censurar o Orçamento é para nós a única maneira que a Constituição nos dá para proteger os franceses", disse Le Pen aos repórteres ao chegar ao Parlamento.
A esquerda e a extrema-direita juntas têm votos suficientes para derrubar Barnier, e Le Pen confirmou que seu partido votaria em um projeto de lei de desconfiança de uma aliança de esquerda. A moção de desconfiança do próprio RN não teria o apoio de um número suficiente de parlamentares.
(Reportagem adicional de Nicolas Delame, Dominique Vidalon)