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Escalada do conflito na Síria abala EUA, mas oferece oportunidade a Trump

03/12/2024 10h03

O recrudescimento surpreendente da guerra civil na Síria sacudiu o foco de interesse internacional dos Estados Unidos, que já tentaram virar a página desse conflito devastador no qual obteve poucos resultados. 

A turbulência mais recente em uma região mergulhada no caos acontece a menos de dois meses da posse de Donald Trump, cuja equipe pode ver uma oportunidade inesperada como parte de sua aposta para reconfigurar o Oriente Médio, ainda que com muitos pontos a serem esclarecidos. 

A ofensiva relâmpago dos rebeldes islamistas, que se apoderaram de Aleppo, a segunda maior cidade síria, ocorre depois que Israel, aliado dos Estados Unidos, se propôs enfraquecer o Irã e a milícia libanesa pró-iraniana Hezbollah, dois dos principais apoiadores do presidente sírio, Bashar al Assad.

Em uma região duramente afetada desde a eclosão da guerra em Gaza, a postura de Washington sobre a Síria mudou em uma década. Embora Assad tenha perdido credibilidade por sua crueldade, o governo dos Estados Unidos não prioriza tirá-lo do poder nem apoia os rebeldes. 

"A administração (do presidente Joe) Biden não só colocou a Síria em um segundo plano. Não está sequer nas discussões", considera Andrew Tabler, ex-conselheiro sobre a Síria durante o primeiro governo de Trump (2017-2021) e pesquisador principal no The Washington Institute. 

O especialista acredita que as derrotas no campo de batalha abrem a porta para uma solução negociada do conflito, uma possibilidade que Assad nega. 

"Acredito que uma administração nova, que preste mais atenção na Síria e em conflitos como esse, poderá geri-lo de maneira melhor", afirma o ex-assessor de Trump. "Só que ainda não sabemos como será isso". 

- No interesse dos EUA? -

O ex-presidente Barack Obama, que resistiu à pressão para atacar Assad durante seu mandato e se recusou a apoiar os rebeldes, optou por outra opção: aliar-se aos combatentes curdos com o objetivo de derrotar o grupo Estado Islâmico. Quase 900 soldados americanos permanecem na Síria.

Em seu primeiro governo, Trump, com sua abordagem impulsiva característica, ordenou a retirada das tropas a pedido da Turquia, que apoia os rebeldes e compara as forças curdas sírias a milicianos locais.

Posteriormente, ele voltou atrás após apelos internacionais liderados pela França.

Provocando outras dúvidas, uma das escolhas de Trump para cargos importantes em seu futuro governo, a diretora designada de Inteligência Tulsi Gabbard, causou alvoroço com uma série de declarações pró-Assad.

Joshua Landis, especialista em Síria da Universidade de Oklahoma, acredita que o principal interesse dos formuladores de políticas dos Estados Unidos é "apoiar Israel e prejudicar o Irã e a Rússia".

"Portanto, o ataque dos rebeldes é muito bom para os Estados Unidos, desse ponto de vista, porque muda drasticamente a arquitetura de segurança no Oriente Médio", disse.

Uma vitória rebelde romperia o chamado Crescente Xiita, uma região onde o Estado clerical iraniano estendeu sua influência para o oeste, chegando ao Líbano.

"Seria uma grande oportunidade para Israel e um grande golpe para o Irã", disse o especialista.

- Nova crise humanitária? -

Apesar das críticas por sua inação, o governo Biden destinou mais de 1 bilhão de dólares no ano passado em ajuda humanitária para os sírios deslocados.

De acordo com uma lei de sanções que expira este mês, os Estados Unidos se opõem à reconstrução que envolva Assad sem responsabilidade pela guerra, que matou mais de meio milhão de pessoas e deslocou outros milhões desde 2011.

No entanto, um número crescente de países árabes se reconciliou com Assad, acreditando que a guerra havia terminado ou, pelo menos, congelado.

Recentemente, vários países ocidentais, principalmente a Itália, romperam com uma medida dos Estados Unidos e enviaram novamente seus embaixadores a Damasco, buscando estabilidade na esperança de evitar outra crise migratória semelhante à que abalou a política europeia há uma década.

O recrudescimento dos combates já provocou o deslocamento de quase 50.000 pessoas, de acordo com a ONU, e levará a um aumento das necessidades humanitárias com o início do inverno, disse Mona Yacoubian, vice-presidente do Centro para o Oriente Médio e Norte da África do Instituto da Paz dos EUA.

"Isso levanta uma grande questão: para onde vão as pessoas que estão se deslocando?", alertou ela. "Com essas mudanças na dinâmica do poder, será que isso abre a porta para uma redefinição da região e de sua estrutura de segurança? Acho que essa é uma questão importante e muito aberta.

sct/jgc/arm/dga/dd/fp 

© Agence France-Presse

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