Às vésperas de deixar o cargo, Biden desembarca em Angola para primeira viagem oficial à África
O presidente norte-americano, Joe Biden, inicia, nesta segunda-feira (2), uma visita de três dias a Angola, cumprindo a promessa de visitar a África antes do final do seu mandato. O chefe da Casa Branca pretende mostrar que existe alternativa à China no continente africano.
Esta será provavelmente a última visita do presidente ao exterior antes de deixar a Casa Branca. E a escolha de Angola não é um acaso: os Estados Unidos financiam a reabilitação do corredor do Lobito, que liga a costa angolana à República Democrática do Congo (RDC), um projeto ao mesmo tempo faraônico e estratégico no país africano.
A visita era planejada para 2023, mas o calendário político americano e internacional impediu Biden de realizá-la. Novamente, em outubro passado, os furacões que atingiram os Estados Unidos obrigaram o chefe de estado a adiá-la uma vez mais. Finalmente, ele realiza sua única visita ao continente nas últimas semanas de seu mandato.
Após anos difíceis, as relações entre os Estados Unidos e Angola melhoraram significativamente desde que João Lourenço chegou ao poder no país africano. O presidente angolano foi recebido em Washington há um ano e Angola tornou-se um importante parceiro dos Estados Unidos. Washington também continua a elogiar o papel de Luanda nos esforços de estabilização no leste da RDC.
Para ligar o território congolês - e os seus importantes recursos minerais - de trem à costa atlântica de Angola, através da Zâmbia, os Estados Unidos estão investindo maciçamente no projeto ferroviário do corredor do Lobito. Realizado e financiado em conjunto com a União Europeia e parceiros privados, a via ferroviária é uma iniciativa importante e de grande escala para os americanos, do "tipo que só acontece uma vez em uma geração", de acordo com Washington.
A primeira fase já foi concluída, com a reabilitação de um trecho de 1.300 km entre a cidade de Lobito, na costa angolana, e a fronteira congolesa. Agora resta reabilitar a parte congolesa, que vai até a cidade mineira de Kolwezi. A segunda fase prevê a construção de um novo trecho de 800 quilômetros, atualmente inexistente, para ligar a Zâmbia a Lobito. Os estudos de viabilidade do projeto acabam de ser concluídos e, em sua visita, Biden deve fazer novos anúncios sobre o assunto.
Mas o projeto não deve parar por aí e prevê a construção de inúmeras infraestruturas que permitam a ligação com redes rodoviárias, o desenvolvimento de sistemas de telefonia celular e de infraestruturas de energias renováveis.
Alternativas às Rotas da Seda chinesas
O projeto de parceria público-privada entre Estados Unidos e Angola é sem precedentes e avança rapidamente. Os americanos pretendem mostrar que este modelo funciona e que pode ser duplicado, afirma a Casa Branca. Para o pesquisador Thierry Vircoulon, não há dúvidas de que se trata de uma corrida pelo controle das rotas de exportação de reservas minerais críticas.
Na verdade, os Estados Unidos querem oferecer alternativas às Rotas da Seda chinesas. O projeto Lobito poderia ser ampliado até a costa leste através da Tanzânia, mas também são estudadas rotas através da Namíbia e da África do Sul. "Mais escolhas, mais opções significam que os Estados podem pedir mais e melhores investimentos. E a lei da concorrência", insistem as equipes de Biden.
"Esta viagem significa tudo ou nada. Significaria nada porque o presidente Joe Biden [...] está basicamente no final do mandato, já que em 20 de janeiro do próximo ano tomará posse o presidente eleito, Donald Trump. Portanto, neste caso, tudo quanto ele fizer ao longo dos três dias de visita ao nosso país, poderá ser descontinuado pelo presidente Donald Trump", disse Paulo Faria, Doutor em Política e Governo, e deputado do partido União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) à RFI.
Mas "poderá ser tudo se, efetivamente, esta relação de parceria entre Angola, o Estado angolano e, neste caso, os Estados Unidos não for pura e simplesmente uma lógica extrativa de recursos minerais, recursos naturais estratégicos, mas que também sirva para estabelecer rupturas sustentadas em valores", diz. "Quando eu falo de ruptura é os Estados Unidos estabelecerem um paradigma relacional sustentado, por exemplo, em seus valores liberais: a boa governança, o respeito pelos direitos humanos, o Estado democrático de Direito, e governos que surjam de um processo eleitoral transparente, inclusivo, e livre, não pela fraude eleitoral", completa.