Governo francês corre risco de colapso, com moções de desconfiança da esquerda e da extrema-direita
Por Elizabeth Pineau e Ingrid Melander
PARIS (Reuters) - É praticamente certo um colpaso do governo francês no final desta semana, após partidos de extrema-direita e de esquerda apresentarem moções de desconfiança nesta segunda-feira contra o primeiro-ministro, Michel Barnier.
Investidores imediatamente puniram ativos franceses, com os últimos acontecimentos mergulhando a segunda maior economia da zona do euro em uma crise política ainda maior e sérias dúvidas sobre a aprovação do orçamento anual.
"Os franceses estão fartos", disse a jornalistas a líder do Reagrupamento Nacional (RN), Marine Le Pen, afirmando que Barnier, que se tornou primeiro-ministro apenas no início de setembro, havia piorado as coisas e precisava ser afastado.
"Estamos propondo uma moção de desconfiança contra o governo", disse.
A menos que haja uma surpresa de última hora, a frágil coalizão de Barnier será o primeiro governo francês a ser forçado a sair por um voto de desconfiança desde 1962.
Um colapso do governo deixaria um buraco no coração da Europa, com a Alemanha também em período eleitoral, e semanas antes da reentrada do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, na Casa Branca.
Os parlamentares do RN e a esquerda juntos têm votos suficientes para derrubar Barnier, e Le Pen confirmou que seu partido votará a favor da proposta de desconfiança da coalizão de esquerda, além da oferecida pela RN. É provável que a votação seja realizada na próxima quarta-feira.
Os partidos anunciaram suas moções de desconfiança após Barnier dizer, nesta segunda-feira, que tentaria aprovar um projeto de lei de seguridade social no Parlamento sem uma votação, quando uma concessão de última hora se mostrou insuficiente para obter o apoio do RN.
"Diante dessa enésima negação da democracia, censuraremos o governo", afirmou Mathilde Panot, da organização de esquerda França Insubmissa.
"Estamos vivendo um caos político por causa do governo de Michel Barnier e da presidência de Emmanuel Macron."
O spread entre os títulos franceses e o benchmark alemão aumentou ainda mais, e a liquidação do euro ganhou ritmo.
Desde que Macron convocou eleições antecipadas no início de junho, o CAC 40 da França caiu quase 10% e é a maior queda entre as principais economias da UE. Ele fechou estável nesta segunda-feira, depois de cair mais de 1% no início do dia.
ATRIBUINDO CULPA
Barnier pediu aos parlamentares que não apoiem o voto de desconfiança.
"Chegamos à hora da verdade... os franceses não nos perdoarão por colocarmos os interesses dos indivíduos acima do futuro do país", disse, com o destino de seu governo nas mãos do Parlamento fragmentado, resultado de uma eleição inconclusiva convocada por Macron em junho.
O governo minoritário de Barnier contava com o apoio do RN para sua sobrevivência. O projeto de lei orçamentária, que busca controlar o crescente déficit público da França por meio de 60 bilhões de euros em aumentos de impostos e cortes de gastos, rompeu esse tênue vínculo.
A comitiva de Barnier e o grupo de Le Pen culparam um ao outro e disseram terem feito tudo o que podiam para chegar a um acordo e que estavam abertos ao diálogo.
(Reportagem adicional de Michel Rose, Dominique Vidalon, Sudip Kar-Gupta, Benoit Van Overstraeten, Tassilo Hummel, Leigh Thomas)