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Marco Guimarães revisita mistérios do Quartier Latin em Paris no 3° livro traduzido para o francês

03/12/2024 13h21

O escritor carioca Marco Guimarães é autor de 12 romances, alguns deles traduzidos e publicados não só no Brasil, mas em países como Angola, Croácia, Itália e França. Radicado em Paris, ele acaba de lançar o terceiro livro publicado em francês, L'étrange miroir du Quartier Latin (O estranho espelho do Quartier Latin, em tradução livre), que sobrevoa um universo anteriormente já abordado pelo autor: o antigo bairro do Quartier Latin, povoado desde a Idade Média por "fantasmas", "mitos" e "espelhos".

O escritor carioca Marco Guimarães é autor de 12 romances, alguns deles traduzidos e publicados não só no Brasil, mas em países como Angola, Croácia, Itália e França. Radicado em Paris, ele acaba de lançar o terceiro livro publicado em francês, L'étrange miroir du Quartier Latin (O estranho espelho do Quartier Latin, em tradução livre), que sobrevoa um universo anteriormente já abordado pelo autor: o antigo bairro do Quartier Latin, povoado desde a Idade Média por "fantasmas", "mitos" e "espelhos".

Em seus Diários, o escritor argentino Ricardo Piglia costumava dizer que o lugar de onde se escreve determina de alguma forma a escrita. Mas, para o escritor carioca Marco Guimarães, o processo é um pouco mais complexo que uma referência ou transposição geográfica. "De qualquer forma, não é bem isso", diz o autor, radicado há 14 anos na capital francesa. "Nós precisamos pensar o seguinte: há uma ativação inconsciente de uma imagem arquetípica que modula e transforma nossa obra. Acredito que isso está ligado a um inconsciente coletivo que acabamos acessando", afirma.

"Trabalhei bastante sobre isso, talvez haja uma relação entre esse inconsciente coletivo, essas imagens arquetípicas e minha escolha por Paris. Essa escolha, talvez, esteja ancorada em simbolismos presentes na vivência na cidade e na própria história dela. Acho que isso pode fazer sentido", admite. "

O universo dos escritores latino-americanos que ocasionalmente escreveram em Paris ou sobre Paris, como outro argentino, Julio Cortázar, autor do monumental O Jogo da Amarelinha, clássico da literatura mundial escrito na capital francesa, é extenso. Cortázar costumava dizer que "Paris é uma imensa metáfora" e que "caminhar por Paris significa avançar até mim". "Para mim, esse conceito vai ainda mais longe", afirma Guimarães. "A linguagem da literatura é, essencialmente, metafórica. E a mesma metáfora que usamos para escrever é também usada pelo leitor para interpretar o texto", argumenta.

Os "mistérios" do Quartier Latin

Mas se o argentino Cortázar fala sobre "constelações mentais e sentimentais" em suas flâneries pela capital francesa, Guimarães traz o leitor de volta em seu novo livro ao velho bairro do Quartier Latin, na rive gauche de Paris, bairro que começou a ser densamente povoado ainda no século 13, na época medieval, um lugar cheio de "fantasmas" e "espelhos".

"O Quartier Latin é conhecido como o bairro das 'sorcières', das bruxas, há até histórias e livros publicados sobre isso. Acho que o local tem uma espécie de magia. Pude sentir isso quando cheguei a Paris há 14 anos. Fui muito bem recebido pela comunidade da Rue Mouffetard, onde morei por muito tempo", conta o escritor. 

"É também uma das áreas mais antigas, porque, na época romana, era um dos caminhos que levavam a Roma. Tudo isso me faz voltar ao tema do inconsciente coletivo e das imagens arquetípicas. A Rue Mouffetard, com seus mistérios e simbolismos, sem dúvida, faz parte da minha trajetória literária", descreve o autor.  

"Esse livro aborda a história de um suicídio que ocorre em Paris", relata Guimarães. "É difícil classificá-lo em um gênero específico. Ele se insere no realismo fantástico, mas também apresenta elementos do polar [romance policial]. No entanto, não é um policial clássico, porque, nesse gênero tradicional, a narrativa é geralmente muito centrada em um detetive ou policial que investiga e resolve um crime. Não é o caso aqui", avalia.  

A morte como referência literária

"Esse livro, como muitos outros da minha trajetória literária, traz a morte como um elemento recorrente. A morte está sempre presente. Isso é algo que aparece ao longo de várias obras, e não é diferente nesta. Mas, além disso, você vai notar referências literárias, como O Retrato de Dorian Gray, de [Oscar] Wilde, Madame Bovary, de [Gustave] Flaubert, Os Sofrimentos do Jovem Werther, de [Johann Wolfgang von] Goethe, ou A Morte de Ivan Ilitch, de [Liev] Tolstói", diz.  

"A morte é um tema universal, presente na literatura de forma marcante. É curioso, porque a ficção, ao mesmo tempo em que nos dá vida, também carrega essa força simbólica da morte", afirma Marco Guimarães.

O livro L'étrange mirroir du Quartier Latin, publicado pela Amazon Europa, se encontra disponível em distribuição pela internet.

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