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Bolsonaro já tinha plano de golpe e fuga em março de 2021, diz PF

O ex-presidente Jair Bolsonaro no aeroporto de Brasília  - Adriano Machado - 25.nov.24/Reuters
O ex-presidente Jair Bolsonaro no aeroporto de Brasília Imagem: Adriano Machado - 25.nov.24/Reuters
do UOL

Do UOL, em São Paulo

03/12/2024 10h51Atualizada em 03/12/2024 13h57

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) já contava com um plano de golpe e fuga 19 meses antes da eleição presidencial de 2022, diz relatório da Polícia Federal que indiciou Bolsonaro e mais 36 pessoas.

O que aconteceu

PF diz que plano de golpe elaborado em 22 março de 2021 estava em computador de Mauro Cid. O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que fez acordo de delação, tinha apresentação em slides com planejamento para militares ocuparem "estruturas estratégicas" a fim de inibir a ação do Poder Judiciário, segundo o relatório da polícia.

Os slides encontrados no laptop de Cid previam três cenários que avançariam para a ruptura democrática, segundo a PF. De acordo com o relatório, o plano previa que Bolsonaro desrespeitaria decisões judiciais se:

  1. houvesse intervenção do STF no Executivo;
  2. a chapa de Bolsonaro à reeleição fosse cassada;
  3. o Supremo ou o TSE vetasse o voto impresso, caso a medida fosse aprovada pelo Congresso. O projeto, no entanto, foi derrotado na Câmara dos Deputados meses depois e não chegou ao Senado.

Para intimidar a Justiça, o plano previa a ocupação militar de "estruturas estratégicas", afirma a PF. Segundo a investigação, tratava-se de "instalações, serviços, bens e sistemas que, se forem interrompidos ou destruídos, provocarão sério impacto social, ambiental, econômico, político, internacional ou à segurança do Estado e da sociedade. O mesmo que infraestrutura crítica".

Um dos objetivos era a ocupação de estruturas estratégicas por militares que tivessem aderido ao intento golpista, para mostrar apoio ao então presidente Jair Bolsonaro e, com isso, possivelmente, inibir qualquer ação do Estado decretada pelo Poder Judiciário.
Relatório da Polícia Federal

Plano previa ainda a proteção de Bolsonaro por militares apoiadores do golpe, diz a PF. A ideia era assegurar sua segurança tanto no Palácio do Planalto, de onde ele despachava, como no Alvorada, residência oficial do presidente. Essa proteção ocorreria se as ações de Bolsonaro não contassem com o apoio do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), um órgão do governo que auxilia o presidente em assuntos de segurança.

Para os investigadores, os slides reforçam a participação das Forças Especiais do Exército. O grupo militar, conhecido como "kids pretos", atua em operações de alto risco que precisam de planejamento cuidadoso e execução perfeita. O documento é composto por cinco slides com telas que incluem os logotipos do COpEsp (Comando de Operações Especiais do Exército), "fato que reitera o uso de técnicas de forças especiais do Exército no interesse da organização criminosa", segundo o relatório policial.

PF aponta que o documento também antecipava o plano de fuga de Bolsonaro se a trama falhasse. "Os militares golpistas criariam uma rede de auxílio para acolher o ex-presidente e conduzi-lo para fora do território nacional", segundo a PF.

Se evidencia a utilização de técnicas militares pelos investigados contra o próprio Estado brasileiro com o objetivo de garantir a fuga de Jair Bolsonaro caso a tentativa de golpe de Estado fosse frustrada.
Relatório da Polícia Federal

A assessoria de Bolsonaro afirmou que ele não se manifestará. O advogado do presidente no caso não respondeu até a publicação desta reportagem. Após seu indiciamento, o ex-presidente negou ter liderado a trama de um golpe de Estado, como afirma a PF, e em entrevista ao UOL se disse vítima de perseguição. A defesa de Cid não se manifestou.

O plano de Bolsonaro e o 7 de setembro

o ex-presidente Jair bolsonaro fala com repórteres no aeroporto de brasilia - TON MOLINA - 25.NOV.24/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO - TON MOLINA - 25.NOV.24/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
O ex-presidente Jair Bolsonaro fala com repórteres no aeroporto de Brasília após indiciamento pela PF
Imagem: TON MOLINA - 25.NOV.24/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

Para a PF, a ideia dos golpistas era usar o 7 de Setembro de 2021 para criar conflito com o Judiciário. "Os elementos de prova demonstram que os investigados planejaram o cenário de enfrentamento de Jair Bolsonaro com o Poder Judiciário, que levaria a uma ruptura institucional", diz o relatório da investigação. "Tal fato ocorreu de forma mais incisiva no dia 7 de setembro de 2021."

Naquela data, Bolsonaro ameaçou o STF e seus ministros. Em discurso na avenida Paulista, em São Paulo, o ex-presidente chamou o ministro Alexandre de Moraes (STF) de canalha, disse que não cumpriria suas decisões e exigiu sua renúncia.

Bolsonaro também insinuou intervenção no STF em 2021. "Ou o [então] chefe desse Poder [Luiz Fux] enquadra o seu, ou esse Poder pode sofrer aquilo que nós não queremos", afirmou antes de dizer que não participaria da "farsa" de uma eleição sem o voto impresso.

O ex-presidente anunciou no 7 de Setembro reunião do Conselho da República. O órgão tem entre suas funções convocar estado de defesa ou de sítio. O encontro, no entanto, não aconteceu oficialmente.

Manifestações em São Paulo e em Brasília haviam sido convocadas com semanas de antecedência. O cantor e ex-deputado Sérgio Reis chegou a incitar a invasão do STF, enquanto o caminhoneiro Zé Trovão, hoje deputado federal pelo PL de Santa Catarina, convocou bolsonaristas para "atos criminosos e violentos de protesto", segundo o STF.

Na véspera do 7 de Setembro de 2021, o cordão de isolamento da Esplanada dos Ministérios foi derrubado por bolsonaristas. Após a invasão da área, o Supremo foi cercado por caminhões e manifestantes.

Diante da repercussão negativa, Bolsonaro recuou das ameaças. Em 9 de setembro, ele divulgou uma carta redigida pelo ex-presidente Michel Temer (MDB) em que dizia não ter tido "intenção de agredir" os Poderes.

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