Governo Bolsonaro pagou por viagens de engenheiro que questionou urnas
O governo Bolsonaro gastou R$ 7.687,94 em duas viagens consideradas 'urgentes' para o engenheiro Carlos Rocha, contratado pelo PL para questionar as urnas eletrônicas e fundamentar os ataques ao sistema eleitoral. Ele é um dos indiciados pela PF na investigação sobre o plano de golpe de Estado.
O que aconteceu
As viagens foram pagas pelo Ministério da Ciência e Tecnologia para que Rocha se reunisse com o então chefe da pasta, Marcos Pontes, em julho de 2021. A informação foi noticiada pelo portal g1 e confirmada pelo UOL no Portal da Transparência do governo federal.
Os encontros ocorreram em 26 e 30 de julho daquele ano, após o engenheiro sair de São Paulo para Brasília. As duas reuniões não constam na agenda oficial do então ministro. Na agenda do dia 30 consta, entre outras audiências, uma reunião com o então presidente Jair Bolsonaro.
O UOL procurou o atual senador Marcos Pontes (PL-SP) e tenta contato com o engenheiro. Se houver resposta, o texto será atualizado.
Em uma entrevista ao jornal O Globo, o ex-ministro confirmou que foi ele quem indicou Rocha ao presidente do PL, Valdemar Costa Neto. "Valdemar perguntou a mim, como ministro de Ciência e Tecnologia, se conhecia alguém que entendia da tecnologia das urnas. O profissional que eu sabia que tinha trabalhado com o desenvolvimento do equipamento era o engenheiro do ITA Carlos Rocha", afirmou.
Instituto Voto Legal
Carlos Rocha é presidente do Instituto Voto Legal. Em novembro de 2021, a entidade foi aberta para atuar no setor de "suporte técnico, manutenção e outros serviços em tecnologia da informação". A sede do instituto fica localizada em um apartamento no bairro de Jardim Santo Amaro, em São Paulo.
Em 2022, o PL contratou o Instituto Voto Legal para auditar a eleição. Segundo a sigla, a ideia era realizar a fiscalização de todas as fases da votação, apuração e totalização dos resultados da eleição.
No dia 19 de setembro do mesmo ano, Rocha enviou um "relatório de auditoria de conformidade do PL" ao TSE. O documento descreveu "um quadro de riscos elevados de quebra de segurança nos sistemas eleitorais".
O parecer apontou, sem nenhuma evidência, que as urnas eletrônicas podem ser fraudadas por servidores da corte eleitoral. A tentativa de colocar em dúvida a legitimidade da Justiça Eleitoral ocorreu quatro dias antes do primeiro turno das eleições.
Em novembro de 2022, após Lula (PT) ter sido eleito, o engenheiro, ao lado de Valdemar, apresentou uma "auditoria" sobre as urnas. Segundo ele, ao analisar os arquivos disponibilizados pelo TSE após a votação, a equipe constatou que os modelos de urna eletrônica antes de 2020 mostravam um número inválido, impossibilitando associar os registros de atividade ao equipamento da urna.
Carlos Rocha também afirma ser um dos criadores da urna eletrônica. Em 1996, ele entrou com um pedido de patente, mas a solicitação foi negada pelo Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial).